quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A QUADRILHA DE LADRÕES - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Miguel, a estória que vou contar até me causa arrepios, disse o Ti Reinaldo!
Era uma vez e em tempos não muito recuados, uma situação que, de todo, os Asturianos temiam. As quadrilhas de ladrões.
Tratavam-se, como se diz hoje, de grupos organizados com comando indiscutível, cujo comandante era chamado de Capitão.
Estes grupos atacavam selectivamente, e sempre locais ou situações em que levavam vantagem, dada a surpresa e o equipamento.
As igrejas eram grandemente visadas, dado não serem habitadas, terem caixas com dinheiro e objectos de valor.
São conhecidíssimas as quadrilhas de Chaves e a do Zé do Telhado que, embora com estratégias diferentes, espalham receios nas populações e que ainda hoje são muito temidos. Ocorreu até que alguns dos bandidos foram presos nesta aldeia após o célebre ataque na estrada Braga-Chaves.
Nessa época, sempre que alguém morria era sepultado dentro da igreja e, desde a morte até ao funeral, o corpo estava depositado dentro da igreja onde era acompanhado por familiares, normalmente dois compadres.
Ora, estando um aldeão no caixão e acompanhado por dois compadres, a meio da noite começaram a ouvir um ruído que logo perceberam ser um assalto.
Alarmados, e com receio do que lhes podia acontecer, resolveram utilizar a seguinte tática: retiravam o morto do caixão onde um deles se deitaria e o outro vestiria as vestes do Senhor dos Aflitos (padroeiro da aldeia) e colocava-se no altar respectivo. E se bem o combinaram, melhor o fizeram...
E bem a tempo porque não demorou muito para que a porta cedesse, e como previram tratava-se duma conhecida e temida quadrilha, à frente da qual vinha o Capitão. De imediato começaram a roubar tudo que lhes interessava e após estarem de retirada, um dos assaltantes disse ao Capitão que no caixão estava um morto.
O Capitão, homem de pouca fé e para mostrar ao grupo que nem aos mortos tinha medo, disse:
– Ora bem, amigos, venham cá porque já agora quero ver qual é a cor do sangue de um morto. E palavras não eram ditas, saca da cintura de uma espada e prepara-se para com ela atravessar o corpo do que ele julgava ser o morto.
Aflito, vendo chegar o fim dos seus dias, o falso morto grita:
– Oh Santos do Céu valei-me!
Ao que o outro compadre, feito Senhor dos Aflitos, responde gritando bem forte:
– Espera aí que eu já lá vou!
Perante isto, a quadrilha entrou em pânico e ó pernas para que vos quero. Fugiram todos deixando tudo que tinham roubado até aí, e até a espada do Capitão ficou no chão.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

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