Agradecemos à autora ROSANA DE ALMEIDA a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1
- Como se define enquanto autora e pessoa?
Você
está me fazendo ver que nunca me preocupei em me definir como pessoa e além de
me considerar uma escritora bissexta, não expandi qualquer definição para além
disto também. Entretanto posso afirmar que sou uma pessoa apaixonada.
Apaixonada pelo que faço. Tudo, e neste momento ‘tudo’ é a escrita, feito com
muito carinho, dando o meu melhor que hoje é menor do que será amanhã.
2
- O que escreve é inspiração ou transpiração?
Usarei
um clichê tantas vezes dito e repetido, mas é pura verdade: noventa por cento é
transpiração, inspiração é só dez por cento. E é isso mesmo! Qualquer tipo de
arte se feita com dedicação e respeito será feita assim. Eu não gosto de uma
manifestação artística que seja só inspiração. Tem um jeito de prematura e às
vezes indigesta. O autor tem que pensar no leitor. Não deve subestima-lo. Se o
autor tem esta atitude e visão, o leitor se sentirá respeitado e considerado. A
inspiração é só o pontapé inicial ou pode também ser uma auxiliar coadjuvante.
A transpiração é protagonista.
3
- O que pretende transmitir com a sua escrita?
Se
há alguma coisa que pretendo de antemão transmitir é o que estou sentindo e
procurando uma maneira nobre de tratá-lo. O autor pretende expor seus sentimentos
e soluções para eles. A obra será uma tábua de projeções que serão emprestadas
pelo leitor. Este identificando os seus sentimentos com o do escritor empresta
também a solução que será sentida como dele mesmo. Nesse último sentido,
escrever é um ato de generosidade, mas se fosse só isso não sobreviveria. O
escritor escreve para ele mesmo.
4 - Por que escreve poesia?
Além
do já citado na última pergunta a poesia é densa. Fala muito mais do que
parece. A poesia contém silêncios eloquentes. Brilhos que não agridem o olhar.
Carícias emocionadas e muito mais. Nas linhas e entrelinhas. Poesia é música, é
hino, é capela, é o silêncio entre as notas. Poesia é irracional. É beleza
eterna. E é, acima de tudo, comunicação nobre e de valor superior. Poesia é
reparação de um mundo interno sentido como destruído ou mesmo se sentido como
maravilhoso e perfeito, um dia foi machucado. Se não fosse assim o poema não
nasceria.
5
- O que costuma fazer para promover a sua escrita?
Devo
admitir que muito pouco. Em meu país não há muito espaço para a poesia. A
natureza da poesia não combina com um país tropical e vice-versa. Houve uma
época em que escrevia mais crônicas e encontravam muito mais ressonância do que
os poemas. Ah! Então posso e devo acrescentar: o poeta é um teimoso
incorrigível.
6
- Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?
Todo
e bem vindo. As redes sociais promovem atividades artísticas que teriam pouca
chance de sobrevivência sem elas. Digo isso referindo-me ao meu país. Um
território imenso, obstáculo para qualquer tipo de encontro.
7
- O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?
Promover
o encontro entre autores e público. Aqui no Brasil temos a FLIP (Feira
Literária de Paraty). Um evento bastante esperado para quem gosta de ler. Mas
eventos menores e mais aconchegantes como as tertúlias que acontecem em
Portugal são muito atraentes. Precisam acontecer com bastante assiduidade. A
poesia precisa fazer parte da rotina das pessoas. O homem está precisando de
poesia, de mais poesia em sua vida.
8
- O que ambiciona como autora?
Incrível.
Que a autora que sou sobreviva, ou melhor, não seja assassinada pelo momento
áspero que vivemos neste país é ambição. Que eu consiga respirar além da
rotina. Que a minha poesia seja mais saudável e jovem do que o meu corpo. Mais
ambição? Que eu aprenda a pregar peças no tempo do relógio e que brotem horas
nos meus dias cujos direitos autorais sejam exclusivos e intransferíveis. Mais
ambição? Que deixe de ser uma escritora bissexta. Escrever como tomar água e
respirar. Mais uma? Ser Poeta. Ser Poeta não, ser Poesia.
9
- Livro físico ou e-book? Porquê?
Ambos.
Há leitores para os dois. E sempre existirão.
10
- Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Não
faço a mínima ideia. Se soubesse então seria resposta e não pergunta. Pergunta
é desconhecido e não posso mudar a sua natureza. Consigo pensar num possível
indagador. Alguém que já tivesse algumas impressões minhas como escritora e dos
meus escritos. Como se colecionasse essas impressões como se fossem objetos
raros, únicos e tivesse uma pergunta guardada para a primeira ocasião que nos
encontrássemos. Essa pergunta então seria feita com muito cuidado e delicadeza,
quase que em silêncio. E eu levaria toda uma vida para responder.
Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link
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