terça-feira, 15 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 75 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

75

Quando os passos se tornam um fardo pesado, a mente, incoerente como só ela, afasta-se ainda mais do corpóreo e abraça o caos das ideias, como quem só consegue cumprir-se na desordem.

Então, num caleidoscópio de propósitos e desígnios emaranhados, surge o alheamento às mazelas do corpo e respirar volta a ser um gesto sem aflição.

Todos os hematomas, cicatrizes e feridas abertas transformam-se em galardões impessoais, como se, num golpe de mágica, os ardores e agonias dolorosas ganhassem a virtude da insensibilidade.

Os horizontes deixam de ser distância angustiante e invertem-se as prioridades – os sonhos dissipam-se e a verdade está nos detalhes do impalpável.

O tempo perde o brilho. A realidade é difusa. As pálpebras são cortinas. As vozes esfumam-se. O bocejo solta-se. E por fim adormeço anestesiado por esta esquizofrenia jazzística.

EMANUEL LOMELINO

O juramento (excerto 3) - Rose Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Enquanto retiravam seu corpo, surgia o vago no azul do leito emborrachado, seguido pela imensidão de um céu sem nuvens, que eu via pela janela agora aberta e, na mesma medida, um vazio ia se apoderando de mim. Fiquei aguardando o destino dali em diante tomar a direção. Mas não imaginava que a dor da sua partida permaneceria eternamente.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 74 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

74

Resisto ao desespero de ver-me despetalar por estes ventos raivosos que cismaram na minha erosão permanente.

A mente, que por vezes despede-se de mim, tende a ganhar sulcos áridos, com o simples propósito de transformar as ideias em desertos ásperos, onde predominam as sombras que detonam quaisquer certezas que a vida me tenha emprestado.

É no seio de uma lucidez dúbia que questiono as horas céleres, os passos enviesados, as plantas rasas, os voos dos pelicanos e aquele sentimento inútil de estar a ver os navios passarem, sem rumo nem porto pré-definidos.

Os horizontes ocultam-se numa penumbra de vozes contraditórias e há línguas de fogo em cada encruzilhada, dificultando a passagem, seja qual for o caminho escolhido, como se todas as direcções levassem ao mesmo mar de lava e desfortúnio.

O destino é um fardo afastado do entendimento lógico.

EMANUEL LOMELINO

Depois (excerto 3) - Daniele Rangel

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Quem nunca teve uma roupa guardada na esperança de caber nela de novo? Ou esperando um momento especial para vesti-la? Ou guardando simplesmente porque é difícil desapegar? Me acompanhou? Não estou falando de roupas, estou falando de versões guardadas nas gavetas e nos cabides da vida, na esperança de um dia serem usadas de novo.

EM - TUDO SOB CONTROLE - DANIELE RANGEL - IN-FINITA

domingo, 13 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 73 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

73

Todas as manhãs, aos primeiros raios de sol, amanhece-me uma revolta sufocada cujos sintomas são precações murmuradas e súplicas heréticas.

Estas sublevações mentais vespertinas nada mais são do que gritos rebeldes e contestatários pela contínua repetição dos dias, que nascem, correm e terminam sempre da mesma forma como fazendo parte de um looping infinito.

Mas este espírito amotinado peca pela incoerência porque a génese da insurreição é a mesma que suporta a via alternativa.

O problema que transtorna o âmago não existiria se a rotina fosse outra; se o rácio entre ónus e bónus fosse distinto; se as horas de responsabilidade não esmagassem as de placidez; se o tempo não se espartilhasse entre obrigações e deveres; se a respiração fosse compassada e não houvesse sangue, suor e lágrimas…

Enfim… as coisas são como são e amanhã, quando o sol raiar, cá estarei para sussurrar, entre dentes, mais alguns jargões e preces ofensivas, porque pior do que ter uma rotina indesejada é não ter rotina alguma.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 3) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ela deu uma pequena gargalhada coroada de descrença. Todo o seu corpo se manifestou como alguém que acabara de ouvir um absurdo. Tomei a iniciativa, fui até ela para retirar-lhe o que tinha à cabeça, por ser o volume maior. Ela deu passos para trás e desequilibrou-se.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

sábado, 12 de julho de 2025

Pensamentos literários 36 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

36

Os bons livros nunca são aqueles cujo enredo, a trama, ou a estória, são construídos na perfeição da lógica. Tampouco são aqueles em que o sol sempre brilha ou a chuva é louvor.

Um bom livro é aquele que incomoda, que incendeia os pensamentos, que agita o solo que pisamos, que estupra a mente deixando sementes de incógnita e desconforto.

Um bom livro é aquele que dá raiva, que inflama os sentidos, que provoca terramotos emocionais, que nos faz duvidar de todos os dogmas e acreditar que é utópico pensar em utopias.

Um bom livro é aquele que enfurece, que queima as pálpebras, que abala todos os alicerces, que nos chocalha de forma intermitente, que nos sacode a alma com violência.

Um bom livro é aquele que desperta as nossas sombras mais profundas, que faz brotar luz nas trevas do nosso ser, sem tabus nem condicionantes.

Um bom livro é aquele que nos revolta, que nos engessa, que nos decapita, que nos mutila, mas mesmo assim liberta-nos do fastio, da mesmice e das masmorras da ignorância.

EMANUEL LOMELINO

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 37 - Emanuel Lomelino

30-06-2024

Ei-los, os prisioneiros do infortúnio que deixaram de ver quando colocaram as vendas costuradas pelas próprias mãos e insistem na inocência, outorgando todos os delitos a terceiros.

Ei-los a marchar altivos nas suas algemas de sofrimento reptiliano, com lágrimas insonsas e esgares lamuriosos copiados de folhetins radiofónicos.

Vejam quão intensas são as improvisações cénicas, com gestos eloquentemente fátuos de exagero, gritos estridentes de vergonha alguma e prantos de vexame enlameado.

Vejam como se amontoam nos muros da choradeira e alardeiam em danças uníssonas os seus pesares comuns, como insectos a comunicar novos lugares de colheita.

Ah, essas vítimas de culpa alheia que sofrem nos labirintos da comiseração enquanto apontam o indicador em todas as direcções esquecendo-se de observar os outros dedos.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 72 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

72

Soltam-se as plumas da noite e a lua – porta-estandarte de todos os astros – deixa-se ver no máximo expoente das suas crateras, como quem exibe umbigos e brotos. E nem a obscuridade dos cúmulos noturnos lhe retira o brilho emprestado.

Na sua nudez aristocrática e presunçosa derrama uma áurea hipnótica, quase magnética, que cativa os uivos caninos, o trinar das guitarras e os apetites canalhas dos malandros mais ousados.

Também os gatos, felinos com refletores nos olhos, demonstram boémia ao luar e por isso fazem dos telhados os seus lugares de eleição para escrutinarem eventuais descuidos de roedores audazes, juntando-se, assim, às corujas de olho grande e aos morcegos acrobatas.

E quando os aspersores molham os jardins, a horas fora-de-horas, são mais os sonos consumados do que as insónias imprevistas ou propositadas, e os pirilampos – quais vigilantes de turno – iluminam os caminhos aos louva-deus e às formigas que perderam a noção do tempo, por terem preferido assistir ao concerto integral das cigarras vagabundas.

EMANUEL LOMELINO

O juramento (excerto 2) - Rose Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ela me ensinou a nunca mentir. Prometi que sim. Mas uma criança não compreende a intensidade das promessas, menos ainda o peso real de suas verdades ou mentiras. E depois, vê-la no leito sem movimentar as pernas, braços, definhando junto àqueles lençóis encardidos, fria no calor daquele quarto de hospital, me impulsionou a não desanimar com nossa separação.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Pensamentos literários 35 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

35

Os escritores são seres camaleónicos, quase trapezistas, que deambulam, em equilíbrio precário, na ténue linha que separa a realidade da ficção.

Tanto vestem as suas cores como outras peles, de acordo com a sensibilidade que têm ou desejariam ter, numa busca incessante da perfeição que sabem não existir.

Percorrem trilhos de convicção, por vezes contrária aos seus princípios morais, apenas para dar humanismo às suas letras e ficarem mais próximos das verdades daqueles que os leem.

Os escritores são personagens com múltiplas caras e outras tantas esquizofrenias, em benefício da criação, em nome da obra, em prol da literatura, em proveito próprio.

Afirmo. Por mais que se consigam interpretar os textos, é impossível conhecer um escritor através das palavras. Até se pode identificar a origem de algumas feridas ou detectar cicatrizes, mas nunca a essência das escaras.

EMANUEL LOMELINO

Depois (excerto 2) - Daniele Rangel

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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“Depois” era uma palavra já familiar. Observando essa mãe, fico pensando se maternidade é sinônimo de anulação. Nasce uma mãe e parece morrer uma mulher que preexistia a esta versão. Será que esse luto vem no combo? Será que todas as versões precisam mesmo morrer? Será que não é deixar muito peso para a maternidade essa falta de tempo para tudo? Observando esta mãe, penso nas roupas do guarda-roupa. Sim, vou construir uma metáfora, me acompanhe.

EM - TUDO SOB CONTROLE - DANIELE RANGEL - IN-FINITA

terça-feira, 8 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 71 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

71

Esgotou-se-me o sono, como acontece em todas as madrugadas de preguiça, e fico aqui, estaticamente deitado, a observar o silêncio aleatório da noite alta.

Na fluorescência dos pensamentos, que roem as sobras da modorra corporal, dou por mim a vaguear entre sonhos esbatidos, convicções dormentes, desejos impertinentes, certezas dúbias e outras leviandades do espírito, que só o próprio poderia explicar se fosse essa a sua vontade (que nunca é).

No meio desta sessão de tramas tão absurdas quanto despropositadas – porque a clareza das ideias nocturnas hão de esbater-se nos labirintos do mundo real – oiço o início da sinfonia piadora das aves, empoleiradas nos inexpressivos salgueiros, como estivessem a culpar-me pela sua insónia.

Abeiro-me da janela e solto um chiu mental para não acordar a vizinhança, e os pássaros, que parecem entender-me durante meio segundo, regressam às suas reclamações chilreadoras com vigor redobrado.

Perante a insolência canora, volto ao leito que esfria e sou esbofeteado pelo único pensamento lúcido que os primeiros raios solares iluminam: ainda estou de estômago vazio.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 2) - Pedro Sequeira de Carvalho

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No dia vinte de dezembro verificava-se na loja alguma movimentação, superior aos dias anteriores. O motivo, inicialmente por mim desconhecido, era a véspera do dia 21 de dezembro, o dia de Santo Tomé poderoso. Estava na loja acompanhado do livro que estava lendo “A cabana do Pai Tomaz”.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 70 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

70

Afastei-me do mundo na consciência deste egoísmo que conservo, nas coisas que me são próximas, nas ideias que me motivam, na defesa de um legado (que também carrego nos ombros, em virtude de uma paixão autoalimentada, à base de crença e platonismo assumido).

Afastei-me do mundo na convicção deste interesse que mantenho, na paz do silêncio, na tranquilidade da reflexão, no apego ao equilíbrio emocional, na estima pela herança imaterial deixada por literatos coerentes, cujas palavras (leia-se obras) conseguiram, de alguma forma, indicar-me os caminhos a percorrer até encontrar a minha voz literária.

Afastei-me do mundo para deixar de sentir incómodo pela postura ébria e circense das letras contemporâneas, que apenas existem porque as luzes e ribalta anarquizaram-se em nome de uma originalidade desordenada, que nada mais é do que oposição aos clássicos por evidente falta de capacidade inovadora.

Afastei-me do mundo, simplesmente, porque o mundo nada me diz, eu já disse tudo o que havia para dizer, e agora apeguei-me a este outro mundo que tenho entre mãos.

EMANUEL LOMELINO

domingo, 6 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 69 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

69

A aspereza rústica nas dobras dos dedos, que já dificulta cerrar os punhos, mais do que embrutecer o individuo, esconde a civilidade branda do toque.

A rijeza da derme tisnada pelo sol, curtida pelo vento, esculpida pela chuva, mais do que mirrar o corpo, oculta a polidez sensível do carácter.

O olhar rubro-vítreo, com cataratas e teias bailarinas, mais do que sombrear os horizontes, mascara o discernimento da alma.

Por mais tosco e quebrantado que alguém possa parecer, nunca podemos esquecer que a própria natureza é dissimulada e um simples pedaço de carvão pode ser um diamante camuflado.

EMANUEL LOMELINO

sábado, 5 de julho de 2025

Devaneios sarcásticos 23 - Emanuel Lomelino

Devaneios sarcásticos 

23

Já perdi a conta ao número de vezes em que te falei sobre a migração das aves sazonais. Sim, aquelas que pavoneiam as dermes pintadas com as cores da moda e, quando a ilusão do estio se arrasta na imodéstia dos oásis virtuais, revelam a sua natureza necrófaga.

Pertencem a uma espécie com altos índices de propagação, têm uma habilidade ímpar para o logro e são capazes de metamorfosear-se de acordo com as necessidades e/ou conveniências.

Alertei-te também para a perspicácia destes seres que sabem “veneziar-se” sob as luzes dos holofotes enquanto as sombras albergam os seus verdadeiros rostos.    

Dito isto, e porque muitos desconhecem o carácter maledicente de papagaios, corvos, araras, gralhas, pavões e abutres, o melhor é não colocar milho nas mãos nem alpista nos comedouros, não vá algum outro passeriforme cuspir nos pratos que lhes tens servido.

EMANUEL LOMELINO

O juramento (excerto 1) - Rose Pereira

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Uma tal síndrome paralisou em pouco tempo o corpo de Marta. Começou com uma fraqueza e formigamento nas pernas que se espalharam para a parte superior. Afetou o coração e outros órgãos. Ela necessitava de atendimentos emergenciais e medicamentos específicos e onerosos, indisponíveis naquele hospital público da pequena cidade de interior. Assim, devido à falta de recursos financeiros, ou, quem sabe, de alguém que pudesse pleitear em favor de sua vida junto às autoridades locais, restou aguardar que o tempo revertesse as sequelas graves.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Prosas de tédio e fastio 68 - Emanuel Lomelino

Imagem vecteezy

Prosas de tédio e fastio 

68

São poucos, infelizmente, aqueles que têm consciência da diferença entre o que se pensa saber e a sabedoria que se possui.

Vê-se por aí tanta gente a exibir certezas absolutas sem conhecimentos básicos, como se as verdades de cada vida fossem dogmas universais.

Se só existissem rectas e vias paralelas, talvez pudéssemos aplicar uma linearidade transversal, no entanto, todas as encruzilhadas, cruzamentos, desvios, e livre-arbítrio, demonstram quão longe a humanidade está de poder considerar a vida uma ciência exacta como a matemática mais simples.

Apesar do ponto de partida e de chegada ser o mesmo para todos, sem excepção, os caminhos entre o início e o fim diferem. E tudo isto é assim porque, na contabilidade da vida, podem-se fazer muitas contas diferentes para se obter um só resultado.

EMANUEL LOMELINO

Depois (excerto 1) - Daniele Rangel

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Certa vez, a mãe desta história passou numa livraria para comprar canetinhas para os filhos, coisas de material escolar. Ao passar por uns pincéis, lembrou-se do tempo em que pintava e bateu uma saudade das telas, as tintas. Nostálgica, pensou em levar uma tela pequena, algo simples, só para dar umas pinceladas.
— Depois eu compro. Não vou ter tempo agora.

EM - TUDO SOB CONTROLE - DANIELE RANGEL - IN-FINITA

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Epístolas sem retorno 36 - Emanuel Lomelino

Fernando Pessoa
Imagem pinterest

Prezado Fernando,

A leitura, para além de ser uma actividade lúdica, em que, querendo, se aprende bastante, é um bálsamo que despenteia a preguiça de alguns neurónios adormecidos pelas desventuras das horas-trolhas e regenera as cores que se esbatem na pobreza do dia-a-dia.

Mas nem tudo são flores – pelo menos para mim – porquanto, algumas vezes (talvez demasiadas) dou por mim a barafustar com as páginas de um ensaio ou dissertação pelo uso abusivo de palavras que, apesar de lhes conhecer o significado, me travam a língua e desviam o foco.

Entre outras, porque existem muitas mais, dou como exemplo “exegese” e “procrastinar”, duas palavras que dificilmente escutamos saídas da boca de oradores (incluída a minha), mas usadas com frequência em textos críticos e filosóficos, que têm o condão de prejudicar a fluidez das minhas leituras, pela sequência silábica que encerram.

Nessas alturas, emerge em mim uma vertigem de pensamentos e, para lá da revolta pela consciência do quão fraca a minha dicção pode revelar-se, não consigo evitar lembrar-me de alguns autores, da nossa praça de insignificância, que utilizam palavras semelhantes nos seus textos quando oralmente, mal sabem pronunciar “mortadela”, “candelabro”, “álcool” ou “otorrino”.

Supérfluo

Emanuel Lomelino

O branco e a preta (excerto 1) - Pedro Sequeira de Carvalho

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Estava claro que em São Tomé eu só tinha uma qualidade, que era ser filho do Costa Marques e, talvez, um defeito, por me chamar de Carlos. Pior ainda, o Txóco não me permitia fazer nada. “O senhor não sabe ainda como que se faz isto.” Era a reação dele quando eu tomava alguma iniciativa.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA