quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Lomelinices 49 - Emanuel Lomelino

Lomelinices 

49

A verdade dói quando escutada. Causa-nos dano pelo impacto do momento, talvez despreparo nosso, mas é uma dor fugaz e momentânea, que dificilmente deixa marcas permanentes porque, com o tempo e pelo seu carácter irreversível, ela consegue ser o elemento-chave para alcançarmos a paz de espírito necessária para prosseguirmos.

Já a mentira mata pela sua perversidade intemporal, contínua e nefasta. Atinge-nos na plenitude da sua fogosidade, qual sol abrasador, e queima todo o sentimento como palha ressequida. Desse incêndio destruidor sobra apenas negritude e terra árida sem possibilidade de renovação. E tudo passa porque a vida assim o permite.

Mas há algo mais obsceno e devasso. A dúvida. Essa é cruel, vil, maléfica e sádica. Mantém-nos num limbo de incertezas e esperanças, porque fere, arranha, machuca, tritura, rasga, perfura, esfola, aflige, ao mesmo tempo que se nega e pinta de cores suaves, hipnóticas e anestésicas, qual atriz no auge das suas capacidades interpretativas.

Esta trilogia de inegáveis “influencers” da vida nunca foi tão bem definida como fez Bob Marley, quando disse: A verdade dói, a mentira mata, mas a dúvida tortura.

EMANUEL LOMELINO

Nem cá, nem lá (excerto) - Debora Pio

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Sempre sonhara em voar, conhecer outros mundos. Aos quatro anos, visitara com os pais o interior de um avião – queria ir, não importava para onde! Eles lhe explicaram que para viajar precisava de mala. Ela, daquela vez, aceitou.
Nos anos universitários, conheceu um alemão muito moderno, diferente dos machistas que, até então, havia conhecido no Brasil. Iniciou um relacionamento que perdurou intra e extramuros, para além do Atlântico. Casaram-se após pouco mais de um ano de namoro e ela se tornou uma estrangeira, aos 22 anos.

EM - ESTRANGEIRAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Lomelinices 48 - Emanuel Lomelino

Lomelinices 

48

Na leveza desta furtiva chuva de verão eclode uma paz misteriosa que abraça o âmago, como quem soletra silêncio.

Os pensamentos emergem decididos a transpor o portal da humildade, rumo ao sagrado altar da sabedoria.

Espargem-se na vastidão do conforto idílico e regam o crescimento uno, qual fenómeno da mãe natureza em parto divino.

Há um aflorar consciente e decisivo da razão, no ser que se omitia da sua origem pensante.

Nada se esconde. Tudo se revela. Mesmo as ideias mais tímidas, envergonhadas e de foro introvertido.

A arte fez-se e paira no ar como vapor de esperança, à espera de que os olhos se abram e as mentes despertem.

Mas, aos poucos, o mundo regressa à sua rotina louca e despropositada, ignorando a beleza apaixonada do criador, como nunca tivesse existido a vontade de mudança.

EMANUEL LOMELINO

O princípio do mundo (excerto 10) - Jorge Chichorro Rodrigues

 
LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Pêro Vaz estava abismado com a escolha do nome a ser dado àquela terra que se perfilava no horizonte. Que batismo de fogo ia ser dado a quem viesse habitá-la! Enchendo-se de coragem, pois não sabia até que ponto a paciência do capitão-mor poderia chegar, voltou a interrogá-lo: «E não receais, capitão-mor, que o peso da Vera Cruz venha a recair sobre vós?»

EM - O PRINCÍPIO DO MUNDO - JORGE CHICHORRO RODRIGUES - IN-FINITA

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Contos que nada contam 33 (O professor Licínio) - Emanuel Lomelino

O professor Licínio

 

- … Claro que conheci o professor Licínio! O sujeito mais louco e estimado da aldeia. Foi com ele que aprendi a ler, como muitas gerações desde o tempo em que os meus pais eram crianças.

Transformou a sua garagem num gigantesco salão de leitura, com as paredes forradas a livros, que as editoras lhe enviavam continuamente, e a porta sempre aberta para quem quisesse entrar.

Ele passava o dia a ensinar as letras, a formar palavras, a construir frases, aos mais novos, enquanto incentivava os maiores a pensar no que liam e a escreverem as suas próprias histórias.

Não era estranho vermos, além de crianças pequenas e adolescentes, o salão pejado de adultos, que aproveitavam para ler os livros que ali havia e tentavam cometer a proeza de fazer o professor Licínio sair para a rua, coisa que ele nunca fez em vida, nem mesmo para comprar bens essenciais, que encomendava, no início por telefone, depois por internet, porque havia outra porta, ao fundo da sala, que comunicava com a sua casa e ele tinha jurado que só sairia dali no dia em que não lesse um livro.

Só o conseguiram retirar daquela casa aquando do seu funeral.

EMANUEL LOMELINO

Prisioneira em liberdade (excerto 4) - Maria Antonieta Oliveira


LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A roupa da menina era sempre muito bonita e na última moda, a mãe ia ver a montra de uma loja que havia na Praça D. Pedro IV, mais conhecida por Rossio, e aí tirava o modelo dos vestidos e casacos que depois fazia para a sua princesa, para além do grande laçarote branco, engomado, que usava no alto da cabeça, ficava linda.

EM - PRISIONEIRA EM LIBERDADE - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

domingo, 17 de novembro de 2024

Lomelinices 47 - Emanuel Lomelino

Lomelinices 

47

Esta inquietação vulcânica, que explode de mim, como instinto primitivo, conduz-me na busca eterna pelas palavras que podem fazer-me ajoelhar, como quem se prostra diante de imagem consagrável.

Este desassossego eruptivo, que sangra em mim, como as correntes mais agitadas de magma e lava, guia-me na infinita demanda dos verbos que podem obrigar-me a curvar, como quem faz vénias ao ministério divino.

Esta perturbação efusiva, que irrompe de mim, como intuição ancestral, escolta-me na procura desenfreada pelos vocábulos que podem forçar-me a vergar, como quem se derruba em devoção ao ofício celestial.

Este tumulto tempestuoso, que estoura em mim, como o mais tenebroso ribombar dos céus, acompanha-me numa insana caçada aos motes que podem impor-me a dobrar, como quem se inclina aos méritos angelicais de uma prece.

Esta profusão catastrófica, que eclode de mim, como ímpeto espontâneo, leva-me na bizarra urgência de encontrar as nobres sentenças que podem justificar os motivos, pelos quais, não consigo criar sem parecer que estou em permanente oração aos deuses da erudição.

EMANUEL LOMELINO

sábado, 16 de novembro de 2024

Pensamentos literários 4 - Emanuel Lomelino

Imagem retirada da internet

Pensamentos literários 

4

Eu gostaria de ser clássico como Séneca e poder aconselhar: apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.

Gostaria de ser erudito como Oscar Wilde e poder falar: a vida é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas só existe.

Eu gostaria de ser lúcido como Bob Marley e poder declarar: não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida.

Eu gostaria de ser profético como James Dean e poder sentenciar: sonhe como se fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer amanhã.

Eu gostaria de ser pretensioso como Picasso e pintar numa tela: eu gostaria de viver como um pobre, mas com muito dinheiro.

Eu gostaria de ser engraçado como Chaplin e poder mimicar: a vida é maravilhosa se não se tem medo dela.

Eu gostaria de ser complexo como Nietzsche e poder dizer: torna-te aquilo que és.

Como não posso ser nenhum deles nem falar, com mais propriedade, o que já disseram, limito-me a seguir a dica do Friedrich e, sendo eu mesmo, vou parafrasear Pessoa, dizendo: tenho em mim todos os sonhos do mundo. Apenas decidi deixar de correr atrás deles.

EMANUEL LOMELINO

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Pensamentos literários 3 - Emanuel Lomelino

Tela: Ainda vida com guitarra (dimapf)

Pensamentos literários 

3

Nos dias em que quase desfaleço sou acometido por uma amálgama de sintomas febris e hipotérmicos que se intercalam num frenesim impossível de descrever, mas que parecem conduzidos por laivos de demência.

Nesses instantes de nebulosas mortes, sem que encontre explicação plausível ou fragmentos de lógica, dou por mim a divagar pelas correntes artísticas, hoje em desuso (para não dizer extintas e proscritas), e faz-se luz sobre o meu mundo de criação.

Nesses quentes momentos de caos pacífico e agitada ordem, as epifanias sobrevoam-me a mente e os sentidos ficam hipnotizados pelos conceitos mais primários. Mesmo no desconforto das tonturas e com os olhos turvos (quase apagados), é quando melhor enxergo o que de mim pode advir, porque o que já fiz não me interessa, só penso no que ainda não fiz.

São vinte minutos, meia hora, isentos de percepção temporal, mas com o condão de clarificar-me ideias e conceitos, indicar-me outras tendências e possibilidades, abrir-me o espírito para enveredar por diferentes vias e novos caminhos.

Então dou por mim a estudar os antigos ismos das artes e a compará-los (sabendo que não há comparação) com o mesmismo que se instalou neste meu tempo.

Aprendo as diferenças entre o cubismo das telas e o surrealismo ou expressionismo dos poemas, de Picasso, e fico a adivinhar quantos serão os eruditos anti ismos de hoje que conhecem essa vertente do criador de Guernica.

Depois começo a escrever estes fracos textos sintéticos, com um sorriso irónico colado nos lábios, por saber que quase ninguém decifrará o conteúdo do último parágrafo.

EMANUEL LOMELINO

Encontros com o Brasil (excerto) - Ana Bernardino

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Desde a infância, minha natureza introspectiva e imaginativa me levava ao porão apertado do meu pai, transformado em meu refúgio para brincadeiras e leituras. Ali, minhas bonecas se tornavam alunas, alfabetizadas numa porta improvisada que servia como lousa.
A vida tomou rumos difíceis devido aos problemas financeiros daquele período. Meus pais perderam seus trabalhos e a nossa casa, mas graças à generosidade de minha madrinha, encontramos refúgio temporário em sua garagem. Apesar das adversidades, nunca desisti do sonho de ser professora.

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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 17

23-08-2023

O mundo moderno é um menu de desvios, encruzilhadas, atalhos e outros percursos que iludem pela vertigem do imediato associada à preguiça, porque o importante passou a ser a fim da caminhada em detrimento da satisfação pelos passos dados.

Todos se acham no direito de colocar coroas na cabeça e já nem existe a necessidade de serem feitas de louro, até porque tomilho e orégano são mais cheirosos. Da mesma forma, ilusoriamente, o brilho dos sorrisos passou a ser de plástico e a gratidão não é voluntária - exige troco ou contrapartida.

Já não importa a essência, mas sim os perfumes genéricos. Os arco-íris são agora imposição e as cintilações são mais louvadas do que a uniformidade das sombras nas noites de verão. Já ninguém quer saber do céu azul, pontilhado pelo branco das nuvens, porque flutuar na fantasia dos dias é menos doloroso do que ter os pés assentes na realidade no chão.

Há algum tempo li uma frase que dizia, por outras palavras, que o problema da humanidade nunca esteve na dentada que Eva deu na maçã, mas sim no facto de, pouco antes, ao comer um cogumelo, plantado na base da macieira, ter começado a ouvir a serpente falar.

Se pensarmos bem, e olharmos o mundo, tal qual ele está hoje (psicadélico) e a forma (caleidoscópica) como as pessoas o veem, não fica difícil acreditar nessa versão.

EMANUEL LOMELINO

O princípio do mundo (excerto 9) - Jorge Chichorro Rodrigues

 

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Tinha sido, inevitavelmente, o «filósofo», que para ela tinha chamado a atenção do astrónomo, homem interessado pelos fenómenos celestiais; embora este fosse dotado de um apurado sentido crítico e científico, vira na verdade o sol fazer uma cruz no horizonte, facto que apenas provava que a fé e a ciência não são de modo algum incompatíveis, antes se completam. E Antão, com o sol a subir no horizonte, dissera-lhe com o seu espírito filosófico que jamais a cruz fora tão verdadeira e tão original, pois estava-se diante de um novo princípio, na raiz de um novo mundo, que, segundo suspeitava, iria ser tão ilimitado e generoso como o Império do Espírito Santo.

EM - O PRINCÍPIO DO MUNDO - JORGE CHICHORRO RODRIGUES - IN-FINITA

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Lomelinices 46 - Emanuel Lomelino

Lomelinices 

46

Há este querer sólido e verdadeiro, que me acompanha desde sempre, de encontrar a perfeição do vazio; o silêncio original.

Quanto mais me embrenho na solidão que cultivo, menor parece a distância que me separa de algo semelhante ao Nirvana. Aquele lugar puro, sem defeito, que não é celestial nem divino. Apenas um lugar de paz imorredoura que substitui uma vida inteira.

A cada passo dado dou conta de todo o peso inútil e desnecessário que tenho carregado nas costas. Desfaço-me de mais e mais, sem traumas de separação. Simplesmente largo lastro e caminho mais leve.

O percurso ainda é longo, mas completo na sua única via, num só sentido, perfeito porque é feito de coisa alguma, apenas nada. E estou a conseguir libertar-me de toda a bagagem, de toda a tralha que me tem freado o ímpeto.

Sei que ainda transporto baús encrustados no corpo, com amarras maciças e fechaduras encriptadas, cuja remoção terá um custo de luas e sal, mas blindei a minha resiliência com o aço da vontade suprema e tenho os olhos focados no amanhã, porque é para lá que caminho.

EMANUEL LOMELINO

Prisioneira em liberdade (excerto 3) - Maria Antonieta Oliveira

 

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Uma vez em que no quarto ao lado do tal exíguo estava um casal já habitual, pois vinha a Lisboa várias vezes para consultas médicas, a menina resolveu despejar a caixa das baratas pelas costas do senhor, coitado do homem, tanto gostava da menina e ela prega-lhe tão grande partida, lógico que nunca mais foi brincar com aquela família que tanto gostava dela, não tinham filhos e aquela era a única menina naquela casa. Mais uma tareia e um ralhete daqueles que só a sua mãe sabia dar.

EM - PRISIONEIRA EM LIBERDADE - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Epístolas sem retorno 21 - Emanuel Lomelino

Vincent Van Gogh
Imagem pinterest

Caríssimo Vincent,

Por mais que admire o rigor e qualidade das tuas telas, por mais que aprecie os teus traços originais; por mais que me encante a singularidade das tuas pinceladas; por mais que respeite a profusão da tua extensa obra; não consigo deixar de te culpar, mestre Vincent, pela realidade impressionante dos meus dias.

Neste tempo de abundância e consumismo; de feitos banais e condutas impostoras; de sedentarismo intelectual; de improvisos estudados; de originalidades repetidas, a tua obra penetrou o lado mais recôndito das mentes desprovidas de conhecimento.

Nesta era de inversão de valores; desamor pelo passado; conflito com a história; contestação dos legados, a tua arte sobreviveu nos becos das memórias ocas e influencia os estranhos hábitos espontâneos de gerações tecnológicas.

A ti, Vincent, acuso de teres incentivado, ainda que sem conhecimento do facto, através do elevado número de autorretratos que produziste, este bizarro vício das selfies.

E só não te acuso dos instantâneos de repasto porque só conheço “Os comedores de batata”, e nesse os pratos mal se veem.

Satírico,

Emanuel Lomelino

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Papaguear cultura 2 - Emanuel Lomelino

Papaguear cultura 

2

A arte, nas suas diversas vertentes e dimensões, é uma actividade intimista que roça, quando não ultrapassa, o egoísmo. Mas este individualismo egocêntrico, que se exige ao criador, não é negativo, antes pelo contrário, é humanista porque permite que as dores da angústia criativa fiquem restritas ao universo da criação.

Aos apreciadores de artes deve ser apresentado o lado mais belo e sereno do objecto artístico, isto é, a arte finalizada.

Pouco importa o número de marteladas falhadas e quantas lascas de pedra rasgaram a pele do escultor, quando estamos diante de um busto. Ninguém quer saber quantas camadas de óleo foram colocadas sobre uma pincelada disforme ou quanto vapor de diluente paira no atelier do pintor, quando estamos a olhar uma tela. Não existe interesse algum no tempo que o escritor perdeu para dar vida à frase mais eloquente ou quantos rascunhos foram atirados ao lixo, quando lemos um livro. Não há relevância na quantidade de vezes que o actor titubeou ou se engasgou nos ensaios, quando estamos e ver um filme ou uma peça de teatro. Não é preciso saber quantas vezes as dançarinas tropeçaram ou erraram os passos nos treinos, quando estamos a assistir a um bailado.

EMANUEL LOMELINO

domingo, 10 de novembro de 2024

Pensamentos literários 2 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

2

O provérbio popular diz que a esperança é a última a morrer. Já Balzac afirmou que o homem morre pela primeira vez quando perde o entusiasmo.

Juntando, a ambas as frases, todas as minhas distintas mortes, fica provado que o homem perece toda a vida até que a derradeira morte reclame o seu prémio e encerre o assunto de vez.

Contudo, no meio de toda esta filosofia necrológica, levantam-se algumas questões pertinentes:

Entre cada morte existe renascimento ou ressurreição?

Todas as mortes permitem renovação ou apenas ressuscitamento? 

Há alguma morte mais nefasta que as demais?

Até que ponto o acúmulo de mortes não é, em si mesmo, mais uma morte?

Sejam quais forem as respostas a estas perguntas, existem duas garantias absolutas e incontestáveis sobre todas as mortes. As intercalares apenas nos amputam. A definitiva, tal como também disse Balzac: … é mais verdadeira – ela nunca renuncia a nenhum homem.

EMANUEL LOMELINO

Entre raízes e frutos (excerto) - Viviane Bouçós

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Investiguei sobre a minha etnia, reconheci a minha ancestralidade, agarrei minha essência, assumi a minha vida e encontrei novamente um sentido. Percebi que somos muito diferentes, mas são essas distinções que nos tornam tão iguais. Sou a soma de tudo isso, junto e misturado. O ciclo da vida familiar é uma sequência de transformações em constante movimento. Quando compreendi isso, me senti de volta ao ninho, e menos estrangeira na minha família.

EM - ESTRANGEIRAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

sábado, 9 de novembro de 2024

Pensamentos literários 1 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

1

Não sei quantas vezes confessei o quão paradoxo sou. Mas isso também não é importante porque convivo bem com este adjectivo e não perspectivo desfazer-me dele.

Acho que até alimento essa faceta por ser a forma mais fácil de me equivaler, ou aproximar, da duplicidade dos outros, que, para esse efeito, usam máscaras.

Estive quase para usar o termo bipolaridade, mas, analisando bem as alternativas, duplicidade é, efectivamente, a forma mais correcta de caracterizar a urgência que as pessoas têm de querer passar, delas próprias, imagens diferentes daquilo que são. E um bipolar não tem duas caras nem usa máscaras, tem um transtorno.

Neste contexto, de aproximação àquilo que os outros são, revela-se, uma vez mais, a minha vertente paradoxal.

Se por um lado contesto a duplicidade, por vê-la como embuste, por outro lado canto loas aos usuários de máscaras por, com a sua falsidade identitária, darem provimento a uma máxima lançada por Kundera: Nunca somos nós mesmos quando há plateia.

Abençoados pensamentos literários. Abençoada literatura, que é eterna e sempre actual.

EMANUEL LOMELINO

O princípio do mundo (excerto 8) - Jorge Chichorro Rodrigues

 

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O azul chegava ao infinito, a sombra no horizonte desapareceu, mas havia agora a certeza, gritada a plenos pulmões pelo privilegiado observador, de que não podia fugir a terra avistada como que por milagre. «Deus está connosco!», ouviu-se gritar. O clima de festa espalhou-se pela frota, houve quem tocasse gaitas e trombetas, os frades oraram agradecendo ao bom Deus, e as atenções concentraram-se naquele que, durante grande parte da viagem, tinha desanuviado o ambiente.

EM - O PRINCÍPIO DO MUNDO - JORGE CHICHORRO RODRIGUES - IN-FINITA