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Ela tinha cabelos compridos, ralos, tingidos de vermelho fogo. Olhos azuis e pequenos. Lábios finos também pintados de vermelho. Usava colares e brincos e pulseiras que não combinavam, uma camiseta justa de polyester que destacava o busto grande. Fedia a cigarro.
Assim que eu chegava no corredor e girava a chave para abrir a porta do meu apartamento, Helga abria sua porta para me cumprimentar e dar alguma bala ou doce pra minha filha, às vezes sorvete.
Quando a outra nenê nasceu ela pediu para vir visitar. Claro, pode entrar. Quis tirar fotos com a nenê no colo. Trouxe sua máquina fotográfica analógica, modelo do século passado e fizemos muitas fotos.
Eu não entendia aquela pessoa, mas parecia que tínhamos alguma outra coisa em comum salvo morar no mesmo prédio. Além do mais, desde quando precisei entender alguma coisa para me interessar por ela? Eu gostava de pensar quem essa mulher é, ou tinha sido, o que tinha feito. Algumas vezes tentei investigar seu passado com perguntas, no entanto ela não gostava de falar de si, logo escapava mudando o assunto.
Um dia pediu o número de meu telefone. E um dia me telefonou. Do hospital! Helga o que você tem? Um problema na tireóide, vão me operar. Você pode pegar o correio para mim? Eu pude.
Ela me agradeceu com um doce da loja russa, que apesar da embalagem encantadora, não consegui comer.
Certa vez quando cheguei em casa, encontrei um bilhete na minha porta: Quando chegar, toque direto na minha casa, por favor! Urgente! ass. Helga. Assustada apertei logo a campainha, e Helga, numa expressão de alívio e satisfação, me devolveu o molho de chaves que eu havia esquecido desde cedo do lado de fora da porta.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - ANTOLOGIA - IN-FINITA
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