sexta-feira, 11 de junho de 2021

DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS... MARGARIDA PILOTO GARCIA

Agradecemos à autora MARGARIDA PILOTO GARCIA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - O que entrega de si, enquanto pessoa, na hora de escrever?

Eu diria que entrego tudo: alma, corpo, pele, sangue e suor. Costumo dizer que quem me quiser conhecer tem de sonhar-me a alma e embriagar a mente. Só depois apaixonadamente o tango é dançado. Porque a escrita é uma espécie de dança. O nosso par são as palavras que connosco se entrelaçam. E não é uma dança fácil. Verto na escrita tudo o que sou, mas tal como me escondo um pouco na vida real, também é necessário desvendar o que se esconde nas palavras. O mistério é um pouco parte de mim.

2 - Criar textos é uma necessidade ou um passatempo?

Criar sempre foi e será uma necessidade e isto desde que comecei a ler e a escrever. É algo primário e aditivo, compulsivo mesmo. Escrever tem o poder de catarse, mas preciso de o fazer quando algo me move e desperta. Não importa qual o gatilho que espoleta o poema, o texto, o conto. Mas ele existe e não apenas como algo lúdico, mas sim como o culminar de algo belo, ou sofrido.

3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

Para mim o cuidado linguístico é bastante importante. Nada pior que erros de toda a espécie e que em nada contribuem para a evolução literária. A espontaneidade tem obviamente o seu espaço, mas depois precisa de ser trabalhada, revista, purgada.

4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?

Neste momento, sem dúvida na poesia. Há muitos anos, quando ganhei um concurso literário de um jornal diário, fi-lo com um conto. Nesses primórdios sempre privilegiei a prosa. Durante o meu percurso na Faculdade de Direito, dediquei-me um pouco à poesia, mas sem lhe dar grande ênfase. Mais tarde, após um longo interregno, quando regressei à escrita, voltei de novo à prosa. No entanto, o meu tipo de escrita é um pouco poético, mesmo que se designe por prosa. A partir de uma certa altura, a poesia tornou-se dominante e é neste momento 90% da produção literária.

5 - Que mensagens existem naquilo que escreve?

Não faço propriamente escrita de mensagem, mas penso que escrevo essencialmente num universo feminino. E aí, há todo um universo intimista que se abre. Emoções, sentimentos, perda, justiça, etc, encontram muitas vezes palco nas minhas palavras. Continuamos a viver num universo onde é preciso lutar pela afirmação.

6 - Quais as suas referências literárias?

São extremamente vastas. Em primeiro lugar os clássicos, portugueses e estrangeiros. Acho uma base essencial para se ter uma cultura literária que nos permita voar mais alto. E aqui friso todos os géneros literários. Depois, percorrer várias épocas e países, até chegar aos dias de hoje. Seria fastidioso enumerar o universo de escritores e poetas que li e me marcaram.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras e autores?

Levar os livros até às livrarias e muito importante, às bibliotecas deste país. Depois, blogues, encontros literários, acontecimentos online e também procurar a cooperação das rádios e canais televisivos. Outra hipótese é também levar até às escolas a produção literária.

8 - O que concretizou e o que ainda quer alcançar no universo da escrita?

Até agora a minha produção é vasta embora dispersa. Sem dúvida que o ideal seria um livro onde reuniria aquilo que é o cerne do que escrevo. Há algumas propostas, mas é sempre um passo difícil a dar. Sou exigente, sobretudo no que a mim respeita.

9 - Porque participa em trabalhos coletivos?

Os trabalhos coletivos são por vezes o que me faz sair de um lugar de conforto onde me escondo. Foi através deles que regressei à escrita e reconheço o mérito de muitos. Tento, no entanto, ser cada vez mais seletiva nas minhas escolhas e participações.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Sem dúvida se teria parado de escrever há muitos anos. A resposta seria obviamente, não. Aliás, teria mudado de curso, de vida, e abraçado com toda as forças aquilo que a escrita me dá. A minha relação com ela é quase uma sinestesia que nunca vou poder negar.

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