sexta-feira, 24 de outubro de 2025

No fundo do baú 4 - Emanuel Lomelino

Erradamente, supôs-se que a vida seria uma simples equação matemática. Mas alguém, fraco no domínio da álgebra e apenas conhecedor dos números inteiros, enganou-se nos cálculos por não contemplar décimas, fracções, ou raízes quadradas.

Supostamente, a vida deveria ser um segmento de recta. Todos a partirem de um ponto A para chegarem, linearmente, a um ponto B. Mas alguém, fraco em geometria, olvidou a existência de círculos, triângulos, quadrados, etc. Tampouco conhecia ângulos, senos, cossenos, tangentes, catetos e hipotenusas.

Na verdade, de nada nos serve sabermos fazer cálculos avançados ou trigonométricos porque a complexidade da vida ultrapassa todas as ciências.

Para facilitar as coisas, pensemos na vida como uma enorme espiral irregular que contradiz todas as teorias conhecidas.

As contas nunca batem certas, os ângulos estão sempre errados, e as figuras geométricas têm formas difíceis de entender ou identificar.

Bem vistas as coisas, só o ponto de partida A e o ponto de chegada B são os elementos reais da equação da vida, tudo o resto são incógnitas disformes.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

No fundo do baú 3 - Emanuel Lomelino

O tempo passa no seu ritmo célere e eu sei que não consegui dar todos os passos que devia. Por vezes ponho-me a pensar se não ocupei mal o tempo que me foi concedido. Acredito ter deixado passar algum sem lhe ter dado o devido uso. Tempo perdido e mal aproveitado.

Os dias sucedem-se a galope do tempo e eu deixo-me ficar apeado sem saber o que fazer, o que dizer, o que realizar, mantenho-me quieto no meu canto sem perceber que estou a perder o meu tempo.

Mesmo não sendo saudosista acontece-me em muitos momentos desejar que o tempo recue e me dê uma nova oportunidade de fazer algumas coisas que deixei de fazer por falta de tempo ou por não ter sabido aproveitá-lo.

E penso no tempo que deixei escapar entre os dedos, em tudo o que devia ter feito e não fiz, no que deveria ter dito e não disse, no que poderia realizar e não realizei. E assim dou por mim a pensar no tempo que se foi e esgota sem perceber que ao pensar no tempo que perdi continuo a perder tempo que podia utilizar para fazer, dizer e realizar as coisas que não faço, não digo e não realizo por falta de tempo e por não o saber aproveitar.

O mesmo é dizer que pensar no tempo que perdi continua a ser uma perda de tempo.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 23) - Pedro Sequeira de Carvalho

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Aconselhados pelo regedor, que os convocara por intermédio da polícia rural, esses homens moradores de Santo Amaro decidiram pedir ao governador Carlos Gorgulho que mandasse reabrir diversos estabelecimentos comerciais que estavam fechados há cinco dias, ou seja, desde o dia 5 de fevereiro.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

No fundo do baú 2 - Emanuel Lomelino

O dia voou-se-me pelos dedos com a fúria premeditada de lâminas rombas. As mãos choraram desconforto enquanto a alma – essa eterna chaga tresmalhada – regozijou-se por não ser corpórea e celebrou a sua indiferença ao beliscar do físico.

Os segundos latejaram-me na pele; os minutos picaram o ponto; as horas cauterizaram os sulcos, infamemente, enfaixados com gaze inexistente. E ela – a alma arredada de empatia – manteve-se fiel ao seu umbigo narcisista.

A tarde sucedeu à manhã, como é habitual nestas coisas do tempo, e a cada tique-taque da ampulheta moderna mais rugas decidiram enfeitar-me a derme irritada de poeira e sedenta de tréguas. Da outra – a alma desgarrada de afinidades – nem um sopro refrescante de interesse ou sinal de afectação.

Foi apenas mais um dia que passou. O corpo ganhou umas quantas medalhas por continuar a superar etapas, enquanto a alma – vilã de si mesma – permanece na ignorância de que nada, nem ninguém, é imune à passagem do tempo e que este também se lhe aplica.

EMANUEL LOMELINO

terça-feira, 21 de outubro de 2025

No fundo do baú 1 - Emanuel Lomelino

 

Os dias tecem-se como macramé. Entrelaçam-se os nós à velocidade dos ponteiros, e a estética nunca é ditada pelo tecelão, mas sempre pelos fios do tempo. Os minutos são franjas e as horas urdem-se de forma aleatória, porém harmoniosa.

Hoje teci um dia pardo, entre refeições. Quis Aracne – deusa do ofício –, de porte altivo, como todas as divindades devem apresentar-se, que o padrão das pausas, para descansar as mãos doridas de tantas agulhadas, fosse obtuso, contudo geométrico. E os desenhos de mais um dia ficaram-me tatuados na pele.

A minha sorte é ter esta obsessão redundante pela etimologia das palavras e descobrir que, ao contrário de todos os “dejá vu” deste dia, macramé não tem origem francesa, antes árabe “migramah”, ou talvez do turco (língua aliada) “miskrama”.

Seja como for, assim que a noite se predispuser a embalar-me as escaras, enrolar-me-ei na tecelagem deste dia e dormirei na certeza de que na próxima alvorada serei artesão de outra arte qualquer.

EMANUEL LOMELINO

Alguns anos antes... (excerto) - Miriam Müller

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Sempre atuei na área administrativa. Quando tive minha primeira filha, em 1986, decidi me dedicar à maternidade. Abri um espaço em minha casa para cuidar de crianças, o que me ajudou a ganhar um dinheiro extra. Em 1990 Chegou a Nathalia, em 1992 tive a caçula, Fernanda. Três amores da minha vida. Após essa fase, entrei em sociedade em um bar noturno. Divertia-me servindo mesas, dançando lambada, samba, e, quebrando alguns copos pelo caminho, o que se tornou parte da diversão.

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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Contos que nada contam 47 (Desabafo de um pescador) - Emanuel Lomelino

Desabafo de um pescador

Depois de ter navegado tantas marés e enfrentado os seus diferentes humores, o sal impregnou-se na pele tão intensamente que os golfinhos e as gaivotas deixaram de ser novidade. A ferocidade dos ventos, que no início era sentida como chibatadas, agora é apenas afago. Içar e recolher velas passaram a ser tarefas executadas no automático.

Já me haviam alertado para a falta de atenção que tenho prestado ao meu entorno. Não tinha dado muita importância a esse reparo, no entanto, a bem da verdade, há algum tempo deixei de demonstrar interesse nas coisas irrelevantes porque serviam apenas como motivos de distração, para ajudar a passar o tempo nas viagens entre portos.

No entanto, hoje, ao embarcar para mais uma odisseia laboral, embrulhado na minha farda de profissional camuflado e com a máscara de marujo satisfeito no rosto, decidi voltar a dar uso à minha vertente observadora e pude constatar que o céu azul continua a ser riscado pelos aviões, a espuma das ondas permanece branca e, tirando os pinguins e albatrozes, os únicos seres que continuam a destoar são os corvos, que agora são mais urbanos litorais e não se emocionam ao ver espantalhos de camisa aos quadrados que, tal como eu, andam na faina para colocar bacalhau no prato.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 16) - Maria Helena J. Pereira

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Todavia, o meu percurso pelos caminhos da meditação, mostra-me que, para mim, é mais fácil encontrar esta sensação de totalidade, de transcendência do espaço e do tempo, de deixar de sentir os limites do corpo e perder completamente a noção do espaço e do tempo, quando entro em comunhão profunda com a natureza. É um estado de consciência de unidade, de intemporalidade.

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domingo, 19 de outubro de 2025

Contos que nada contam 46 (Um ultimo esforço!) - Emanuel Lomelino

Um último esforço!

Durante toda a vida, Afonso dedicou-se ao trabalho como fosse um atleta de alta competição. Estava sempre disponível para umas horas extra, colocando de lado o cansaço, ignorando as mazelas, superando a complexidade das tarefas e a pressão exercida pelas chefias, imaculadas e bem dormidas, que lhe exigiam máxima aplicação e o empenho que não entregavam.

Por mais dedicado, assíduo e competente que Afonso demonstrasse ser, pediam-lhe sempre mais um esforço, mais uma diligência, mais uma cedência, mais um sacrifício, como tivesse nascido para ser apenas um operário sem vida própria.

Durante toda a vida, dedicou-se ao trabalho com esmero e profissionalismo e agora, deitado sobre o solo gelado, sob os olhares estarrecidos dos chefes, que o observavam à distância e em silêncio, Afonso concluiu que, toda a entrega e dedicação, todas as cedências e sacrifícios, nada mais eram do que sinais do quão negligente havia sido com a sua própria vida, e apenas tinham beneficiado aqueles que, mal todos os pedaços do seu corpo quebrado fossem colocados na ambulância, seguiriam para o conforto dos seus lares e aconchego das suas famílias.

Antes de falecer, a caminho do hospital, Afonso ainda teve discernimento para um derradeiro pensamento filosófico: “por mais colectivo que seja o último esforço, ninguém verte o sangue alheio”.

EMANUEL LOMELINO

sábado, 18 de outubro de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 45 - Emanuel Lomelino

11-02-2024

Quando era criança, e estava constantemente a ralar os joelhos ou a esfolar outras partes do corpo, ouvia os mais velhos dizerem que as dores, que então pouco sentia, viriam com a idade. Sempre achei muito estranho esse vaticínio e até o esqueci durante grande parte da vida.

Eis senão quando, chegado ao equador da existência secular, o corpo, qual despertador orgânico, começou a tocar e não há forma de o silenciar.

Dói caminhar, dói sentar, dói mexer, dói ficar estático, dói mover, dói tocar, dói ouvir, dói ver, dói falar, enfim, dói tudo, por tudo e mais alguma coisa, inclusive pensar.

Esta dor, que são várias dores em sequência, faz-me acreditar que, mais do que avisos, aquilo que os mais velhos faziam, quando eu era criança, era dar voz às suas próprias dores, demonstrando empatia pelas dores que hoje sinto e eles bem conheciam.

A diferença entre os dois tempos está no facto de, agora, não existirem crianças a brincar na rua e a ralar joelhos ou a esfolar outras partes do corpo. E, sobre essa dor, que desconheço, eu não sei como demonstrar empatia.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 22) - Pedro Sequeira de Carvalho

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Decidi chamar pela Arlete. Ela perscrutou pela janela e quase que caía de costas quando verificou que era eu. Não demorou e veio ter comigo totalmente apreensiva. Eu não sabia qual seria a sua reação em me ver, pelo que estava apreensivo. Depois do meu ato, ela havia saído diante de mim ainda com lágrimas nos olhos, sem dizer uma palavra.

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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 133 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

133

Oiço o som metálico do trompete, que sai das colunas, e na mente ecoa-me um cenário distante, no tempo e no espaço, como uma lembrança acabada de nascer no improviso de Coltrane. Mas não é jazz, nem memória. É uma imagem vívida de outra era, outra realidade, talvez desejo, quem sabe sonho irrealizado.

Confuso, quedo-me, de olhos fechados, a escutar a sinuosa melodia que flutua indiferente ao impacto que me aplica, e vejo, tão nitidamente como o agora, um episódio de vida que, tenho a certeza, nunca foi meu. Existem dejá vus de momentos jamais vividos?

Abro os olhos pela urgência ofegante de voltar a mim e à realidade que me rodeia. O som dissipou-se, não sem deixar-me o corpo perturbado e trémulo.

As pernas bambas, prestes a colapsar, pedem-me que encontre um lugar para me sentar até que as palpitações regressem à normalidade. Receoso, caminho devagar até ao único banco vazio que vislumbro. Sento-me após uma caminhada eterna e tento colocar as ideias em ordem.

O coração desacelera e a lucidez é-me devolvida. Respiro fundo e, com a maior tranquilidade que o raciocínio me concede, concluo que estive, mais uma vez, à beira de uma síncope.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Devaneios sarcásticos 31 - Emanuel Lomelino

Devaneios sarcásticos 

31

Com o acúmulo de dias pardacentos, que não me transportam a lugar algum, vou-me vestindo de silêncios e indiferença.

Olho em redor e apenas vislumbro números circenses banhados de vulgaridade e executados por carrancas enfadonhas, como se a originalidade moderna fosse uma repetição contínua de carnavais passados, contudo, a preto e branco.

Esta matização básica, insonsa de significado ou propósito, inflige-me dotes de frivolidade e frieza, como se todo o meu ser físico fosse constituído por blocos de gelo oxigenado pelas insignificantes aragens polares.

Mas desenganem-se aqueles que veem nesta insensibilidade austera um temperamento acomodado e cego. A mudez, além de boa conselheira, permite observar a transparência de todas as matizes e intenções.

Silêncio não é sinónimo de apatia, inércia, passividade ou alheamento.

EMANUEL LOMELINO

Transformar é verbo (excerto 2) - Milena Pedrosa

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Meu ninho e base da minha vida foi o amor e acho que assim aprendi a conviver com os problemas, num olhar para o copo meio cheio e na esperança de que tudo tem seu recanto ou encanto. E aqui decido trazer isso, o olhar da minha jornada que os obstáculos ou dificuldades foi transformado para aprendizado.

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 132 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

132

Hoje as sombras estão mais presentes que nunca. A escuridão estende os braços frios sobre cada esquina, beco e viela, tentando envolver no seu manto de breu tudo o que intenta luzir.

Há um sopro de mau agoiro personificado num uivo felino, rouco, contudo, tão monocórdico quanto arrepiante, intercalado com o som metálico de uma goteira ritmada e o ronco de uma árvore chacoalhada pelo Zéfiro persistente.

À distância de um receio fundado escuta-se o embate de saltos com os paralelepípedos da calçada, numa corrida acelerada, quase em duplo desespero.

No céu ribombam trovões em sequência, como elos de uma corrente interminável. Mas dos raios luminosos, que normalmente se seguem, nem sinal. Só som e escuridão.

Esta noite as sombras estão mais presentes que nunca.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 15) - Maria Helena J. Pereira

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Sei que é possível experienciar uma sensação de plenitude, de totalidade, de unidade com o Universo, Consciência Universal, Deus, ou como lhe queiram chamar, em qualquer lugar, mesmo no conforto do lar quando, no silêncio, se entra em meditação profunda.

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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 131 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

131

Apesar do grau de exigência que me coloco, adoro a minha falibilidade. É certo que me irrito com todos os passos mal medidos, com todas as derrapagens, com todos os deslizes, no entanto, entendo que as falhas fazem parte do processo e a melhor forma de as combater é admitir o erro e seguir adiante.

A parte confusa de tudo isto está na primeira afirmação que fiz neste texto: “… adoro a minha falibilidade”. Como pode alguém, que se diz exigente, ficar satisfeito com o facto de ser falível? A resposta é tão simples quanto óbvia.

Se refletirmos um pouco, facilmente entendemos que existe uma relação de causa-efeito a unir os dois conceitos. A exigência só faz sentido havendo imperfeição e esta é impulsionadora do carácter exigente.

No fundo, aquilo que advogo é a conscientização de que a génese da minha personalidade está umbilicalmente associada ao facto de ser, ad aeternum, um Ser imperfeito. Logo, se não fosse falível também não seria exigente.

EMANUEL LOMELINO

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 44 - Emanuel Lomelino

04-02-2024

Já perdi a conta às vezes que metaforizei este paradoxo que existe em mim.

Por um lado, sou espírito eremitão, com sede de deserto e vontade de ficar em contínua meditação, abraçar os silêncios mais profundos, sentir a sangue pulsar nas veias, enxergar a passagem de cada segundo e alcançar o máximo de epifanias que o conhecimento possa outorgar.

Noutro prisma, sou o eterno amante do sedentarismo conformista; recluso num tempo que não me pertence, aonde me sinto desenquadrado, sem desejo de mudança – por revolta ou rebeldia – existindo apenas.

Por outro lado, sinto-me um nómada sem endereço certo nem rumo concreto, sedento por encontrar o lugar perfeito para instalar esta carcaça envelhecida e criar um entreposto de isolamento premeditado. Sou um beduíno, sempre irrequieto, em busca de um espaço para assentar arraiais, longe deste outro espaço que me restringe, aprisiona e bestializa.

Depois, enquanto me debato com esta triplicidade esquizofrénica, olho em redor e vejo inúmeras caravanas de camelos que circulam nos mesmos desertos que eu, com a diferença a residir nos holofotes que os acompanham. Então multiplica-se a necessidade visceral de metaforizar este labirinto temporal aonde me sinto enclausurado e de onde tenho ânsias de libertar-me.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 21) - Pedro Sequeira de Carvalho

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Cheguei ao quintal e estava tudo frio, sem sinais de presença de pessoas. Entrei o máximo que podia, mesmo assim não senti indícios de presença humana. Não chamei para não fazer alarido. Decidi sentar-me no banco debaixo da coleira, até que aparecesse alguém e pude assim descansar um pouco.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

domingo, 12 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 130 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

130

Por vezes fico a ponderar nesta minha apetência, cada vez maior, para procurar momentos de isolamento. Dizer-me apreciador da reflexão acaba por ser redutor porque também é possível pensar estando rodeado de gente.

Ficar entregue aos pensamentos é uma forma de autoconhecimento. Fazê-lo cercado por outros pode ser comunhão, quando há partilha de ideias.

O problema está na questão do grupo. É difícil partilhar os pensamentos mais elaborados quando do outro lado só existe interesse no banal, no frívolo, no insonso, e há grande resistência à evolução das conversas.

Neste contexto sou obrigado a confessar as saudades que tenho de algumas pessoas. Daquelas que, além de saberem transmitir conhecimento em assuntos diversos, tinham a capacidade de fazer evoluir os diálogos transformando as conversas em meros convívios apaixonantes.

Muitas dessas pessoas já não estão neste plano e, tal como eu, os que ainda por aqui andam também passaram a preferir a reflexão isolada.

EMANUEL LOMELINO