quarta-feira, 5 de novembro de 2025

No fundo do baú 13 - Emanuel Lomelino

Há um contragosto fatigado e dorido que fere a vontade de mudança rumo ao júbilo.

Existe uma feroz tristeza, que é real e inibe o ambicioso desejo de subir, degrau após degrau, até patamares mais ousados.

Permanece a inoportuna febre que restringe as passadas necessárias para que o arrojo triunfe.

Há um fúnebre cansaço que pesa no corpo como quem proíbe uma progressão legítima e impede o regozijo da glória.

Permanece uma indolente escravidão, sem grilhões, mas bem mais carcerária que as celas de Alcatraz, que dificulta a mais insignificante conquista.

Há uma fragilidade prenhe de restrições que prende os movimentos suaves e singelos, como quem maniata os avanços mais naturais e precisos.

Existe um melancólico acanhamento do ânimo que, pouco a pouco, desfalece por inércia imposta pelas punitivas circunstâncias de todos os dias.

Permanece o insucesso do querer por imposição de um dever odiado, mas crucial para que as metas sejam cruzadas.

Há, existe e permanece um temor ofegante de que todo o esforço despendido seja inócuo e em vão.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 19) - Maria Helena J. Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Depois de assentar completamente no chão o pé da perna que avançou é a vez de, conscientemente, dar um passo em frente com a outra perna seguindo os mesmos princípios, isto é apercebendo-me dos músculos e articulações envolvidos e sensações associadas.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Epístolas sem retorno 45 - Emanuel Lomelino

Agatha Christie
Imagem pinterest

Digníssima Agatha,

Neste mundo cibernético ou, como ousa dizer-se comummente, neste mundo digital, passado que está o período de novidade, constata-se que, entre benefícios e prejuízos, o maior impacto reflete-se na fusão entre a realidade e o virtual.

Por mais que ouçamos vozes da razão, cheias de legítimas intenções e, sobretudo, boas pretensões, essas não passam de murmúrios sussurrados porque, na prática, ninguém quer ser visto, neste novo paradigma de anonimato selvagem, como cordeiro.

Cultivou-se um género de necessidade básica de pertencer a uma horda opinativa, seja qual for a opinião defendida – que não defensável –, como de pão para a boca, porque a fome de visibilidade é insaciável.

O que ninguém ou muito poucos percebem é que o ciberespaço, tal como se apresenta e é usado, ao contrário da obra de Machado de Assis, é coisa que não edifica mas destrói.

Agatha, dissertar sobre este assunto é um exercício fastidioso por natureza, contudo, imagino como seria a sua vida se a internet coexistisse com a sua obra. Só não sei quantos energúmenos, ao ler trechos dos seus livros, apresentariam queixas formais às autoridades por suspeitarem que, por tanto escrever de roubos, assaltos e mortes, estaria envolvida no crime organizado. Tampouco sei quantos encheriam as suas caixas de comentários e mensagens com vernáculo ofensivo, apenas porque a horda funciona desse jeito.

Curioso

Emanuel Lomelino

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

No fundo do baú 12 - Emanuel Lomelino

Nasce-se para se morrer, independentemente daquilo que se fizer no intervalo.

Já nasci e morri tantas vezes que a cronologia natural desses feitos deixou de fazer sentido.

Todas as mortes foram diferentes, enquanto os nascimentos foram tremendamente dolorosos para mim, com excepção do primeiro, cujas dores nem recordo.

Nasci e morri de tantas formas distintas que, em algumas delas, senti-me um personagem de Lovecraft.

Foram tantos os partos que nem deu tempo para fazer certidões de nascimento, porque as mortes estavam ao virar da esquina.

Foram tantos os óbitos que nem a necrologia conseguiu acompanhar e ninguém foi notificado.

Morri e renasci tantas vezes que já nem gato sou.

Com tantas parições e falecimentos foi-me permitido confirmar que, por mais que se faça tudo certinho em cada vida, de múltiplas e diferentes formas possíveis, nunca seremos capazes de impedir o desfecho final. E essa circunstância implica que no final das contas, o número de nascimentos será sempre igual ao de mortes.

EMANUEL LOMELINO

domingo, 2 de novembro de 2025

No fundo do baú 11 - Emanuel Lomelino

É preciso abrir os olhos, para lá dos limites da fisionomia, para avistarmos tudo aquilo que, pintado com as cores da nossa inocência, nada mais é que engodo e simulação.

É preciso ver além do alcance da vista para entendermos como estes espectros furtivos, que nos iludem na invisibilidade das intensões, são seres de carácter pérfido, dissimulado, vil.

É preciso atenção microscópica e redobrada para entendermos quão elásticas (como interesseiras) são as aproximações que nos fazem, dependendo da utilidade, ou falta dela, que nos outorgam.

É preciso dar uso a toda a prudência, que a natureza nos emprestou, para sabermos quando sugam o ar que nos mantém ou sopram o veneno que nos intoxica, como insecticida.

É preciso reparar que, quase sempre, os benefícios de um ombro, que vislumbramos como gesto puro e sincero, são maças armadilhadas de gentileza encantatória e enganadora.

É preciso enxergar para lá do horizonte mais próximo e observar a distância mais remota para vermos com clareza o quão camufladas são as pretensões daqueles que, com vozes sussurradas, nos entoam aos ouvidos cantos de sereia.

EMANUEL LOMELINO

sábado, 1 de novembro de 2025

No fundo do baú 10 - Emanuel Lomelino

O ar não é respirado em uníssono e as palavras deixaram de ser comuns. Contudo, mesmo que os olhos pouco, ou nada, se cruzem ainda temos os corações que batem do mesmo jeito – arfantes, porque arrítmicos.

Os gestos não são sincronizados e os passos são dados em direcções opostas. No entanto, mesmo com as esperanças reduzidas a novas realidades, ainda temos o sentimento vivo – pulsante, porque presente.

As vontades não são conjuntas e os objectivos distanciaram-se no espaço. Todavia, mesmo com os sorrisos pálidos e tristes, ainda existe forte conexão – elo, porque une.

Os abraços são esporádicos e os beijos são doces memórias de outrora. Porém, mesmo sabendo que, tal como dizia Mia Couto, com outras palavras, “nos acendemos uns nos outros”, ainda ardem em nós as labaredas – fogo, porque ardente.

As mãos não estão entrelaçadas e as vidas voltaram a ser independentes. Apesar disso, mesmo sabendo que o futuro passou a ser dois, ainda temos a história que será sempre nossa – eterna, porque imortal.

EMANUEL LOMELINO

Petra Mãe (excerto) - Petra Munhoz

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ser mãe sempre foi o meu maior sonho. Mas o caminho para a maternidade não foi fácil. Passei anos de tratamento, consultando os melhores médicos do país porque tudo conspirava contra esse meu sonho. Até que aos 25 anos, resolvi adotar um filho e adotei. A espera foi angustiante até que meu primeiro filho nasceu em Alfenas e a emoção que tive, ao sentir a presença dele nos meus braços é indescritível.

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Pensamentos literários 45 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

45

Quando os pensamentos querem ser vistos transfiro-os para um suporte e visto-os de palavras. Essas dão os braços, umas às outras, como numa roda de dança, e fluem a seu belo prazer sem a minha intervenção.

No início, na inocência do meu desconhecimento, mal se expunham, tentava dar-lhes um sentido mais legível, mas esse processo acabava, inevitavelmente, por lhes cortar o fluxo e, o que era uma ideia sólida, diluía-se no tempo com a busca da alternativa de discurso e perdia a força da mensagem base.

Com o tempo, e a experiência, aprendi a ser paciente e comecei a esperar o fim da transição para depois, então, fazer as alterações necessárias.

É por isso que, mais do que escrever, gosto da transpiração de limar verbos, raspar pontuação, desbastar complementos, cinzelar advérbios, polir sentenças.

E se me perguntarem a razão deste trabalho eu respondo que o meu cérebro é disléxico e tem sempre muita dificuldade em estar sincronizado com os pensamentos que lê.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

No fundo do baú 9 - Emanuel Lomelino

Não existe falácia na ânsia causada por um silêncio violado pela maliciosa verve, intencionalmente impostora, que fere de garras afiadas os órgãos mais frágeis, como lâmina aquecida a perfurar matéria inflamável.

Não há remorso nas labaredas que beijam os sentidos na esperança de postular uma cauterização lenta até ao cessar dos dias, como a queda num precipício infindo.

Ninguém percebe a vontade intrínseca do sal líquido derramado como consequência do fétido ardor que um verbo pode causar quando penetra o interior imaculado – como floresta virgem - isento de mágoas e nódoas.

Ninguém entende a extensão dos danos perpetrados pela radioatividade das palavras ácidas, propositadamente regurgitadas como cuspidela traiçoeira de um réptil mal-intencionado.

Ninguém compreende o desgosto de um tímpano ferido de inverdades. Há um mórbido desejo de surdez permanente, que é herético, mas apetecido como água fresca em dia desértico.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 18) - Maria Helena J. Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Na caminhada, o importante é estarmos completamente atentos à forma como nos movimentamos: o movimento de levantar o pé, a perna, levar o pé à frente e pousar o pé no chão. São três fases: levantar o pé, movê-lo para a frente e pousá-lo no chão.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

No fundo do baú 8 - Emanuel Lomelino

Quando os vidros e espelhos se transformam em estilhaços espalhados de modo arbitral no solo roído pelos passos de outrora, não estão sós e isolados. Ficam na companhia da caliça que já foi reboco; de alguns tufos de pelos com proveniência incerta; de heras que se atreveram a romper o betão para despontar entre as frestas de um chão que já foi imaculado; de pedaços de mosaicos quebradiços que a passagem do tempo libertou; de fragmentos de papel retalhado e amarelado pelo mofo; de poeira bafienta originária de múltiplas fontes; de lascas de madeira caídas de armários descoloridos e empenados, cujas portas estão seguras por uma única dobradiça enferrujada; de uma poça de água choca que, volta e meia, é alimentada pela goteira que o telhado esburacado deixou formar, e por onde entram aves para o descanso nocturno ou para se protegerem.

Todo este entulho de ruína e caos é cúmulo de memórias descartáveis que alguém – que pode ser plural – deixou para trás como estivesse a abandonar o mais irrelevante de si.

EMANUEL LOMELINO

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Contos que nada contam 48 (Cumplicidade nocturna) - Emanuel Lomelino

Cumplicidade nocturna

Na penumbra dos becos, os tijolos quebrados são testemunhas assíduas das vidas que se cruzam, entre pestilências, azares e necessidades, regadas a vícios e adições.

Abrem-se pernas e goelas ébrias, em rituais de praxe mundana, enquanto roedores e varejeiras, alheios aos marujos caídos e carochos ressacados, procuram as águas-furtadas de um contentor chamariz.

As sombras são armários onde os cobardes aconchegam as vertigens, os corcundas ganham linearidade, as pegas aliciam sob pressão de lâminas e chumbo, e os vasilhames dividem espaço com látex e filtros alcatroados.

No aconchego da escuridão noturna, os corretores de fumo e caldo especulam piercings, ao ritmo dos batuques abafados que saem das caves guardadas por adoradores de halteres.

Há um gato que mia, um caixote remexido, um pneu que derrapa, um copo que se estilhaça, um isqueiro que é acendido, um rosto que se ilumina, uma baforada que se cheira, um tumulto que se gera, um grito que se escuta, um vulto que tomba, uma poça que se forma, passos que fogem e o silêncio cúmplice que nada viu ou ouviu.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 24) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Porque é que aquilo que nos dá vida é o mesmo que nos mata? Não será que aquilo que o amor faz connosco tem a ver com aquilo que ele vê dentro de nós? Se ele vê a semente da vida, ele nos faz viver, se vê a semente da morte, ele nos faz morrer. É mesmo isto! O amor é como o fogo.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

No fundo do baú 7 - Emanuel Lomelino

Há uma fragrância almiscarada a perturbar as pálpebras húmidas de desencanto. Um doce odor de verde-feiticeiro que se prolonga no horizonte oculto, como a magia da claridade diurna de um dia pardacento.

Há um suave perfume de velhas orquídeas, pálidas e plácidas como hidromel requentado. Uma essência sem músculo, mas dotada de força e energia retumbante, que prende, como grilhetas enferrujadas, os sentidos desprevenidos e insonsos.

Há um aroma maduro de intensidade que se espalha na morna brisa de um verão escondido. Um bálsamo tão hipnótico como soporífero, que impregna de dúvidas a mente mais avisada – tal qual um narcótico amanhecer.

Há uma preguiçosa emanação furtiva que impede as vistas curtas e cansadas de alcançarem o mínimo vislumbre perene de uma miopia desacordada, como quem se omite, conscientemente, das funções mais mundanas – porque despreparados são os ofícios da inocência.

Há, no ar, uma pestilência omnipresente, com requintes sombrios e inoportunos, que toldam a razão sem remorso pelos danos causados, como se a visão de um espírito peregrino não conseguisse, por si só, vaguear entre curtumes e incertezas, na desafiante estrada que redemoinha a cada novo despertar.

EMANUEL LOMELINO

domingo, 26 de outubro de 2025

No fundo do baú 6 - Emanuel Lomelino

O ritmo, a cadência, a duração dos fragmentos de tempo é igual para todos, sem excepção. Ninguém vive segundos, minutos, horas, dias, semanas com maior duração do que os outros. A diferença está na forma como cada um usa o tempo; no modo como o gasta; na utilidade que lhe dá; no desaproveitamento que lhe faz.

O tempo é um só. Tão regular e contínuo, quanto obstinado e persistente na constância. O tempo é obsessivo, dono do seu nariz, pouco lhe importando a forma, o modo ou o jeito como o preenchem.

A génese das queixas sobre o tempo está no grau de prioridade que cada um, em toda a sua vitimização, dá ao tempo que lhe cabe. Por isso existem os desleixados e os organizados; os irrequietos e os cómodos; os espalhafatosos e os discretos; os inteligentes e os chico-espertos; enfim, aqueles para quem falta tempo e os outros que têm tempo de sobra. Apesar do tempo ser sempre o mesmo.

EMANUEL LOMELINO

O que me move - Miriam Müller

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O movimento da minha vida me move. Minhas filhas, meus netos, meu marido! Um Olhar, um sorriso, o fazer valer a pena. Uma mudança na vida do outro, um olhar para dentro de mim, a realização de um sonho e o começar de novo e, de novo e, de novo... 
E você, o que te move?

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

sábado, 25 de outubro de 2025

No fundo do baú 5 - Emanuel Lomelino

O céu azul, o sol a pique e a vontade de, como o António, “estar bem onde não estou”, porque os desejos são como as miragens provocadas pelas ondas de calor – aquele bailado ondulante, no negro asfalto, que hipnotiza, mas sufoca.

Consigo refrescar a garganta seca de outras paragens, no entanto, o espírito mantém-se ressequido e ressentido pelo momento – penoso instante que se prolonga na esfera do desespero, tal qual dunas de um qualquer deserto.

A água simplesmente humedece os lábios gretados e trémulos, enquanto as rédeas do pensamento não deixam que os olhos se desembaracem da linha do horizonte desejado e distante.

Confrontado com a inevitabilidade palpável e real – antagonista da sentença do António – encolho os ombros e aceito, mais uma vez, a fatalidade de estar mal onde não quero estar, mas estou.

Que ninguém se compadeça.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 17) - Maria Helena J. Pereira

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É um caminhar sem preocupações, sem relógio, sem obrigação de chegar a lugar algum. É caminhar pelo prazer de caminhar, pelo prazer de me sentir viva e fazer parte da natureza que me rodeia. Às vezes há uma paragem, uma pausa nos passos, para melhor contemplar a natureza e saborear a intemporalidade e a plenitude do momento presente. Estou ali, completa, nada me falta, sou aquele momento, aquela respiração.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

No fundo do baú 4 - Emanuel Lomelino

Erradamente, supôs-se que a vida seria uma simples equação matemática. Mas alguém, fraco no domínio da álgebra e apenas conhecedor dos números inteiros, enganou-se nos cálculos por não contemplar décimas, fracções, ou raízes quadradas.

Supostamente, a vida deveria ser um segmento de recta. Todos a partirem de um ponto A para chegarem, linearmente, a um ponto B. Mas alguém, fraco em geometria, olvidou a existência de círculos, triângulos, quadrados, etc. Tampouco conhecia ângulos, senos, cossenos, tangentes, catetos e hipotenusas.

Na verdade, de nada nos serve sabermos fazer cálculos avançados ou trigonométricos porque a complexidade da vida ultrapassa todas as ciências.

Para facilitar as coisas, pensemos na vida como uma enorme espiral irregular que contradiz todas as teorias conhecidas.

As contas nunca batem certas, os ângulos estão sempre errados, e as figuras geométricas têm formas difíceis de entender ou identificar.

Bem vistas as coisas, só o ponto de partida A e o ponto de chegada B são os elementos reais da equação da vida, tudo o resto são incógnitas disformes.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

No fundo do baú 3 - Emanuel Lomelino

O tempo passa no seu ritmo célere e eu sei que não consegui dar todos os passos que devia. Por vezes ponho-me a pensar se não ocupei mal o tempo que me foi concedido. Acredito ter deixado passar algum sem lhe ter dado o devido uso. Tempo perdido e mal aproveitado.

Os dias sucedem-se a galope do tempo e eu deixo-me ficar apeado sem saber o que fazer, o que dizer, o que realizar, mantenho-me quieto no meu canto sem perceber que estou a perder o meu tempo.

Mesmo não sendo saudosista acontece-me em muitos momentos desejar que o tempo recue e me dê uma nova oportunidade de fazer algumas coisas que deixei de fazer por falta de tempo ou por não ter sabido aproveitá-lo.

E penso no tempo que deixei escapar entre os dedos, em tudo o que devia ter feito e não fiz, no que deveria ter dito e não disse, no que poderia realizar e não realizei. E assim dou por mim a pensar no tempo que se foi e esgota sem perceber que ao pensar no tempo que perdi continuo a perder tempo que podia utilizar para fazer, dizer e realizar as coisas que não faço, não digo e não realizo por falta de tempo e por não o saber aproveitar.

O mesmo é dizer que pensar no tempo que perdi continua a ser uma perda de tempo.

EMANUEL LOMELINO