terça-feira, 2 de junho de 2015

EU FALO DE... PRESENÇA NA 85ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA


Ao contrário do pensamento generalizado (e muitas vezes gritado como se o feito fosse algo extraordinário por estes dias) eu vejo a minha presença na 85ª Feira do Livro de Lisboa apenas como mais um evento. Em oposição ao alarido que vejo, por parte de alguns autores, tenho-me limitado a fazer a divulgação tal como faço nas vésperas dos lançamentos dos meus livros.

Longe vão os tempos em que ser autor com assento na Feira do Livro era uma efeméride tão prestigiante como receber um prémio literário. Hoje é algo corriqueiro e banal. Diariamente são inúmeros os autores que se apresentam para sessões de autógrafos: quase o mesmo número de autores que limitam-se a ficar sentados, de caneta na mão, numa espera vã pela chusma de leitores que ilusoriamente podem aparecer. Entre aqueles que conseguem criar alguma movimentação nas bancas, que as editoras lhes disponibilizaram, estão os que aparecem com a "camioneta" de familiares e amigos prontos para fazer desse evento um momento de arraial com a respectiva sessão fotográfica.

Sei que ao lerem este meu artigo, alguns distraídos ou leitores em diagonal vão passar por cima do que escrevi no primeiro parágrafo e dizer que estou a ser incoerente ao desvalorizar a importância da Feira do Livro e, mesmo assim, ser um dos autores com sessão de autógrafos agendada para esse evento. A esses tenho a dizer que não existe incoerência alguma porque não estou, com este texto, a desvalorizar a importância da Feira do Livro. Estou é a contestar a sobrevalorização que tenho visto alguns autores fazerem (autênticos festivais de ilusão) como se ficar uma hora sentado, de caneta na mão, a dar meia dúzia de autógrafos, fosse o suficiente para se consagrarem. A presença numa feira do livro não passa de uma efeméride e, como a própria palavra sugere, é um acto efémero (de curta duração).

Sim, vou estar na 85ª Feira do Livro de Lisboa, numa sessão de autógrafos organizada pela editora do meu último livro. Sim, muito provavelmente estarão presentes alguns amigos da escrita e serão tiradas fotografias para mais tarde recordar. Pode até acontecer que tenha de dar um ou outro autógrafo. Mas não estou cego de ilusão. Não criei nem criarei nenhuma expectativa sobre o que pode acontecer. Não, não cairei na presunção de achar que depois tudo vai ser diferente, que as coisas vão melhorar e que as vendas vão disparar. E é isso que eu tenho visto outros fazerem; criarem ilusões desmedidas.

Ninguém vai conseguir destacar-se apenas por estar disponível durante uma hora para dar autógrafos numa feira do livro. Da mesma forma, ninguém ganha notoriedade por aparecer (através de cunhas e não por mérito) em programas de televisão sensacionalistas - pelo menos em Portugal.

No fundo, este meu artigo é apenas um desabafo de quem tem os pés bem assentes na terra e sabe que há duas formas de alcançar um lugar ao sol: por mérito ou por vassalagem. A primeira é difícil de percorrer. A segunda é mais fácil mas simultâneamente volátil. Em ambas, há que saber separar a realidade da ilusão e é aqui que a porca torce o rabo quando olhamos para as atitudes e discursos de certos autores.

MANU DIXIT 
        


4 comentários:

  1. Perfeitamente de acordo contigo.
    Meras ilusões de "poetas", "escritores", que não passam disso mesmo.
    Beijinhos Manu

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  2. Caríssimo,

    Como sabes, não tendo eu pretensões a nível da escrita, consigo olhar de fora para o panorama...

    No ambiente onde me mexo há mais anos há dois tipos de músicos, os humildes e, desculpa o termo, os "cagões"!
    Conheci alguns músicos de 1º linha a nível internacional. Poucos eram cagões. A maior parte é de uma humildade que até dá para estranhar.
    Curiosamente, a maior parte dos cagões que conheço são só mesmo isso, cagões. Por algum motivo conseguiram algum sucesso com uma música que caiu no goto embora nem seja nada de especial, nunca mais conseguem fazer nada de jeito e a vida inteira deles passa a rodar em volta daquela singularidade!.
    Claro que depois há uns quantos que são cagões e podem sê-lo, porque aquilo que fazem é bom, mesmo quando não estão nos seus melhores dias,mas são mesmo muito poucos...

    Na escrita tenho visto muita falta de chá. A imodéstia em relação ao que escrevem é por demais evidente, mesmo quando o que escrevem é apenas mais do mesmo. E se calham a ter um sucesso, por mínimo que seja, algo insignificante, é completamente insuflado. Parece que as pessoas precisam desesperadamente de ter o ego massajado!

    Creio que isto não é mais que uma insegurança extrema, um reconhecimento de que aquilo que fazem não é, afinal, nada de especial, uma auto-admissão disfarçada, porque embora se saiba, bem lá no fundo, que não se fez nada do outro mundo, não se quer perder a adoração e bajulação de quem se cruza com eles, ainda que mesmo essa adoração e bajulação sejam tão falsas como o sorriso de uma prostituta!

    As pessoas são pessoas e nunca deixarão de o ser... E se acham uma vitória por aí além ir assinar uns livros à feira do livro, então que fiquem felizes com a sua pequena vitória! Claro que aquilo que raramente dizem, até porque retiraria o brilho à vitória, é que o único motivo pelo qual o livro existe sequer foi porque o autor pagou para que existisse...
    ...até porque isso retiraria o brilho e tornaria a conquista vã!

    Dito isto, não tenho nada, absolutamente nada contra o facto de alguém acreditar no seu próprio trabalho e apostar numa edição de autor (mesmo que disfarçada pelo carimbo de uma editora) mas também acho que deve haver uma boa dose de realismo ao fazer isso...

    ...mas o que mais vejo é ficção cientifica...

    :)

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    1. O fogo de artifício que tenho visto estoirar é revelador da ilusão auto-alimentada pelos autores. Por vezes fico com a sensação que as pessoas embarcam no mundo da fantasia porque têm vidas inócuas, insonsas, sensaboronas e querem desta forma saborear o sal que não existe...
      Sempre grato pelas visitas comentadas.

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