Ao Luís Carlos Patraquim, Maputo, 13 de Julho de 2017
Entrei sala a dentro e as cadeiras reclamavam a
aclamação de quem transporta entre os alvéolos a poética. Dos meus passos
tremidos sacrifiquei os ruídos do silêncio para não despertar a malta que
escutava as palavras embargadas do dono de Ualalapi. Lancei meus olhares aos
assentos para acomodar meus ossos. Tropecei na varanda onde as amizades
constroem sonhos diante da margem, onde o verso e a prosa se cruzam.
O sítio continuava com algumas clareiras porque a
cidade anda entre homenagens e lançamentos. Parece que o “demónio” do nosso
tempo não estava presente “ali” para marcar o seu território nas prateleiras
que estendem a sua vasta produção. Khossa na sua parcimónia sangrava episódios
de outros carnavais.
Entre conversas e expectativas chegou o momento
“cultural”. O trovador junto a seus acólitos cantou na simplicidade do acto a
trajectória de um Luís que se metaforiza ao sabor do vinho. Chamo à fala o dono
da Rabhia. Que momento é este? Rimos porque já andamos a ouvir, algures, estas
sandices.
Do Xipamanine às memórias da urbe, estão as
acácias em flor. Os sorrisos fazem-se presentes e esquecemos o episódio ao
sabor do discípulo do velho A. Machavele. Meus olhos não deixam de fitar o
Luís. Ali estava o poeta calçando os óculos, a idade já a pesar na armadura dos
dissabores.
Como cantou o declamador afamado da pérola do
índico “morrer é viver, viver é morrer”. Enquanto destilava suas memórias, os
papéis iam a conta-gotas assinalando a hora do mestre. Andarilho do mundo,
preso às suas convicções, caixeiro-viajante ou viageiro entre os hemisférios,
pousou sua boca no microfone como quem abraça os gelados da infância.
Com a erudição que atravessa a língua declara que
toda a poesia é de circunstância. A plateia ávida deixa-se embalar pelo ensejo.
Com a peculiaridade com que sorve o papel evidencia que as coisas surgem por
acaso. Agarrado ao meu telemóvel, rio comigo porque ando aos alaridos na busca
desse elixir que me escapa entre os dedos.
Quando dei por mim, a sala bailava com outro
olhar, porque os verdadeiros leitores estavam ali
compondo os degraus, como disse o poeta “…para fazer chorar as pedras da
calçada”.
Breve biografia
M.P.Bonde
nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do colectivo
Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária “Ensaios
Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Podem reler o texto que José Manuel Martins Pedro, o nosso correspondente de autores africanos, nos escreveu sobre este autor neste link
Adorei ler o teu texto. Magnifico e maravilhoso texto, parabéns. Amigo, um documento que valoriza a nossa cultura, Abraços.
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