No seguimento de mais um fim-de-semana dedicado, quase
em regime de exclusividade, às causas literárias, decidi escrever um pouco
sobre a importância das associações e grupos recreativos na manutenção de
algumas tradições culturais.
Desde tempos remotos, o sentimento de comunidade, tão
característico da raça humana, levou à criação de "organizações" que
permitissem o estreitar de laços entre as pessoas e, acima de tudo, dar
resposta a algumas necessidades mais sociais e económicas.
Não sendo uma regra generalizada, a criação de
associações culturais, grupos recreativos, grémios, clubes e academias, visava
sobretudo a angariação de verbas para construção de equipamentos de carácter
mais social e desta forma ajudar as comunidades mais desfavorecidas e
carenciadas: criação de creches, parques infantis, lares de acolhimento, etc.
No entanto, e com alguma lógica, essas agremiações não
seriam bem sucedidas nos seus intentos sem a criação de actividades paralelas
que lhes permitisse ter alguma visibilidade juntos das comunidades onde estavam
inseridas e um acompanhamento permanente por parte da população. Deste modo
começaram a surgir algumas iniciativas como os bailes, sessões de fado, cinema,
teatro, jogos tradicionais ou socio-culturais, só para dar alguns exemplos,
numa tentativa de aproximar as causas às pessoas mas também trazer pessoas para
as causas.
Com o passar do tempo, já diz o velho ditado “mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades”, perderam-se muitas dessas colectividades e
com elas algumas iniciativas que cativavam as pessoas e permitiam que
interagissem entre si. Falo por exemplo nos jogos florais, que sempre foram
muito apreciados pela rapaziada nova que, aproveitando a ocasião, se declaravam
às raparigas através das pequenas quadras que faziam, supostamente, para
participarem nos concursos, e da oralidade poética, uma tradição com fortes
raizes populares e que são a génese da poesia portuguesa: veja-se o
trovadorismo.
Mas apesar da evolução natural das coisas e da
extinção de muitos locais mais tradicionais e com forte componente cultural, a
verdade é que ainda existe muito boa gente que, com paixão e muita carolice,
criam novas associações em benefício das tradições culturais, não as deixando
morrer. E ainda bem que o fazem.
Tanto os jogos florais como a tradição poética oral
ainda podem ser encontradas em muitos eventos organizados por associações
culturais, um pouco por todo o país. E as portas estão sempre abertas para todos
aqueles que gostam de ouvir e/ou escrever poesia. Mas não se desiludam os que
têm outras preferências literárias porque também existem eventos em que é dado
maior destaque às criações e ao criadores de prosa. Basta procurar, pesquisar,
demonstrar interesse e participar, nem que seja como mero espectador.
E hoje trago este tema à baila porque no passado
sábado, a convite da Associação Cultural – Palavra Cantada e das suas
dinamizadoras Maria Celeste e Maria Gomes, assisti e participei num belíssimo
evento onde a poesia foi rainha e senhora e verifiquei, in loco, a fortíssima adesão que este género de iniciativas
provoca. Entre autores e meros apreciadores da poesia dita, encheu-se o
Auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
Quando à paixão por uma causa se adiciona a vontade e
interesse de um público conhecedor e sem preconceitos elitistas, o resultado só
pode ser a criação de um ambiente saudável e enriquecedor.
Bom seria que todos os eventos fossem assim!
MANU DIXIT
Olá amigo Emanuel, senti cada palavra que aqui li, nesta escrita verdadeira e sábia, concordo plenamente, aproveito para felicita-lo e agradecendo em nome da "Palavra Cantada-Associação de Cultura", bem haja o amigo e todos quantos a representam, divulgam e a levam a concretizar eventos culturais como este de que aqui fala, só unidos damos voz à palavra, beijinhos
ResponderEliminarMaria Gomes! O trabalho que vocês fazem merece o apoio e respeito de todos os que abraçam a cultura.
EliminarBeijo.