sábado, 4 de janeiro de 2025

Papaguear cultura 7 - Emanuel Lomelino

Papaguear cultura 

7

Na democracia de um mundo perfeito todos têm direitos e deveres, em igual medida.

Na democracia de um mundo perfeito todos têm direito a expressar as suas opiniões, independentemente das razões que os assistem, e todos têm o dever de respeitar todas as opiniões alheias, principalmente as que divergem das suas.

Na democracia de um mundo perfeito a lei permite a manifestação pública de todas as opiniões, desde que feitas ordeiramente, e impede as reacções contrárias ao direito de opinar e manifestar.

Mas o mundo perfeito só existiria se a humanidade também o fosse, e como a democracia é usufruída por humanos, para muitos ela é o seu direito de manifestar opiniões e tudo o resto é antidemocrático, inclusive as opiniões dos outros e as leis que impedem alguém de impor a sua opinião sobre as demais. A democracia perfeita é uma utopia porque será sempre aquilo que cada um entender, até que os outros se calem e submetam.

Resumindo: muitos aproveitam o espírito da democracia para dizerem e fazerem o que lhes aprouver sem darem conta de estarem a agir como verdadeiros ditadores.

E tudo isto faz-me acreditar, cada vez mais, que apenas as artes são verdadeiramente democráticas e são o único elo da humanidade com a perfeição.

EMANUEL LOMELINO

O princípio do mundo (excerto 19) - Jorge Chichorro Rodrigues

 
LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Em silêncio poderia desfrutar delas, da sua inegável poesia, mas jamais poderia acolher de alma e coração a ideia de que a sua frota estivera no «princípio do mundo». «Agora que nós portugueses cobrimos com as nossas armadas todo o globo terrestre, defender a ideia de haver em terra firme um princípio do mundo, dentro de um tempo da Criação, é no mínimo despropositado. A ciência não permite tais devaneios...», pensava, duro como uma pedra e fazendo jus ao nome. 

EM - O PRINCÍPIO DO MUNDO - JORGE CHICHORRO RODRIGUES - IN-FINITA

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Pensamentos literários 11 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

11

Os livros! Esses seres mascarados de inânimes que, quando são abertos, agrafam a nudez das suas letras aos nossos olhos, fazendo-nos perder a noção de tempo e espaço enquanto nos transportam nas asas do deslumbre.

Os livros! Esses malvados seres que enfeitiçam a mente, guiando-nos pelos labirintos da reflexão, semeando ideias, instigando pensamentos.

Os livros! Esses pérfidos apóstolos da sabedoria que lavram, nos âmagos menos ociosos, a terra da razão, como quem, com toda a naturalidade e experiência, coloca roupa a secar ao sol.

Os livros! Esses censores da ignorância; esses opositores do analfabetismo; esses legisladores de literacia; que não receiam infetar-nos com o vírus do conhecimento.

Os livros! Esses camuflados seres opiáceos que nos fazem vagabundear, de página em página, como toxicómanos literários.

Ah, os livros! Metadona do meu vício.

EMANUEL LOMELINO

Prisioneira em liberdade (excerto 13) - Maria Antonieta Oliveira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Todos os anos as chuvas e as marés altas inundavam toda a Vila, destruindo as casas dos pobres pescadores que ficavam sem nada, do pouco que tinham, uma vida de trabalho destruída em segundos, quase sempre havia inundações até ao local onde ainda hoje é o mercado, a praça, como entenderem chamar-lhe, naquele tempo, era aí o terminal das camionetas que iam e vinham, da Trafaria, ou de Cacilhas.

EM - PRISIONEIRA EM LIBERDADE - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Papaguear cultura 6 - Emanuel Lomelino

Papaguear cultura 

6

No universo de escrita que construo letra a letra, leitura a leitura, através dos constantes aprendizados e exercícios que me proponho, tudo tem uma razão de existir.

A partir do momento em que ganhei consciência de autor, e consegui descobrir a minha voz literária, tudo passou a fazer sentido e as peças do puzzle, finalmente, começaram a encaixar-se.

Não prescindo de desafiar o meu estro, nem abdico de aprofundar o meu conhecimento sobre muitos temas, porque acredito que o aperfeiçoamento só acontece com estudo e prática continuada – e mesmo isso não é garantia alguma.

E alicerço estas convicções em algumas frases-chave ditas/escritas por gente que sabia, bem mais do que eu, da arte-escriba.

Para não voltar a escrever um texto com pinceladas de concretismo, limito-me a parafrasear o Barão de Montesquieu (filósofo e escritor francês): “É preciso estudar muito para saber um pouco”.

EMANUEL LOMELINO

A dúvida (excerto 7) - Zélia Alves

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Sendo humilde! Convivendo com os sem-abrigo, com as famílias mais necessitadas. Descendo até ao seu mundo. Aprofundar as suas necessidades e tentando que uma mão amiga chegue até eles. Mais do que lhes levar o pão, é fazê-los acreditar que estou ali no terreno, não para me armar em salvadora da pátria, mas que se eu consegui, também eles se batalharem poderão ir mais longe e sair da sua “zona de conforto” deles. Que a rua, zona de conforto não tem nada.

EM - A DÚVIDA - ZÉLIA ALVES - IN-FINITA

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Epístolas sem retorno 23 - Emanuel Lomelino

Oscar Wilde
Imagem pinterest

Prezado Oscar,

Nem só as palavras são alvo de más interpretações. O silêncio também o é. E o maior erro que alguém pode cometer, ajuizando o silêncio, é associá-lo à solidão - mesmo havendo quem, com ambos, assim se relacione. Por mais paradoxo que soe, as palavras têm uma ligação mais estreita com a solidão do que o silêncio.

Ao invés das palavras, que moldam pensamentos mas estão sempre prenhes de entorno, isto é, podem ser influenciadas pelas opiniões exteriores, tudo o que advém do silêncio é puro, imaculado, genuíno e sem arestas polidas.

O mundo do silêncio, ao contrário do entendimento generalizado, é o Santo Graal da autorreflexão e do crescimento individual. É no silêncio que nos descobrimos na plenitude do que somos, para o bem e para o mal. É no silêncio que encontramos as verdades mais incómodas e esbarramos na essência dos nossos temores mais pungentes.

Sim, se todos soubessem o quanto as suas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio, no entanto, seria bem mais complicado identificar os que sofrem de solidão crónica.

Reflexivo

Emanuel Lomelino