Já todos deram conta que, de modo geral, existem dois
pesos e duas medidas quando as pessoas comentam textos nas redes sociais,
dependendo do género utilizado. Quando se trata de prosa os comentários são
mais direccionados para a qualidade da escrita e beleza do texto; quando os
textos são de poesia os comentadores fazem o papel de sábios e, mais que
comentar, aconselham; como se houvesse um maior afastamento entre os prosadores
e os seus textos e a ligação dos "poetas" à sua "poesia"
fosse umbilical. Serve a constatação anterior para dizer que a maioria dos
leitores tende a catalogar a pessoa que escreve através dos textos que produz,
isto é, quem lê julga que passa a conhecer a essência da pessoa que escreve.
Particularizando esta situação, tenho dado conta que,
quem lê o que escrevo, comete dois erros de apreciação:
1- As pessoas comentam os meus textos como se o que
ali está escrito é a minha realidade do momento e nem se apercebem que, salvo
raras excepções, só publico as minhas criações pelo menos um ano depois de as
escrever.
2- Confundem o que sou como pessoa com aquilo que sou
enquanto autor. Escrever sobre amor não faz de mim um romântico inveterado,
escrever sobre solidão não faz de mim um ermita, escrever sobre tristeza não
faz de mim um eterno infeliz.
Dito isto, quero focar-me, de forma suscita, no
segundo ponto e dizer que apesar das ilações, percepções e toda e qualquer
ideia que possam ter em relação a mim, fruto das leituras que fazem dos meus
textos, a verdade é que dificilmente encontrarão nas vossas vidas alguém com
uma força mental idêntica à minha. Quem me conhece pessoalmente sabe que, em 43
anos, apenas as dores de dentes me impediram de dormir tranquilamente; e mesmo
essas nem sempre foram bem sucedidas. Resumindo, eduquei-me a ficar indiferente
às coisas e só me pode fazer mal aquilo que eu deixar. Como não gosto de me
sentir mal... não deixo.
Para que serve toda esta prosápia? Serve para explicar
as razões que me levam a ter atitudes como a que tive, há precisamente um mês atrás,
ao escrever o último artigo deste blogue. Serve para dizer que eu entro nestas
"lutas" porque tenho a força mental suficiente para o fazer. Serve
para introduzir os acontecimentos posteriores ao meu artigo anterior.
Agora alguns factos isolados que desvalorizei (como
sempre faço) e que hoje descobri estarem relacionados:
1- Devido a um serviço (pelo qual fui pago) fiquei
como administrador de um grupo relacionado com uma antologia. Findo esse
serviço e apesar de continuar como um dos administradores do grupo, deixei, por
iniciativa própria, de geri-lo. Recentemente dei conta que tinha deixado de
receber notificações desse grupo mas, como isso não é uma dor de dentes,
desvalorizei.
2- Quem acompanha o meu perfil no FB reparou que há 9
dias escrevi um texto a insurgir-me contra uma denúncia que foi feita contra o
meu perfil e que me impedia de partilhar, através do meu perfil, os poemas da
minha página de autor, nos grupos a que estou associado. O acto em si não me
afectou em nada, porque não é dor de dentes, mas quem não se sente não é filho
de boa gente e eu até sou...
3- Faz hoje 21 dias que recebi uma mensagem privada,
daquele que eu apelidei no texto anterior de "a voz dos Orishas", com
alguns reparos à utilização que fiz do apóstrofo no meu poema «SE O AMOR...».
Mensagem vem, mensagem vai, enviei os artigos que regem a utilização do
apóstrofo na gramática portuguesa para provar que o erro que me era apontado
não está contemplado na respectiva regra. Não houve resposta.
Hoje, ao fazer limpeza da minha caixa de mensagens,
dei conta que, na troca de mensagens que refiro no parágrafo anterior, o nome
do sujeito estava em negrito (como quando uma página é desactivada ou alguém
bloqueia o nosso acesso à sua página). Sendo eu como o Casimiro da canção do
Sérgio Godinho, fui investigar e o que descobri uniu os pontos soltos que
mencionei anteriormente.
O dito sujeito foi nomeado administrador do tal grupo
e uma das suas primeiras funções foi, não só retirar o meu nome como
administrador, mas também excluir-me do grupo e bloquear-me o acesso ao mesmo
(nenhuma dessas acções me afecta minimamente). Só que a forma como o fez
impediu-me de partilhar, através desse perfil, a poesia da minha página de
autor, nos restantes grupos.
Aqui chegados, quero deixar duas notas para justificar
os parágrafos introdutórios deste artigo.
1- Não se deixem iludir pelo que escrevo nos meus
poemas. O que lá aparece não é a totalidade de mim. As fragilidades, as
angústias, as tristezas e outras características que ali aparecem não são
obrigatoriamente as minhas. Não se esqueçam do que Fernando Pessoa escreveu
sobre os poetas!
2- A força mental que tenho e a desvalorização que
faço das situações não querem dizer que fique impávido e sereno no meu canto
sem reagir em conformidade. Uma coisa é não deixar-me afectar com as coisas,
outra bem distinta é deixá-las passar impunemente ou fingir não as ver.
Para finalizar quero deixar bem claro que sou
apologista da pluralidade de opiniões e todas devem ser respeitadas. Sei que
cada um de nós tem a sua verdade e muitas vezes essa choca com a verdade dos
outros. E também sei que quem não tem força mental e argumentos sólidos para
fazer prevalecer a sua verdade transforma-se em fundamentalista e acaba por
fazer desmoronar a sua verdade ao prejudicar os outros.
Já disse muitas vezes: não sou exemplo para ninguém
mas também não os prejudico.
MANU DIXIT