quarta-feira, 9 de abril de 2025
Tudo sob controle (excerto 2) - Daniele Rangel
terça-feira, 8 de abril de 2025
Prosas de tédio e fastio 23 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
23
Este sentimento de desadaptação está costurado no meu âmago desde sempre. Lembro-me de, em criança, muito pequeno ainda, sentir-me deslocado no tempo, como se a cegonha tivesse ficado retida num engarrafamento de décadas provocado por uma paralisação dos serviços administrativos aéreos da Natalidade.
Esse atraso na entrega fez com que eu só visse a luz do dia bem mais tarde do que seria suposto. Pelo menos, valha-nos isso, o tempo de traslado é independente do de gestação, caso contrário eu teria nascido mais velho do que a Sé de Braga.
Tirando esse detalhe do desacerto temporal, não tenho mais nada a colocar no livro de reclamações. Os movimentos de rotação e translação dão-me os dias, as noites e as estações. A gravidade não me deixa flutuar – isso é óptimo para quem tem vertigens -, o céu varia entre o azul e os tons cinzentos, o mar anda entretido com os seus humores e marés, tanto a fauna como a flora são incríveis. Enfim, é tudo tão perfeito que a única coisa que posso reclamar da vida é estar aqui no tempo errado.
EMANUEL LOMELINO
Tenho tantas saudades tuas (excerto) - Rosa Fonseca
segunda-feira, 7 de abril de 2025
Epístolas sem retorno 29 - Emanuel Lomelino
Caro Edgar,
As gárgulas, empoleiradas no negrume dos telhados, choram lágrimas de pó quando atestam, com notório desgosto nas faces grotescas, a perversa iniquidade dos, autodenominados, vates modernos.
Há, nas suas bizarras feições, untadas de raiva incontida, laivos de tristeza pagã e réstias de soturnidade, que resultam dessa fanfarronice egocêntrica que, sabe-se lá por quê e em nome de quem, é característica indissociável dos neo-versejadores.
Longe vão os tempos em que as palradoras estátuas de pedra rejubilavam com as góticas criações dos nobres e genuínos artesãos das palavras. Hoje, por mais esforços hercúleos que façam, dificilmente encontram diversidade na coloração das chamas, porque tudo é azul-propano como esta metáfora imperfeita.
Sombrio
Emanuel Lomelino
Ondas (excerto) - Rita Queiroz
domingo, 6 de abril de 2025
Prosas de tédio e fastio 22 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
22
Por vezes o fogo da vontade perde vigor e transforma-se numa ténue faúlha, que só não se extingue porque nos momentos de alento invertido, sobram ligeiras ondas de resiliência que, embora em banho-maria, impedem que o sentir seja obliterado por uma brisa de fraqueza.
Tal como os arco-íris, os ápices débeis da mente são miragens que tentam grudar-se ao céu do raciocínio, na esperança de ganhar protagonismo, como fossem autores de lavras plagiadas, a desfilar nas sombras de falsas passadeiras vermelhas, sem holofotes nem comendas.
Esses instantes frágeis, quando bem identificados, são manuais empíricos, do lado negro do ser, que ajudam na compreensão dos extremos da personalidade.
Cabe a cada um dar uma utilidade holística, ou parcial, ao aprendido – quando munidos de capacidade reflexiva e isenção de preguiça.
EMANUEL LOMELINO
O que guardamos quando habitamos provisoriamente um lugar? (excerto) - Rita Furtado
sábado, 5 de abril de 2025
Prosas de tédio e fastio 21 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
21
Há um abismo, criado propositadamente, que dificulta o acesso ao mais íntimo de mim, porque só a mim pertenço, só a mim me justifico, só a mim me cumpro.
Por muito que deduzam pedantismo, tomara cada um ver-se o centro do universo, qual astro com órbita personalizada, e poder acionar ou desligar, dependendo do sentir, a força gravitacional que permite a aproximação de outros corpos celestes.
Muitos usam expediente semelhante, no entanto, sempre subjugados ao engrandecimento material que os “atraídos” proporcionam.
O meu egocentrismo, consciente, é espiritual, intimista, irreversível, meu. A mais ninguém pertence, a mais ninguém é útil, a mais ninguém enriquece.
E, pasmem-se os desavisados, esta convicção prática jamais foi impeditiva dos meus contínuos altruísmos, dos quais tampouco alardeio ao mundo. Quem vê, sabe. Quem desconhece, ignora. E convivo bem com ambos os espectros, porque só a mim cativo.
EMANUEL LOMELINO
Na epístola (excerto 1) - Rose Pereira
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Prosas de tédio e fastio 20 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
20
Sinto que estou a derramar-me até ao extremo do vazio; até ao limite da sensibilidade; até à falésia da consciência, qual abundante cascata de coisa alguma.
Nestes dias em que liquidifico a minha existência deixo de ser corpóreo, liberto-me das emoções, abraço a vacuidade profunda e agrilheto os pensamentos no mais esconso subterrâneo.
Embrulho-me na agudeza protetora e segura do silêncio absoluto e deixo o meu espírito vazado deambular pela neutralidade do espaço.
Somente o nada consegue ser, em mim, o equilíbrio, a prudência, a sensatez, a razão, o tão desejado porto de abrigo.
EMANUEL LOMELINO
Promessa de Todos os Dias (excerto) - Paula Miguel
Tudo sob controle (excerto 1) - Daniele Rangel
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Epístolas sem retorno 28 - Emanuel Lomelino
Prezado David
Há uma heterodoxia evidente no silvo melífluo da brisa que beija as folhas de uma árvore. É um ciciar da natureza; um aviso intimista, mas tão expressivo quanto os brados das ondas que esculpem os maciços rochosos. Contudo, mantemo-nos indiferentes.
Existe um discurso, nas vozes das tempestades, que passa despercebido a olho nu. É um código do ambiente; um sinal de alerta, tão dual como o ressonar de um vulcão adormecido na antecâmara do seu estrondoso despertar. Contudo, mantemo-nos apáticos.
Há uma oscilação atmosférica em todas as épocas como um entrelaçar festivo de quadras temporais. É um sussurro climático; uma advertência tão cadenciada quanto o degelo dos mais primitivos glaciares. Contudo, mantemo-nos passivos.
Existe um tempo que se esgota como uma ampulheta quebrada. É a noção de perenidade a extinguir-se como o Cretáceo. Contudo, mantemo-nos impávidos porque essas coisas só acontecem aos outros. Quais outros?
Apreensivo
Emanuel Lomelino
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Prosas de tédio e fastio 19 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
19
A turbulência dos dias não quer saber se o arco-íris é filho do sol e da chuva ou reflexo da cúpula que dá razão aos esfomeados terraplanistas.
De leste chegam uivos ogivados rugidos por gargantas mais inocentes do que gárgulas esquimós, enquanto, daquela janela aberta para o Tejo, ecoa uma voz de barítono com hálito de açorda e chamuça.
Nos carris do elétrico, encerados pela morrinha recente, deslizam saltos altos, “raios partam” e outros impropérios indiferentes às moedas, largadas à laia de piedade, no boné do humorado maltrapilho, que tem banca permanente no adro da igreja e um cartaz a informar: multibanco avariado.
Na porta da tasca sorvem-se ginjinhas espirituosas e lançam-se olhares – cada um com o seu significado – para os “camones” na esplanada e aos que passam, de mochilas às costas e ansiosos por fotografar os azulejos quebrados das fachadas devolutas.
O céu anuncia o anoitecer precoce de mais um domingo e não há tempo a perder com notícias de Gaza ou Kiev porque é dia de clássico na tv e expulsão num reality show.
EMANUEL LOMELINO
terça-feira, 1 de abril de 2025
Pensamentos literários 20 - Emanuel Lomelino
Pensamentos literários
20
Sou um leitor híbrido. Embrenho-me em romances, contos, filosofia, antropologia, história, ciências, crónicas, ensaios, prosa poética e poesia, como quem procura respostas a perguntas que ainda não fez.
Leio contemporâneos e antigos, essencialmente clássicos, com o objectivo de expandir os meus conhecimentos e, com isso, alargar horizontes e aperfeiçoar as minhas técnicas criativas.
Nessa fome por sapiência, mais do que ler, devoro livros atrás de livros, com plena consciência de que o estômago literário jamais ficará saciado.
No entanto, a conclusão mais relevante desta gula está no facto de que, das léguas de palavras lidas, tal como admitiu Adam Zagajewski, assimilei apenas “farrapos” de entendimento. O resto, sobra-me a esperança, um dia conseguirei compreender.
EMANUEL LOMELINO
segunda-feira, 31 de março de 2025
Prosas de tédio e fastio 18 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
18
Não há sol que ilumine os íngremes caminhos sombrios que o fado obriga a percorrer, sem desvios.
A luz dissipa-se a cada encruzilhada como se as copas das árvores fossem uma cortina fechada para o céu.
Os passos sincopados, numa lentidão desesperante, soam a desencanto e nada pode ser feito para que a viagem enalteça o espírito.
Olhar para trás também não se revela uma melhor opção porque a lonjura parece idêntica – senão maior.
Resta seguir adiante, na esperança de que, apesar do negrume, a caminhada possa ser feita com o mínimo de percalços e a vastidão subterrânea seja substituída por extensas planícies pintadas de verde e luz.
Pouco importa a escuridão dos dias quando o final do túnel ainda está à distância de uma vida inteira.
EMANUEL LOMELINO
domingo, 30 de março de 2025
Prosas de tédio e fastio 17 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
17
A pele manchada, de múltiplas e árduas batalhas, exibe com sofreguidão todas as escaras acumuladas, que se sobrepõem umas às outras, como se a derme fosse um transporte público apinhado de gente em hora de ponta, quase sem espaço para respirar.
O cansaço e as nódoas negras empilham-se no corpo e, por mais forte que seja a nossa resistência, fazem esmorecer todos os ímpetos, todos os desejos, toda a força interior, como se as vontades, quais seres independentes de nós, quisessem tomar as rédeas da vida e levar-nos por caminhos diferentes, diametralmente opostos ao pretendido.
No pensamento aflora a ideia de mandar os planos às malvas, abdicar dos propósitos iniciais e aceitar, com resignação, a tristeza dos fados sem melodia, qual Sísifo conformado com a inevitabilidade da sua sorte.
Nestes dias, de moral fragmentada, encontro a salvação nas palavras dos sábios que habitam a minha cabeceira, ganho mais uns traços na bateria que me energiza e volto a acreditar que todo o esforço, sangue, suor, lágrimas e corpo inchado, levar-me-ão ao porto ambicionado.
EMANUEL LOMELINO
sábado, 29 de março de 2025
Papaguear cultura 11 - Emanuel Lomelino
Papaguear cultura
11
Já escrevi inúmeros textos sobre a legitimidade universal que a escrita outorga. Todos, sem excepção, podem, e devem, exercer essa actividade sem rodeios nem receios, independentemente das razões adjacentes, subjacentes, laterais ou de fundo.
Escrever é mais do que um direito, é um dever. Pela defesa libertária; pela identidade; pela diferença; e sobretudo pelo legado que carregamos, e que deve ser respeitado, preservado e prolongado, para que as gerações vindouras não percam o rastro às suas raízes e, também eles, sintam que devem contribuir nessa perpetuação.
Não existe história sem registo. Não existe noção do passado sem que a memória seja celebrada, e a melhor forma de o fazer é colocar tudo por escrito.
Mas a história de um povo, de uma civilização, não se limita a referências factuais e a acontecimentos quotidianos colectivos. Ela também resulta de pensamentos críticos, ensaísticos ou lúdicos, ficção, criatividade, inovação, singularidade…
Por essas razões defendo que todos devem escrever, seja sobre o que for, de que forma for, e com as motivações que lhes aprouverem. O importante é escrever. Escrever muito.
Depois… o tempo encarregar-se-á de separar o trigo do joio.
EMANUEL LOMELINO
sexta-feira, 28 de março de 2025
Prosas de tédio e fastio 16 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
16
Numa tentativa vã de fazer o tempo abrandar, caminho pelas ruas mais despidas da cidade e dou por mim a inspecionar com curiosidade todo e qualquer ser que cruze a minha marcha.
Mais do que os tons capilares da moda, os trajes ultrajantes, ou as libertinagens chocantes, foco a minha atenção nas mãos – tão diferentes das minhas - e nos seus movimentos – tão efusivos quanto enganadores.
Sejam grandes ou pequenas, robustas ou delicadas, morenas ou pálidas, todas elas me parecem mãos habituadas a luvas de pelica, tão unidos estão os dedos. Ao vê-las, fico com a sensação de apenas me cruzar com cirurgiões.
Ao contrário, as minhas assemelham-se a grampos rombos e lascados, tantas são as escaras, por vezes sobrepostas, que as enfeitam e impedem que os dedos se toquem e consiga cerrar os punhos.
Acho que, se os outros também andarem pelas ruas da cidade a observar mãos, ao verem as minhas devem pensar que sou estivador ou coveiro.
EMANUEL LOMELINO
quinta-feira, 27 de março de 2025
Prosas de tédio e fastio 15 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
15
Perguntaram-me como seria o filme da minha vida. A resposta foi tão instantânea como uma curta-metragem.
Do nascimento até agora, já vivi inúmeras aventuras, algumas dramáticas, outras hilárias, estive envolvido em situações pitorescas e outras complicadas, escalei muitas montanhas ao longo das peregrinações por bastantes lugares, tive os meus fracassos, alguns sucessos, muitas hesitações, fiz boas escolhas e tomei muitas mais equivocadas, mas não consigo identificar episódios com originalidade suficiente para merecerem ficar registados em película.
Na realidade, tudo espremido, o potencial filme seria tão minúsculo que pareceria mais um anúncio publicitário do início do século XX – mudo, a preto e branco, e para ficar perdido no arquivo empoeirado de uma qualquer cinemateca anónima.
EMANUEL LOMELINO
A dúvida (excerto 24) - Zélia Alves
quarta-feira, 26 de março de 2025
Crónicas de escárnio e Manu-dizer 30 - Emanuel Lomelino
14-02-2024
E se existisse apenas uma estrela no céu, uma nespereira na terra, um cavalo-marinho no mar, uma pedra num só rio e as maçãs fossem alimento das víboras?
E se em vez de asfalto existissem apenas túneis de toupeira, um cachorro mudo, um papagaio viciado em café, uma enxada e uma prostituta low-cost?
E se chovessem rosas azuis, os prados fossem lilases, o sal soubesse a alfazema, o estrume cheirasse a Dior e o vermelho fosse caminho de cabras?
E se os pés tivessem guelras, as unhas nascessem nas pálpebras, se fumasse pelos cotovelos e os braços derretessem a cada aceno?
Se a natureza fosse absurdamente distinta daquilo que é, tal qual conhecemos, apenas restaria um par de coisas inalteradas: a beleza do pôr-do-sol e a tendência humana para a autodestruição.
EMANUEL LOMELINO
terça-feira, 25 de março de 2025
Prosas de tédio e fastio 14 - Emanuel Lomelino
Prosas de tédio e fastio
14
Há muito que decidi, com plena consciência do acto, deixar de andar ao sol e mostrar-me ao mundo apenas a conta-gotas, especialmente durante tempestades diluvianas.
Sei da importância do processo de sintetização da vitamina D, mas nunca tive problema algum em assumir os estragos colagénios porque envelhecer é inevitável e nunca gostei de brilho emprestado ou genérico porque ofusca, cega e ilude.
Prefiro o cinzentismo que me define e só a mim pertence pelo simples facto de poder revelar-me, com maior liberdade e satisfação, tal qual sou, no anonimato das sombras e sem intromissões despropositadas nem, sobretudo, ilegítimas.
Pelo mesmo motivo tenho uma predilecção especial por becos e vielas, em detrimento das avenidas largas e intermináveis.
EMANUEL LOMELINO
segunda-feira, 24 de março de 2025
Lomelinices 100 - Emanuel Lomelino
Lomelinices
100
Quando era criança, e estava constantemente a ralar os joelhos ou a esfolar outras partes do corpo, ouvia os mais velhos dizerem que as dores, que então pouco sentia, viriam com a idade. Sempre achei muito estranho esse vaticínio e até o esqueci durante grande parte da vida.
Eis senão quando, chegado ao equador da existência secular, o corpo, qual despertador orgânico, começou a tocar e não há forma de o silenciar.
Dói caminhar, dói sentar, dói mexer, dói ficar estático, dói mover, dói tocar, dói ouvir, dói ver, dói falar, enfim, dói tudo, por tudo e mais alguma coisa, inclusive pensar.
Esta dor, que são várias dores em sequência, faz-me acreditar que, mais do que avisos, aquilo que os mais velhos faziam, quando eu era criança, era dar voz às suas próprias dores, demonstrando empatia pelas dores que hoje sinto e eles bem conheciam.
A diferença entre os dois tempos está no facto de, agora, não existirem crianças a brincar na rua e a ralar joelhos ou a esfolar outras partes do corpo. E, sobre essa dor, que desconheço, eu não sei como demonstrar empatia.
EMANUEL LOMELINO
Rogai por nós (excerto) - Malu Baumgarten
domingo, 23 de março de 2025
Lomelinices 99 - Emanuel Lomelino
Lomelinices
99
Oiço o som metálico do trompete, que sai das colunas, e na mente ecoa-me um cenário distante, no tempo e no espaço, como uma lembrança acabada de nascer no improviso de Coltrane. Mas não é jazz, nem memória. É uma imagem vívida de outra era, outra realidade, talvez desejo, quem sabe sonho irrealizado.
Confuso, quedo-me, de olhos fechados, a escutar a sinuosa melodia que flutua indiferente ao impacto que me aplica, e vejo, tão nitidamente como o agora, um episódio de vida que, tenho a certeza, nunca foi meu. Existem dejá vus de momentos jamais vividos?
Abro os olhos pela urgência ofegante de voltar a mim e à realidade que me rodeia. O som dissipou-se, não sem deixar-me o corpo perturbado e trémulo.
As pernas bambas, prestes a colapsar, pedem-me que encontre um lugar para me sentar até que as palpitações regressem à normalidade. Receoso, caminho devagar até ao único banco vazio que vislumbro. Sento-me após uma caminhada eterna e tento colocar as ideias em ordem.
O coração desacelera e a lucidez é-me devolvida. Respiro fundo e, com a maior tranquilidade que o raciocínio me concede, concluo que estive, mais uma vez, à beira de uma síncope.
EMANUEL LOMELINO