quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Diário do absurdo e aleatório 156 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

156

Como tantas outras vezes, iniciei a jornada sem destino premeditado – de peito aberto, ao sabor da despreocupação e empurrado pela brisa de cada dia.

Mas, ao contrário de outras caminhadas, decidi arregaçar as mangas, debastar os matagais mais densos, retirar, à força de músculos, os basálticos obstáculos, sem recuar nos inúmeros momentos em que alguns estilhaços, mais afiados do que cutelo de talhante, rasgavam a pele.

Hoje, avaliando as viagens, vejo que todas elas, independentemente do meu grau de resiliência e sacrifício, apenas me fizeram gastar as solas e voltar à estaca zero. Desta vez sem possibilidade de recauchutar os sapatos.

EMANUEL LOMELINO

1 comentário:

  1. O interessante é a análise que cada indivíduo faz de acontecimentos comuns a quase toda a humanidade. Sinto exatamente o mesmo. Mas acho que nunca voltamos à estaca zero como partimos. O mais importante é a caminhada, a tentativa, o erro, a vivência, a experiência, a entrega, e mesmo com solas gastas e sempre voltando ao vazio solitário do início,
    com mais algumas cicatrizes que todos os estilhaços deixaram na alma, no coração, no pensamento e no corpo, são lembranças de que estivemos em algum lugar, que fomos capazes de mergulhar com coragem no desconhecido, que nos permitimos viver com intensidade e verdade e que, de alguma maneira, por pior que tenha sido o final, por mais difícil que tenha sido cada passo, que queimaram os pés, feriram com bolhas, ousamos experimentar e olhar além de nós mesmos, permitir amar, sentir paixão e acreditar é o que torna a vida mais bela, que ao abrir mão de nossas convicções e forma de ser e estar é a melhor maneira de seguir em frente de mãos dadas com o nosso sonho. A fórmula certa, ninguém tem, mas podemos aprender a partir do que nos feriu ou tirou da zona de conforto. E isso dói muito, mas ensina a sermos mais fortes e resilientes. Lembrar que a história sempre será revivida da forma mais bonita, pois o tempo nos empurra para o início da jornada, e a vida sempre nos mostra o quão somos infinitos na arte de recomeçar.

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