domingo, 19 de julho de 2020

O último sorriso - LUÍSA CURRITO

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Não me recordo do dia, nem da hora, nem o local. Apenas recordo o teu rosto. Esguio.
Pálido. O teu brilho a rasgar o meu coração.
Teus olhos verdes cravados nos meus. O sorrir de um rosto revelando a inocência de quem o oferece. A gratidão de quem o recebe, manifestada por um abraço. Foram tantos os dias em que me senti só. Foram tantos os dias em que te sonhei. Viajei pelo mundo, a teu lado.
Fazias-me companhia nas minhas loucuras e devaneios. Caminhavas a meu lado amparando o meu corpo, débil e cansado. Eu sentia amor.
Tu, compaixão. Só queria estar a teu lado, porque me sentia viva. Ao teu olhar, o meu estômago borbulhava. Há muito que não me sentia assim. Borboletas voavam á minha volta.
O coração palpitava e grata me sentia. O aroma do campo, invadia o nosso olfato. O sol beijava a minha pele, nua e marcada pela vida.

O mar cantava para nós, a doce e suave melodia das ninfas de Neptuno. Tu beijavas a minha mão e repetias baixinho:
– Estou aqui, sempre estarei, não te irei deixar só. Foram os sonhos mais bonitos que tive enquanto estava acordada. Foram esses momentos, de prazer, que me ajudaram a superar a dor, o tormento de saber o fim que me esperava. Foi essa esperança, que dilatou o meu prazo neste mundo, pois sempre acreditei que o tempo nos desse tempo para escrevermos a nossa história. Mas não houve tempo. Não houve história. Saber-te feliz, fez-me feliz. O teu coração não cruzou o meu. As tuas borboletas voavam noutros campos. O teu mundo sonhava outras viagens. Tictac tictac... e o meu relógio parou. Apesar da saudade, parti em paz. Vivo em ti, da mesma forma que tu vives em mim. O teu olhar no horizonte cruza a linha do amor. Eu sou amor. Tu és vida. O teu fascínio pelo universo é fruto da minha essência. Somos almas gémeas separadas pelo tempo, e onde o tempo, não nos deu tempo, para com tempo amarmo-nos no tempo...

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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