Inspiração e Transpiração – a árdua tarefa
da criação de um livro
Ainda me lembro menina, de joelhos
ralados, com uma dor no corpo e na alma, escrevendo confidências no meu diário.
E aquelas páginas foram ganhando forma,
vida, sentimentos e seguiram-me, por todos os caminhos da vida. A grafia
irregular, foi ganhando firmeza, as palavras tímidas, aflorando e quando
percebi, as confidências e desabafos, com o passar do tempo, que vai deixando
perfumes e marcas, transformaram-se em crônicas, contos, poemas.
Houve um
grande intervalo, em que as palavras calaram. Depois foram utilizadas para
trabalho, na obrigação de escrever, apesar do prazer, não podia deixar correr
livre e as horas eram escassas para mergulhar intensamente no meu universo
particular.
Depois veio o período de
transbordamento, escrevia no ônibus, em pé no balcão de uma padaria, no parque,
na rua, em qualquer lugar, as palavras me dominavam, invadia, perturbavam para
sair e seguir por aí. E nos últimos vinte anos, me revesti de prosa poética e me
envolvi com a poesia.
Chego até aqui para mostrar a longa
trajetória de vida, da minha escrita. O tempo rasgou papéis, apagou arquivos,
recriou frases. Passaram-se 37 anos desde aquele dia, de lágrimas e joelhos
ensanguentados até esse momento, do agora, de enviar para a editora o meu
primeiro livro.
Foram muitas as tentativas em reunir
todas aquelas páginas em um único lugar. Inúmeras situações adiaram esse
momento. E agora quase que empurrada pela vida, com o apoio de pessoas muito
especiais, aquelas, que nos lêem com e sem palavras, rompi com as amarras que
me prendiam e me faziam recuar e soltei o meu livro para ser editado.
A inspiração transformou-se em
transpiração.
Que tarefa difícil
assumir esse papel de concepção, de construção, de criação, de revisão. Alguns
meses lendo, relendo, corrigindo, e sempre encontrando falhas, vírgulas fora do
lugar, espaços a mais, letras engolidas, erros... Algumas semanas e dias
intensos consumiram meu sono e da designer, mudando a diagramação, tirando esse
ou aquele poema que não coube na página, recebendo as correções.
E a página de agradecimento? Acho que
foi a mais difícil de todas, como expressar toda a gratidão por todos que
fizeram parte dessa construção de minhas palavras e sentir.
E transpirando... Comecei a pesquisa por
editoras que se adequassem ao meu
orçamento, mas as exigências de ambas as partes não entravam em sintonia, e o
suor escorria por entre as palavras. Quase adiei por mais alguns anos, achando
que não estava ainda preparada para essa tarefa de realizar com perfeição,
inerente aos fatores que nos envolve.
Em uma manhã pálida e desanimada, ouvi
novamente aquela voz: “Vem, chegou a hora”. E fui. De volta para aquele café,
em uma cidade distante de mim agora, há dois anos. Voltei no tempo. Cheguei
naquele exato momento em que conversávamos sobre sonhos... Uma amiga caminhando
para tornar-se editora e eu, desejando o meu livro. Ali foi o ponto de partida.
Disse sim! Com a cara e a coragem,
respirei fundo, e enviei o arquivo. E o dia se iluminou. Que preenchimento de
alma, e sensação de libertação, ao deixar que esse quase filho, siga pela
vida... Tocando outros corações.
Olho para trás, passaram-se vinte anos.
Vinte anos. Para esperar a minha filha
crescer e fazer o projeto gráfico e capa. Para o meu parceiro de projetos, registrar
no prefácio com perfeição, o que está intrínseco em cada página. E a
amiga-editora, que nunca desistiu, do além do seu e do meu sonho, e por tanto
tempo, repetiu “Vem...”
Embalada pela melodia de Tom Jobim, (o
mestre que me perdoe), mas tem que ser no plural...
"É, só tinha de ser com vocês
Havia de ser prá vocês
Senão era mais uma dor
Senão não seria o amor..."
O livro In-Finita é isso, o meu inspirar e transpirar em todas as formas, de sentir, ser, buscar, compreender, lutar, conquistar, viver a palavra... Amor.
E também um convite: jamais desista de um sonho. Vale a pena esperar por ele.
DRIKKA INQUIT
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