quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 43 - Emanuel Lomelino

21-12-2024

Por natureza, e porque procuro desenvolver ideias próprias sobre várias temáticas, sou crítico dos radicalismos modernos, que só existem por falta de validade argumentativa e preguiça intelectual.

Reflectir deve ser sempre o primeiro passo para a existência de discussões construtivas e é através das divergências que se podem alcançar consensos e encontrar as melhores soluções para cada problema.

Neste contexto, e porque há assuntos que merecem debates amplos e sérios, congratulo-me pelo crescente interesse na problemática da saúde mental.

Apesar da questão ter sido levantada, recentemente, por figuras de relevo do universo desportivo, este problema não é novo, é mais abrangente e deve preocupar cada um de nós.

Sem retirar importância ao debate sobre as origens, motivos ou soluções, creio que a prioridade deve ser a consciencialização colectiva de estarmos perante uma situação grave que requer o máximo de sensibilidade nas abordagens e, por isso, são dispensáveis as ideias pré-concebidas e preconceituosas do passado.

As sociedades só evoluem quando os pensamentos acompanham.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 20) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Eles usavam alicates, ganchos de cortar cacau e auxílio de cordas de trepar palmeiras para conseguirem alcançar os fios e cortarem-nos, de modo a garantir que não houvesse comunicação entre as autoridades policiais, dando conta da sua localização. Lamentei do deserto em que, de um dia para outro, se havia tornado a vila da Trindade.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 126 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

126

Quando a manhã se acende num sorriso, a geada, afectuosamente, desmancha-se em lágrimas cintilantes, que o sol prestigia num afago morno.

No céu despontam os primeiros voos, num bailado de brisa e penas, acompanhados pela beleza sinfónica de um chilrear indefinido, nascido de gargantas irrequietas, contudo melódicas.

Há um gingar vaidoso nos passos mudos de um gato pardo, que atravessa o jardim florido, como quem festeja sete vidas preenchidas, apenas interrompido pelo rouco canto de um galo que anuncia a boa-nova.

De repente, com a pontualidade de um relógio suíço, todos os sons se evaporam para que o vento assobie na folhagem de uma laranjeira, libertando as fragrâncias cítricas e impulsionando o voo de uma alva mariposa.

Os sentidos estão a formigar de entusiasmo quando o despertador toca e a chuva, que bate feroz na janela, revela que tudo não passou de um sonho primaveril e a realidade, de mais um dia, é cinzenta como ontem.

EMANUEL LOMELINO

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 125 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

125

Quando surgem aqueles dias em que só queremos deitar o esqueleto e simplesmente abraçar a inércia, é necessário um esforço sobre-humano para nos obrigar a cumprir algumas tarefas que, não sendo essenciais, nos propomos executar.

Hoje é um desses dias. Depois de um retemperador banho quente, o corpo começou a insinuar a vontade de ficar estático, imóvel, quieto, estatelado sobre a cama, e não fazer coisa alguma. Creio que ainda houve um momento de hesitação, da minha parte, mas o que tem de ser tem muita força e não posso abrir um precedente porque quando se facilita uma vez…

Para se atingir esta capacidade de não embalar na preguiça é fundamental ter-se um elevado grau de disciplina mental que, no meu caso, acaba por auxiliar bastante, quase como factor determinante para que não haja um só dia sem que eu faça, entre algumas outras coisas, pelo menos, um exercício de escrita.

EMANUEL LOMELINO

O sim que mudou meu futuro (excerto) - Marley Castro

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Naquele dia, eu acordei com um misto de ansiedade e medo. Eu queria muito aquela oportunidade, mas a única certeza que eu tinha era que havia feito a minha parte. Escolhi as peças mais bonitas do meu estoque e arrumei com capricho na bandeja de veludo. Será que as peças iam agradar? Será que eles estavam antenados com a moda, veriam valor no meu material?

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

domingo, 5 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 124 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

124

Os dias cozinham-se iguais, numa mesmice tão sórdida quanto submissa, sem ensejos nem revoltas.

Lábios gretados, frieiras nas mãos, escaras soltas, narinas empoeiradas, vontade que se esvai, conformismo que se instala.

O cansaço apodera-se, sem tréguas nem piedade. Reavivam-se vis emoções, já sentidas na plenitude da miserabilidade. Também aquela inércia tão lancinante como grilhetas carcerárias.

Mas nem tudo é ácido porque, no final de cada dia, chega sempre o silêncio crepuscular, com livros debaixo dos braços e a habilidade de teletransportar a mente para mundos que anestesiam até que a realidade regresse no buzinar do despertador.

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 13) - Maria Helena J. Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Adoro fazer passeios até ao cerro de S. Miguel e, muito particularmente, ao cerro da Cabeça, na companhia da minha grande amiga Bertinha. Às vezes são passeios longos e fazemos, alegremente, o nosso piquenique ao almoço, na companhia de pássaros, às vezes de abelhas, mas tudo em harmonia. É natureza.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

sábado, 4 de outubro de 2025

Epístolas sem retorno 44 - Emanuel Lomelino

Friedrich Nietzsche
Imagem pinterest

Professor Friedrich,

Não foi sem assombro que descobri a existência de niilismo na minha personalidade.

Apesar do termo não me ser estranho, por razão do meu interesse artístico-literário, e até conhecer um pouco desta corrente filosófica, nunca deduzi que uma parte de mim pudesse ser influenciada, mesmo que ligeiramente, por esta doutrina.

A verdade é que, em relação à percepção que tenho da vida, com todas as minhas dúvidas e questionamentos, nunca me considerei mais do que céptico, pela simples razão de não conseguir vislumbrar, com carácter decisivo, uma razão válida que justifique a existência de um propósito, ou sentido, pré-definido.

Eis senão quando, nesta fase adiantada da minha existência física, descubro que a descrença num sentido para a vida, tal como ela se revela para mim, é considerado niilismo existencial. Só não sou completamente niilista porque não vejo a humanidade, como um todo, insignificante.

Boquiaberto

Emanuel Lomelino

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Epístolas sem retorno 43 - Emanuel Lomelino

Arthur Schopenhauer
Imagem pinterest

Prezado Arthur,

Por mais que pense, não consigo encontrar uma razão inequívoca e definitiva que justifique o medo que a generalidade das pessoas tem de estar sozinha, como se ficar ou estar só fosse o tormento mais nefasto que alguém pode experimentar.

Mais incompreensível é o descrédito dado ao isolamento, enquanto fonte de ignição para o raciocínio pacífico, que é o único caminho estável para que exista clareza de ideias e o pensamento não se revelar contaminado pelo entorno.

Creio que a génese desta aversão global é fruto de uma conotação, errada, entre quietude e solidão. Uma não origina nem é, obrigatoriamente, consequência da outra.

O silêncio é a casa da reflexão mais séria e íntegra, logo é benéfica para quem dele usufrui.

Apenas

Emanuel Lomelino

O branco e a preta (excerto 19) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Saí da cama, coloquei a primeira roupa que vi e fui ver do que se tratava. Era uma multidão, composta por cerca de duas centenas de pessoas armadas com azagaias e machins, totalmente furiosa com o assassinato de Pontes.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 123 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

123

A vida dedilha-se ao ritmo das horas e, mesmo nas pausas inoportunas, tudo soa a orquestração eterna.

Há um género de maestro invisível – tempo – que cadencia cada passo, como estivéssemos, desde o berço, sujeitos a rigor e disciplina harmónica.

Quando sou assaltado por este pensamento absurdo emerge em mim uma tremenda e imperativa vontade de fazer um improviso jazzístico e deixar-me levar numa pauta em contramão.

Talvez seja o meu lado irreverente a querer demonstrar-me que não se esgotou e ainda tem muitos acordes para tocar e, assim, preencher com novas melodias o grande concerto que tem sido a minha vida.

EMANUEL LOMELINO

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Prosas de tédio e fastio 122 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

122

Volta e meia desincorporo-me e, afastando-me um pouco, fico a olhar-me na tentativa de perceber o que continua a mover-me.

Faço isto porque, há muito, deixei de encontrar respostas no meu interior, agora vazio e abandonado de estímulos.

Longe vão os tempos de grandes reflexões, maiores projectos, gigantescas demandas. Todo eu era um contentor de ambições, ideais e proactividade.

Hoje, pairando sobre mim, deixei de identificar aquele olhar decidido e resoluto – quase intrépido – que me fazia encarar todos os desafios da vida com a cabeça bem erguida, numa postura natural de confiança absoluta.

Os valores continuam presentes, as certezas permanecem seguras, as intenções estão imutáveis, as convicções bem enraizadas, contudo, o vigor vem-se esfumando, a energia esgota-se a cada expiração, a vontade esbate-se a cada passo, a importância das coisas tem diminuído a olhos vistos.

Vejo-me à distância e só reconheço a voragem de querer saber mais, de pensar com mais critério e melhorar valências. Mas já não vislumbro a sede de partilhar nem a urgência de me explicar – nem mesmo a mim próprio.

EMANUEL LOMELINO

A vida é um movimento (excerto) - Lícia Campos Valadares

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Apesar de ter sido uma criança bastante tímida, eu sempre amei um palco. Eu acho que minha mãe, de maneira inconsciente, me colocou em todos os palcos possíveis para curar a minha - quase doentia - timidez. Foi assim que aprendi a tocar piano, a dançar ballet e, ainda, tive acesso a aulas de teatro (atuei algumas vezes).

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Contos que nada contam 45 (A confissão) - Emanuel Lomelino

A confissão

Vivo no bosque da vida, desde o berço, protegido por plantas e animais que nunca me foram estranhos. Ao longo do tempo fui construindo peça a peça, tijolo a tijolo, a verdade do meu mundo. Ano após ano, mês após mês, semana após semana, dia após dia, aculturei a minha mente, fiz-me homem à minha imagem. O tempo passou na sua vertigem e o bosque transformou-se na minha casa cujos alicerces eu próprio construí. Entre certezas e receios deixei-me envolver, pouco a pouco, nas teias da falsa ilusão. Necessidade inconsciente?! Consciência doentia?! Os anos escorreram-me entre dedos e apesar da vontade e do querer, nunca me libertei totalmente das algemas que me impediam de conhecer o mundo para além desta casa-bosque onde me refugiei.

Hoje, passeando pelos jardins do pensamento, dou conta dos sussurros da razão que o tempo me escondeu nas folhagens da utopia. Oiço os chilreios fantasiados da promessa que nunca o foi e interrogo os passos que dei. Palmo a palmo caminho por novas alamedas, vagueio entre flores cujo nome desconheço e tomo consciência do tempo perdido mas não lamento o que me fugiu. Hoje, confrontado com outras realidades, questiono-me sobre o passado e choro as lágrimas que há muito deveria ter vertido. Sei que continuo preso a um momento que nunca existiu mas também sei da vontade hercúlea que existe em mim para recuperar a posse de mim mesmo. Hoje reconheço que adormeci algures na vida e todo o tempo que dormi foi tempo perdido. Mas acordei! Despertei para uma nova vida, para uma nova realidade. Confesso que não me sinto completamente desencarcerado mas aos poucos estou a conseguir desfazer os nós desta corda que me sufocou toda a vida. Cresci!

EMANUEL LOMELINO

Ondas de paz e contentamento (excerto 12) - Maria Helena J. Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Olhe à sua volta, deslumbre-se com a paisagem, note a acessibilidade, não corra riscos subindo ou descendo rochas de acesso difícil. Depois de uma vista panorâmica, escolha um rochedo que o atraia e que possa alcançar em segurança. Antes de se sentar nele observe-o em pormenor: a sua cor, forma, aspeto rugoso, com estrias, mais ou menos liso, pequenas plantas que saem das suas fissuras e outros que a sua visão focada lhe mostre.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Epístolas sem retorno 42 - Emanuel Lomelino

Erasmo de Rotterdam
Imagem retirada da internet

Caro Desidério,

Queixais-vos do quão ridículo era, nesse vosso tempo medieval, a chusma de “eruditos de pacotilha” que contratavam elogios e discursos abonatórios, embriagados que estavam com a reduzida e elitista fama prestada aos literatos.

Nessa altura, e porque não lhe eram conhecidos poderes de profetismo, jamais lhe poderia passar pela cabeça que, volvidos uns quantos séculos, os pseudoliteratos (maioritariamente autonomeados) aumentariam consideravelmente, sendo que o lado abjeto dessa proliferação encontra-se, precisamente, no apetite que a generalidade dos humanos sente pelo mediatismo, pela lisonja, pelo elogio, enfim, pelas luzes da ribalta.

Não me é difícil imaginá-lo a contorcer-se de sofrimento ao ver, in loco, as loucas atrocidades que se cometem, hoje, no universo das letras.

Contratar “parladores” é coisa de meninos de coro - agora contratam-se plateias, aplausos, bajulações, e tudo é feito de forma despreocupada porque, por mais notável que possa parecer, a notoriedade já não é contestada – apenas invejada.

Em resumo, aquilo que designou como sendo falta de ética moral transformou-se, através dos séculos, em completa ausência de valores. Tanto a ética, como a moral, são apenas vocábulos e, mesmo correndo o risco de estar a cair em erro de avaliação, creio que não deve estar longe o tempo em que ambas palavras cairão em desuso, tal qual já aconteceu com os seus significados.

Sem dotes intuitivos

Emanuel Lomelino

domingo, 28 de setembro de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 42 - Emanuel Lomelino

22-11-2023

Apesar de já ter idade para ser considerado “velho do Restelo”, não tenho, por vocação, o hábito de fazer apologias do passado para contrapor ao presente. As coisas são como são, o mundo evolui e só temos de nos adaptar, o melhor que conseguirmos.

No entanto, por vezes, dou por mim a pensar na diferença que existe entre a vida quotidiana e o meu tempo de adolescente. Ainda não fui capaz de encontrar uma resposta definitiva que explique a razão de, hoje, com todos os avanços tecnológicos e a informação disponível num piscar de olhos, estarmos sempre sem tempo, enquanto, lá atrás, tínhamos uma vida agitada e ainda sobrava tempo.

Dizem-me que hoje tudo depende e acontece no expoente máximo da celeridade e isso é o motivo principal para o tempo ser gerido de forma diferente. Não sei como contestar esta visão porque, bem vistas as coisas, é possível nomear inúmeras situações que atestam essa realidade.

Antigamente remendavam-se as peças de roupa rombas. Fazia-se mais um furo no cinto. Compravam-se botões para substituir os que se perdiam. As calças velhas viravam calções. As toalhas e lençóis eram transformados em panos de limpeza.  Punha-se um calço na perna bamba da mesa. Hoje deita-se tudo fora e compra-se novo porque é mais fácil e rápido.

E esta nova forma de agir abrange também as interacções humanas. Ninguém tem tempo para encontrar soluções e resolver os problemas do dia-a-dia. Simplesmente vira-se a página porque tudo ficou sujeito a prazo de validade e nada, nem ninguém, consegue escapar à condição de descartável.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 18) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O tenente Costa perguntou sobre os panfletos, ele disse que nem sequer sabia dos seus conteúdos, porque foram rasgados. Foi-lhe dado um exemplar para ler e questionado se sabia quem havia escrito esses panfletos, ao que ele respondeu negativamente. Foi mesma a resposta dada pelos outros.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

sábado, 27 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 121 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

121

Há dias, como hoje, em que os dedos não se cansam de transpor, para as páginas digitais, a efervescência incontrolável desta minha mente hiperativa (tivesse eu nascido em tempos mais recentes e estaria agora encharcado de Ritalina).

A verdade é que este transtorno que me domina é um ingrediente essencial nos desafios que me proponho e, sem os quais, teria muito mais dificuldade em aceitar viver num tempo (este) que não deveria ser o meu.

Mas é aqui e agora que existo – consciente do meu desenquadramento temporal – e, por isso, permito-me à extravagância de coexistir em dois tempos, sem benefício de um em detrimento de outro.

Neste plano de existência, deambulo entre a esquizofrenia pontual e o paradoxismo permanente, com a maior das naturalidades e sem complexos doentios ou desviantes porque me compreendo, aceito e cumpro.

E assim será até ao fim.

EMANUEL LOMELINO

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 120 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

120

No conforto almofadado da minha trincheira de estudo e criação, deixo-me bombardear pelas ogivas de palavras dos pensadores de outrora.

Agasalho-me nas frases mais eloquentes e solto a esquizofrenia que me assiste, em diálogos mudos com todos eles – um por vez – até que a comichão me nasça nos dedos para que a coce numa folha de papel ou no ecrã do computador, como quem expõe um trauma de guerra.

Na maioria das vezes tudo ganha forma através de um conceito elaborado ou de uma ideia esparsa, mas com a força vulcânica de uma conversa interessante. Contudo, em alguns momentos, basta uma simples palavra para que surja um texto, sem outro propósito além da utilização dessa mesma palavra.

Depois entra em acção este meu lado de cientista experimentalista – a esquizofrenia sempre presente – para explorar diferentes abordagens e observar a aplicabilidade do termo em contextos distintos, nos quais, por norma, não caberia. Como neste texto que, sendo apenas um dos muitos exercícios de escrita que me proponho, é uma cócega nascida de uma conversa com Freud sobre os traumas que as trincheiras deixaram em muitos dos que por lá passaram.

EMANUEL LOMELINO

Amar é deixar ir (excerto 2) - Lícia Campos Valadares

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Para esta primeira grande viagem solo, meus pais me deram apoio psicológico e financeiro, equivalentes a um navio seguro com um marinheiro experiente, o que tornou a travessia tranquila e sem sobressaltos. Sou muito grata a eles por me deixarem partir, mesmo sabendo que eu não mais voltaria para sua casa.

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 119 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

119

Na íngreme e inclemente escalada da vida, sempre repleta de obstáculos expectantes e retardadores, não existem degraus baixos nem patamares lisos onde seja permitido cauterizar as mazelas e recuperar o fôlego, sem que a urgência do tempo não se faça sentir. Todas as decisões estão prenhes de imediatismo e há pouco espaço para hesitar. E tudo pesa mais a cada grão que se move na ampulheta.

Neste esforço continuado, sem pausas nem sossego, pode-se ganhar resiliência e robustez, mas perde-se vigor e agilidade.

Sendo certo que o mais importante é a satisfação do caminho feito, também não deixa de ser verdadeiro que as únicas medalhas conquistadas são adquiridas na dor, no sangramento, nas lágrimas, nas contrariedades, e isso é tudo menos justo ou animador porque as memórias de uma caminhada não deveriam ser apenas de sofrimento, mercurocromo e pensos-rápidos.

EMANUEL LOMELINO