A sempiterna questão do fraco consumo de livros em
Portugal foi um dos temas discutidos no LiterAl - 2º Encontro Literário de
Alenquer.
Jaime Rocha e Isabel Stilwell (que compunham este
painel comigo) expuseram as suas opiniões, as quais subscrevo na totalidade, no
entanto, tal como referi no evento, sendo válidas e importantes na abordagem da
temática, não deixam de ser reflexo do que é habitual em Portugal, onde se
discutem as consequências e não as origens dos problemas.
Nesta matéria, creio que, mais que discutir o
pseudo-fraco consumo de livros e o que dai pode advir, seria bem mais produtivo
e útil entender o que dá origem a essa ideia ou a esse facto. Mais do que
perdermos tempo a encontrar culpa no uso abusivo das novas tecnologias,
deveríamos centrar o nosso foco nas questões essenciais. E neste meu texto
tentarei responder a algumas delas.
1 - Será que há efectivamente um fraco consumo do
objecto livro?Sinceramente custa-me acreditar que isso corresponda inteiramente
à verdade. Usando da minha percepção enquanto divulgador e adicionando dados
concretos a este respeito - por semana são editados mais de 60 novos títulos -
custa-me acreditar que estes números existissem se não houvesse quem os
leia.
2 - Mas, se estes são os números reais, como se
explica o baixo nível de consumo nas livrarias? Diz-me também a experiência
que, hoje em dia, a maioria dos livros são vendidos nas sessões de lançamento e
apresentações. Os exemplares vendidos nas livrarias são uma percentagem
residual e, talvez por isso, haja essa ideia do fraco consumo de livros.
Levando em consideração estas duas questões, chega-se
facilmente à conclusão que os únicos que se queixam sistematicamente do fraco
consumo de livros são os livreiros.
Mas, perante esta minha afirmação, muitos podem
contrapor que também há muitos editores e autores a queixarem-se. Sim, é
verdade. No entanto temos que analisar bem que editores e autores se queixam e
do que se queixam realmente. E quando fazemos essa análise concluímos que os
"queixosos" são precisamente aqueles que pouco ou nada fazem pelo que
editam (sejam editores ou autores) e, por norma, queixam-se sem argumentos que
possam ser levados a sério. Como posso eu levar a sério alguém que se queixa de
vender poucos livros quando:
a) não fazem divulgação do livro - assim, como podem
as pessoas saber onde podem adquirir o livro?
b) se queixam da fraca afluência de autores nos
lançamentos e apresentações - afinal os autores escrevem para outros autores ou
para o público?
Perante tudo o que escrevi, só posso concluir que o
fraco consumo de livros é uma falsa questão. Então, sendo uma falsa questão,
como se pode alterar essa percepção errada? Não sei qual a solução mais
acertada mas posso sugerir uma primeira via... Passem as editoras (ou os
verdadeiros editores) a serem mais criteriosos no que editam e não o façam
apenas e somente com olhos nos cifrões. Se começarem a agir dessa forma talvez
os leitores que compram gato por lebre deixem de o fazer e tenham poder de
compra para adquirir livros de outros com mais valor, aumentando assim as
vendas daqueles que realmente fazem da escrita uma arte que vale a pena ser
consumida. Se isso acontecer e existir uma menor dispersão dos leitores, talvez
os números se alterem em favor dos que se queixam... mas com razão...
MANU DIXIT
Excelente artigo. Também discordo dessa ideia de que existe um fraco consumo de livros. Uma das pessoas que conheci e que mais livros comprava vivia numa barraca com pouco espaço e lia para combater os estados depressivos causados pela pobreza e pelas doenças graves dos familiares que a confinavam àquela realidade. Felizmente, conseguiu sair do bairro de barracas (os familiares doentes morreram todos) e continua a ler imenso. Ela diz que foram os livros que lhe deram força para procurar uma vida melhor e que os mantém consigo até hoje.
ResponderEliminarGrato pela visita e testemunho...
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