Em 2010, logo após eu ter lançado o meu primeiro
livro, fui aconselhado por um autor brasileiro a deixar de colocar nos espaços
da internet os meus textos originais. Foi-me dito que o simples facto de ter
passado a ser autor editado me transformava num alvo mais apetecido para os
plagiadores. Segundo as suas palavras, todos aqueles que fazem uso do plágio,
para colmatar a sua escassez e preguiça criativas, vêem os textos de autores
editados como uma garantia de aceitação por parte das editoras.
Com o capital de experiência que entretanto adquiri,
hoje reconheço a ingenuidade da pergunta que fiz perante aquele cenário que me
era apresentado. Então as editoras sujeitam-se a publicar plagiadores? A
resposta na altura não podia ser mais directa: SIM!
De então para cá, por diversas razões e diferentes
circunstâncias que não me interessam revelar, tenho confirmado a veracidade das
explicações que me foram dadas na altura. Aquela que mais me surpreendeu mas
que infelizmente quase ninguém faz caso é a inexistência de uma cláusula nos
contratos editoriais a precaver situações de plágio. Contam-se pelos dedos de
meia mão as editoras que estabelecem como cláusula fundamental a
responsabilização do autor pela utilização de trabalhos alheios.
Ao longo destes últimos três anos, já tive nas mãos
contratos de edição de várias chancelas e apenas em duas ocasiões a editora
salvaguardava contratualmente qualquer implicação recorrente de plágio ou
violação de direitos autorais indevidos, sendo que uma dessas vezes foi ontem.
De uma forma que creio natural, durante este meu
percurso como autor, tenho-me movimentado com alguma regularidade pelos
bastidores literários e deparado com casos de plágio que, com maior ou menor
dificuldade, têm sido detectados. Dentro deste lote, aquilo que mais me
incomoda é a completa falta de ética de alguns autores que, mesmo tendo
conhecimento da prevaricação e aproveitando a tal inexistência de cláusula
dissuasora, decidem editar obras plagiadas. Por outro lado, acho que é
inaceitável que um editor se sujeite, por omissão contratual, a compactuar com
este género de situações. Isto para não falar daqueles que, sabendo de antemão
que a obra é plagiada, temos um caso recente e muito comentado, conseguem
demonstrar a verdadeira natureza do seu envolvimento no panorama literário.
O mais chocante, se é que ainda há quem se sinta
chocado com estas coisas da literatura, é saber que existe um autor bem
mediático que usando de algum engenho mas pouca correcção, tem construído a sua
obra à base de material alheio, recolhido em bibliotecas e acervos históricos
de jornais e publicações regionais, dando como sua propriedade intelectual todo
e qualquer texto anónimo encontrado. Chegando a cair no rídiculo de dar como
seus alguns textos com datas anteriores ao seu próprio nascimento. Tanto ou
mais grave é a complacência de uma chancela que fecha os olhos a isto apesar da
responsabilidade que tem no panorama editorial português.
Perante este cenário, não é de admirar que existam
opiniões muito corrosivas contra o universo de autores e editores, pondo-os
todos no mesmo saco, mesmo aqueles que,
contra tudo e contra todos, tentam fazer um trabalho honesto e eticamente
correcto. Como se costuma dizer: paga o justo pelo pecador.
MANU DIXIT
Olá Emanuel,
ResponderEliminarNão faço ideia de quem é esse autor mediático que falas mas perante isso e achando eu que estou sempre preparada para o pior, fico sempre chocada com esta falta de ética profissional de autores e editores... Depois não querem que o mundo literário seja apelidado de elitista e de fraca índole. Simplesmente vergonhoso. É preciso falar destes assuntos para que continuem a incomodar ou pelos vistos, não.
Força Poeta
Um abraço
Carla Pais
http://decarlapais.wordpress.com/
Carla! Infelizmente, por mais que se apontem os plágios desse autor, a realidade é que, sendo os textos plagiados apresentados como anónimos nas publicações de onde são retirados, um bom advogado consegue sempre contornar as acusações. O caricato mesmo é alguns desses textos serem anteriores ao seu nascimento e ninguém levar isso em consideração. E assim continua o senhor com uma imagem limpa e imaculada e a dar palpites na vida política e social do nosso cantinho "à beira mar plantado".
EliminarÉ de facto um risco enorme, o plágio.
ResponderEliminarFaz-me lembrar o "Caso do sonâmbulo chupista" onde o Luís Pacheco demonstrava o plágio que o Fernando Namora tinha feito do Virgílio Ferreira.
Trata-se de uma questão de honestidade. <todos nós que publicamos na net, estamos sujeitos a ser plagiados.
Abraço.
António! É verdade que não há ninguém imune a ser plagiado, mas também é verdade que é muita cara de pau alguém tentar publicar um livro como seu quando apenas meses antes esse mesmo livro, letra por letra, ponto por ponto, virgula por virgula, tinha sido editado por outra pessoa. Mais grave ainda é a editora ter conhecimento disso e mesmo assim aceitar a publicação do plágio descarado.
EliminarObrigado pela visita comentada.
Abraço.
Sim Emanuel. Creio que a cláusula dissuasora pode ser um travão ao plágio, e naturalmente a honestidade intelectual das pessoas que escrevem e gostam de escrever.
EliminarAbraço.
Boa tarde Emanuel.
ResponderEliminarFelizmente por aqui apesar das nossas imperfeições, temos uma cláusula nos nossos contratos que diz:
" I. O AUTOR responsabiliza-se sobre a obra vigente neste contrato como sendo da sua autoria."
Uma coisa simples mas que se calhar obriga alguns autores a pensar antes de resolverem utilizar textos que sejam de outros.
Por aqui tentamos dissuadir, dentro das nossas possibilidades, que o plágio aconteça, e me caso de dúvida não editamos a obra.
O plágio revela uma conduta desonesta e imoral de quem o pratica. E apesar, regra geral, da impunidade de quem o pratica não deixa de ser um crime que lesa o direito da propriedade intelectual.
Obrigada amigo pelo assunto aqui trazido, faz todo o sentido.
Beijo amigo daqui.
Maria José Lacerda
Maria José! Ambos sabemos que o plágio dificilmente será erradicado porque vivemos uma época de inversão de valores, mas existem meios para o prevenir, como a cláusula dissuasora.
EliminarBeijo.
Nos estudos literários, plágio, intertextualidade, paródia de outro texto, imitação, etc., são coisas diversas. Duvido muito que o Fernando Namora tenha plagiado o Vergílio Ferreira. Eles até eram amigos... Camões também "copiou" o Virgílio e o Petrarca, quase à letra. Quanto ao sr. que anda por aí a publicar coisas que não lhe pertencem, seria bom que se dissesse quem é, embora eu tenha uma vaga suspeita. Mas para não pagar o justo pelo pecador, venha o nome.
ResponderEliminarSó mais uma reflecção: tenho-me deparado, como escritor, não com o plágio das minhas obras, mas com a republicação das mesmas por terceiros (sobretudo do Brasil), sem minha autorização. Aparecem na Amazon e noutras livrarias online à venda... Isso não é plágio. É roubo.
ResponderEliminarEfectivamente plagiar não é mais que roubo de propriedade intelectual.
EliminarTal como já fiz em "desafios" semelhantes, quero dizer que, para quem consegue ter consigo uma estrutura suficientemente forte para calar e desvirtuar uma acção deste tipo e fazer com que a SPA aceite como válida a paternidade criativa de textos, comprovativamente, alheios, alegremente me dizimaria por difamação. Por isso reservo-me ao direito de não mencionar esse nome tal como não o faço com plagiadores de menor dimensão. Fosse eu ou qualquer outro com menos visibilidade mediática e influência, seríamos cruxificados de imediato e acusados de dar mau nome às letras nacionais.
Mas o senhor tem alguma visibilidade mediática????????????? Onde? Quando??? Posso garantir-lhe que nunca ouvi falar do seu nome enquanto "artista". Nem nunca na minha vida vi um único livro de sua autoria à venda... Mas aí, a "culpa" não é sua.
ResponderEliminarTivesse a mesma capacidade de interpretação das palavras como tem em encontrar erros ortográficos...
EliminarCoitado de quem não é, e quer ser à força. Nem que para isso tenha que inventar....
ResponderEliminarMais um bom artigo sem dúvida, haja consciência e se saiba pensar e escrever...
ResponderEliminarPlágio é mais que uma palavra e de facto as editoras deviam ter em conta este importante ponto. Plagiar é falta de mural e valores pessoais.
E há por aí muitos que abrem a boca, ah um plagiador e na verdade são eles mesmos plagiadores...e sim haja quem faça denúncias fundamentadas e não levianas...e hajam editoras que se unam nesta "causa" e não aceitem tal coisa nem que seja num só poema.
Ana Coelho
Estou plenamente de acordo com a argumentação do Manu. Trata-se de um acto condenável e insultuoso para o criador.
ResponderEliminarUMA SAUDAÇÃO.