Aprendo os sinais
Estou em transe. Engoli a noite – um luar espreita
pela minha alma, as estrelas sitiadas no alto, piscam seus braços no leito onde
resguardo a memória. As flores, enxugadas pelo odor nocturno, amainam a dor na
boca. Julgo soltar a fala com os olhos, meu corpo frio, um pirilampo gregário
sacode a escuridão. Não há água que jorre na crosta dos olhos, um fio de
esperança lambida no calor do medo. Apalpo minha boca, cor de púrpura, a língua
foge do embate. Aprendo os sinais: 1 – o pulsar do tédio; 2 – o fulgor do
coração; 3 – a sombra entre as cortinas; 4 – uma flor que ri à janela; 5 – uma
porta que chia no escuro. Conto, em surdina, os dedos dos pés, ignoro a
aritmética da solidão; engoli uma noite; escuto no clamor dos cães, um rio
invisível.
Breve biografia
M.P.Bonde nasceu a 12
de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto
(JOAC) e do colectivo
Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária “Ensaios
Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário
Fernando Leite Couto.
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