LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Olhe Miguel, disse o Ti Reinaldo, os contos (estórias) que envolvem feiticeiras ou feitiçarias são, para as crianças, os mais adorados pelos mistérios que contêm e também porque constituem algum sentimento de medo de uma qualquer coisa que não dominam.
Esta história foi-me contada pelo Ti Madorna, que a tinha ouvido de outro grande conversador, que não conheci.
Naquela época - e ainda hoje, de certo modo - no final da missa domingueira, os homens ficavam pelo adro em conversas diversas.
Em alguns destes eventos, era figura de proa alguém que, sendo habitante de freguesia vizinha, era um regalo ouvi-lo não apenas nas histórias que contava, mas também nas análises críticas aos maus e bons costumes.
Então vamos à história contada na pessoa do sujeito passivo, que assim disse:
“Pois ficam sabendo, meus amigos, que as feiticeiras existem e são capazes de coisas extraordinárias. Eu não lhes tenho medo, mas muito respeito, porque as conheço bem. Vejo-as da minha janela quando elas se entretêm a fazer fooorrninhos, que lhes dá muito prazer. Mas quando fazem fffooorninhos não devemos estar à cata, nem maliciosamente as impedir. Pois bem, na semana passada, ainda não era meia noite, fui acordado porque me estavam a erguer da cama. Senti que me levavam pelo ar, sentindo uns ventinhos nos queixos. A lua estava cheia e eu vi que quatro feiticeiras me levavam. As ramas que me tocavam fizeram-me conhecer que estava debaixo de salgueirais e por cima de silveirais, que são, todos sabem, as casas das feiticeiras Nisto senti que me pousavam no chão e eu perguntei: Meninas onde estou eu? É preciso não as tratar mal... Elas responderam-me: Estás na Chão de Agra. Está bem, meninas – não se pode tratá-las mal – por favor, levem-me à minha cama. Eu senti novamente uma brisa a passar-me nos queixos e a voar. Mais uns minutos e senti que novamente me pousaram e eu perguntei: Meninas, onde estou eu? Elas me responderam: Alto do Cavalinho. Muito bem meninas – não se pode tratá-las mal – por favor, levem-me para a minha cama. Senti que novamente me levavam e novamente me pousaram. Perguntei outra vez: Meninas – não se pode maltratá-las – onde estou eu? Ao que elas me responderam: Chão de Antesdelas. Voltei a agradecer e pedi que me levassem para a minha cama, sempre sem as tratar mal. Senti que novamente me levavam, senti um ventinho nos queixos, mas também senti as folhas da minha vinha a afagar-me e de seguida pareceu-me estar na minha cama e perguntei: Meninas onde estou eu? Recordo que não se pode tratá-las mal. Elas me responderam: Estás na tua cama. Então eu disse: Obrigado suas grandes p.tas. Não se pode tratá-las mal.
E, sobretudo, não as incomodar quando estiverem a fazer fffffooorrninhos!”
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