sábado, 20 de outubro de 2018

DEZ PERGUNTAS A... ROSANA DE ALMEIDA


Agradecemos à autora ROSANA DE ALMEIDA a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autora e pessoa?

Você está me fazendo ver que nunca me preocupei em me definir como pessoa e além de me considerar uma escritora bissexta, não expandi qualquer definição para além disto também. Entretanto posso afirmar que sou uma pessoa apaixonada. Apaixonada pelo que faço. Tudo, e neste momento ‘tudo’ é a escrita, feito com muito carinho, dando o meu melhor que hoje é menor do que será amanhã.

2 - O que escreve é inspiração ou transpiração?

Usarei um clichê tantas vezes dito e repetido, mas é pura verdade: noventa por cento é transpiração, inspiração é só dez por cento. E é isso mesmo! Qualquer tipo de arte se feita com dedicação e respeito será feita assim. Eu não gosto de uma manifestação artística que seja só inspiração. Tem um jeito de prematura e às vezes indigesta. O autor tem que pensar no leitor. Não deve subestima-lo. Se o autor tem esta atitude e visão, o leitor se sentirá respeitado e considerado. A inspiração é só o pontapé inicial ou pode também ser uma auxiliar coadjuvante. A transpiração é protagonista.

3 - O que pretende transmitir com a sua escrita?

Se há alguma coisa que pretendo de antemão transmitir é o que estou sentindo e procurando uma maneira nobre de tratá-lo. O autor pretende expor seus sentimentos e soluções para eles. A obra será uma tábua de projeções que serão emprestadas pelo leitor. Este identificando os seus sentimentos com o do escritor empresta também a solução que será sentida como dele mesmo. Nesse último sentido, escrever é um ato de generosidade, mas se fosse só isso não sobreviveria. O escritor escreve para ele mesmo.

4 - Por que escreve poesia?

Além do já citado na última pergunta a poesia é densa. Fala muito mais do que parece. A poesia contém silêncios eloquentes. Brilhos que não agridem o olhar. Carícias emocionadas e muito mais. Nas linhas e entrelinhas. Poesia é música, é hino, é capela, é o silêncio entre as notas. Poesia é irracional. É beleza eterna. E é, acima de tudo, comunicação nobre e de valor superior. Poesia é reparação de um mundo interno sentido como destruído ou mesmo se sentido como maravilhoso e perfeito, um dia foi machucado. Se não fosse assim o poema não nasceria.

5 - O que costuma fazer para promover a sua escrita?

Devo admitir que muito pouco. Em meu país não há muito espaço para a poesia. A natureza da poesia não combina com um país tropical e vice-versa. Houve uma época em que escrevia mais crônicas e encontravam muito mais ressonância do que os poemas. Ah! Então posso e devo acrescentar: o poeta é um teimoso incorrigível.

6 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

Todo e bem vindo. As redes sociais promovem atividades artísticas que teriam pouca chance de sobrevivência sem elas. Digo isso referindo-me ao meu país. Um território imenso, obstáculo para qualquer tipo de encontro.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Promover o encontro entre autores e público. Aqui no Brasil temos a FLIP (Feira Literária de Paraty). Um evento bastante esperado para quem gosta de ler. Mas eventos menores e mais aconchegantes como as tertúlias que acontecem em Portugal são muito atraentes. Precisam acontecer com bastante assiduidade. A poesia precisa fazer parte da rotina das pessoas. O homem está precisando de poesia, de mais poesia em sua vida.

8 - O que ambiciona como autora?

Incrível. Que a autora que sou sobreviva, ou melhor, não seja assassinada pelo momento áspero que vivemos neste país é ambição. Que eu consiga respirar além da rotina. Que a minha poesia seja mais saudável e jovem do que o meu corpo. Mais ambição? Que eu aprenda a pregar peças no tempo do relógio e que brotem horas nos meus dias cujos direitos autorais sejam exclusivos e intransferíveis. Mais ambição? Que deixe de ser uma escritora bissexta. Escrever como tomar água e respirar. Mais uma? Ser Poeta. Ser Poeta não, ser Poesia.

9 - Livro físico ou e-book? Porquê?

Ambos. Há leitores para os dois. E sempre existirão.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Não faço a mínima ideia. Se soubesse então seria resposta e não pergunta. Pergunta é desconhecido e não posso mudar a sua natureza. Consigo pensar num possível indagador. Alguém que já tivesse algumas impressões minhas como escritora e dos meus escritos. Como se colecionasse essas impressões como se fossem objetos raros, únicos e tivesse uma pergunta guardada para a primeira ocasião que nos encontrássemos. Essa pergunta então seria feita com muito cuidado e delicadeza, quase que em silêncio. E eu levaria toda uma vida para responder.

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

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