sexta-feira, 28 de julho de 2017

FALA AÍ BRASIL... ADRIANA MAYRINCK


Inspiração e Transpiração – a árdua tarefa da criação de um livro

Ainda me lembro menina, de joelhos ralados, com uma dor no corpo e na alma, escrevendo confidências no meu diário.

E aquelas páginas foram ganhando forma, vida, sentimentos e seguiram-me, por todos os caminhos da vida. A grafia irregular, foi ganhando firmeza, as palavras tímidas, aflorando e quando percebi, as confidências e desabafos, com o passar do tempo, que vai deixando perfumes e marcas, transformaram-se em crônicas, contos, poemas. 

Houve um grande intervalo, em que as palavras calaram. Depois foram utilizadas para trabalho, na obrigação de escrever, apesar do prazer, não podia deixar correr livre e as horas eram escassas para mergulhar intensamente no meu universo particular.

Depois veio o período de transbordamento, escrevia no ônibus, em pé no balcão de uma padaria, no parque, na rua, em qualquer lugar, as palavras me dominavam, invadia, perturbavam para sair e seguir por aí. E nos últimos vinte anos, me revesti de prosa poética e me envolvi com a poesia.

Chego até aqui para mostrar a longa trajetória de vida, da minha escrita. O tempo rasgou papéis, apagou arquivos, recriou frases. Passaram-se 37 anos desde aquele dia, de lágrimas e joelhos ensanguentados até esse momento, do agora, de enviar para a editora o meu primeiro livro.

Foram muitas as tentativas em reunir todas aquelas páginas em um único lugar. Inúmeras situações adiaram esse momento. E agora quase que empurrada pela vida, com o apoio de pessoas muito especiais, aquelas, que nos lêem com e sem palavras, rompi com as amarras que me prendiam e me faziam recuar e soltei o meu livro para ser editado.

A inspiração transformou-se em transpiração.

Que tarefa difícil assumir esse papel de concepção, de construção, de criação, de revisão. Alguns meses lendo, relendo, corrigindo, e sempre encontrando falhas, vírgulas fora do lugar, espaços a mais, letras engolidas, erros... Algumas semanas e dias intensos consumiram meu sono e da designer, mudando a diagramação, tirando esse ou aquele poema que não coube na página, recebendo as correções.

E a página de agradecimento? Acho que foi a mais difícil de todas, como expressar toda a gratidão por todos que fizeram parte dessa construção de minhas palavras e sentir.

E transpirando... Comecei a pesquisa por editoras  que se adequassem ao meu orçamento, mas as exigências de ambas as partes não entravam em sintonia, e o suor escorria por entre as palavras. Quase adiei por mais alguns anos, achando que não estava ainda preparada para essa tarefa de realizar com perfeição, inerente aos fatores que nos envolve.

Em uma manhã pálida e desanimada, ouvi novamente aquela voz: “Vem, chegou a hora”. E fui. De volta para aquele café, em uma cidade distante de mim agora, há dois anos. Voltei no tempo. Cheguei naquele exato momento em que conversávamos sobre sonhos... Uma amiga caminhando para tornar-se editora e eu, desejando o meu livro. Ali foi o ponto de partida.

Disse sim! Com a cara e a coragem, respirei fundo, e enviei o arquivo. E o dia se iluminou. Que preenchimento de alma, e sensação de libertação, ao deixar que esse quase filho, siga pela vida... Tocando outros corações.

Olho para trás, passaram-se vinte anos.

Vinte anos. Para esperar a minha filha crescer e fazer o projeto gráfico e capa. Para o meu parceiro de projetos, registrar no prefácio com perfeição, o que está intrínseco em cada página. E a amiga-editora, que nunca desistiu, do além do seu e do meu sonho, e por tanto tempo, repetiu “Vem...”

Embalada pela melodia de Tom Jobim, (o mestre que me perdoe), mas tem que ser no plural...

"É, só tinha de ser com vocês
Havia de ser prá vocês
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor..."

O livro In-Finita é isso, o meu inspirar e transpirar em todas as formas, de sentir, ser, buscar, compreender, lutar, conquistar, viver a palavra... Amor.

E também um convite: jamais desista de um sonho. Vale a pena esperar por ele.

DRIKKA INQUIT

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