terça-feira, 7 de novembro de 2017

EU FALO DE... CONSUMO DE LIVROS


A sempiterna questão do fraco consumo de livros em Portugal foi um dos temas discutidos no LiterAl - 2º Encontro Literário de Alenquer.

Jaime Rocha e Isabel Stilwell (que compunham este painel comigo) expuseram as suas opiniões, as quais subscrevo na totalidade, no entanto, tal como referi no evento, sendo válidas e importantes na abordagem da temática, não deixam de ser reflexo do que é habitual em Portugal, onde se discutem as consequências e não as origens dos problemas.

Nesta matéria, creio que, mais que discutir o pseudo-fraco consumo de livros e o que dai pode advir, seria bem mais produtivo e útil entender o que dá origem a essa ideia ou a esse facto. Mais do que perdermos tempo a encontrar culpa no uso abusivo das novas tecnologias, deveríamos centrar o nosso foco nas questões essenciais. E neste meu texto tentarei responder a algumas delas.

1 - Será que há efectivamente um fraco consumo do objecto livro?Sinceramente custa-me acreditar que isso corresponda inteiramente à verdade. Usando da minha percepção enquanto divulgador e adicionando dados concretos a este respeito - por semana são editados mais de 60 novos títulos - custa-me acreditar que estes números existissem se não houvesse quem os leia. 

2 - Mas, se estes são os números reais, como se explica o baixo nível de consumo nas livrarias? Diz-me também a experiência que, hoje em dia, a maioria dos livros são vendidos nas sessões de lançamento e apresentações. Os exemplares vendidos nas livrarias são uma percentagem residual e, talvez por isso, haja essa ideia do fraco consumo de livros.

Levando em consideração estas duas questões, chega-se facilmente à conclusão que os únicos que se queixam sistematicamente do fraco consumo de livros são os livreiros.

Mas, perante esta minha afirmação, muitos podem contrapor que também há muitos editores e autores a queixarem-se. Sim, é verdade. No entanto temos que analisar bem que editores e autores se queixam e do que se queixam realmente. E quando fazemos essa análise concluímos que os "queixosos" são precisamente aqueles que pouco ou nada fazem pelo que editam (sejam editores ou autores) e, por norma, queixam-se sem argumentos que possam ser levados a sério. Como posso eu levar a sério alguém que se queixa de vender poucos livros quando:

a) não fazem divulgação do livro - assim, como podem as pessoas saber onde podem adquirir o livro?

b) se queixam da fraca afluência de autores nos lançamentos e apresentações - afinal os autores escrevem para outros autores ou para o público?


Perante tudo o que escrevi, só posso concluir que o fraco consumo de livros é uma falsa questão. Então, sendo uma falsa questão, como se pode alterar essa percepção errada? Não sei qual a solução mais acertada mas posso sugerir uma primeira via... Passem as editoras (ou os verdadeiros editores) a serem mais criteriosos no que editam e não o façam apenas e somente com olhos nos cifrões. Se começarem a agir dessa forma talvez os leitores que compram gato por lebre deixem de o fazer e tenham poder de compra para adquirir livros de outros com mais valor, aumentando assim as vendas daqueles que realmente fazem da escrita uma arte que vale a pena ser consumida. Se isso acontecer e existir uma menor dispersão dos leitores, talvez os números se alterem em favor dos que se queixam... mas com razão...

MANU DIXIT

2 comentários:

  1. Excelente artigo. Também discordo dessa ideia de que existe um fraco consumo de livros. Uma das pessoas que conheci e que mais livros comprava vivia numa barraca com pouco espaço e lia para combater os estados depressivos causados pela pobreza e pelas doenças graves dos familiares que a confinavam àquela realidade. Felizmente, conseguiu sair do bairro de barracas (os familiares doentes morreram todos) e continua a ler imenso. Ela diz que foram os livros que lhe deram força para procurar uma vida melhor e que os mantém consigo até hoje.

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