O
TOCA A FALAR DISSO inicia hoje esta rúbrica cujo objectivo primeiro é ajudar a
dinamizar a cultura no seu todo e a poesia lusófona em particular. Desde já o
meu profundo agradecimento ao poeta ANTÓNIO MR MARTINS por aceitar ser o meu
primeiro entrevistado, apesar da pouca visibilidade que este blogue ainda tem.
APRESENTANDO O AUTOR E A
OBRA
António
MR Martins, poeta com diversas participações em concursos de poesia e jogos
florais, já conquistou alguns prémios e menções honrosas. Alguns dos seus
poemas apareceram em publicações aquém e além fronteiras. É uma presença
assídua em antologias e colectâneas de poesia e é autor dos livros: SER POETA,
QUASE NO FEMININO, FOZ SENTIDA, ÁGUAS DA TERNURA e MÁSCARA DE LUZ.
1 - Como se define enquanto poeta?
Não consigo definir-me nesse
contexto. A poesia sempre acompanhou a
minha vida. Na forma escrita, até determinada altura, e depois, mais tarde, na
leitura, também. Hoje adoro interagir com essas duas formas de abraçar a
escrita poética e seus autores. Quanto ao que comigo acontece: as coisas fluem,
de certo modo, gosto de brincar com as palavras, fazendo-as embalar na folha de
papel (hoje no ecrã do monitor do meu computador). É esse o meu jogo preferido,
uma diversão constante. Não tenho uma linha coerente definida, as coisas saem
como têm de sair, nada mais. Não existem temáticas específicas, abrangentes a
tudo quanto escrevi até hoje, que andará à volta dos três milhares de poemas.
Nesse preceito sustenho a opinião de quem me lê e gosta, verdadeiramente,
interiorizando esse contingente de palavras de apoio e de incentivo, que vou
filtrando à minha maneira, no sentido de descortinar novos rumos para os versos
que vou criando. Às vezes as palavras e comentários negativos são mais
importantes para os próximos desenvolvimentos, é assim que vamos aprendendo,
mais e melhor. Nada se inventa, as palavras existem e cada poeta as coloca no
lugar que ache melhor, então surge a nova criação, nada mais do que isso.
Todavia esse discernir, essa procura, essa opção é de uma sedução não
quantificável. A poesia para mim, como para todos os poetas (suponho) é uma
autêntica paixão. Toda essa envolvência, que esta forma de escrita nos
proporciona, me agrada sobremaneira e torna-se um êmbolo inspirador para mais e
novos caminhos na minha inerente criação. Até quando? Isso, não sei. Mas espero
que seja até ao último momento em que consiga agarrar numa caneta e transferir
para o papel, ou para o computador, ou ainda para quaisquer outros meios que
nos vão surgindo, ao longo de nossas vidas, tudo aquilo que me vai na mente,
devidamente filtrado. Adoro escrever.
2 - Quais as suas motivações para escrever e que
objectivos pretende alcançar com a sua poesia?
As motivações para a escrita são
as que se prendem com as minhas experiências na vida, com a vida propriamente
dita e com tudo aquilo que a rodeia. A inspiração não me é difícil de
conseguir, pelo menos assim tem sido, até ao momento. Uma simples pedra, por
exemplo, poderá ser inspiradora para tal, basta que o interiorize. Quanto aos
objectivos: os horizontes serão menos amplos, pois todos sabemos como a cultura
é abraçada por quem governa, o nosso país, e a literatura quase é vetada ao
esquecimento, sendo a poesia o seu ramo mais pobre nesse destino. E sendo essa
a amostragem que nos assiste, diariamente, pouco mais há a dizer sobre isso.
Muito gostaria que tudo fosse bem diferente. Resta-me continuar a escrever, o
que for possível, e sobre isso tenho uma certeza: tal far-me-á, sempre, muito
bem. Servirá, sobretudo, para esquecer (ou tentar) esta malfadada crise que
atormenta a sociedade em que me insiro e nos vem reduzindo, cada vez mais,
nossos proventos. Espero que em oposição faça aumentar a minha envolvência com
as palavras para que haja um pouco de felicidade no caminhar do meu tempo
existencial, com essa forma de escrita que adoro, em todos os sentidos: A
POESIA.
Há tanta referência à volta da
poesia que vou aglutinando, e não falo só dos consagrados. Todos os dias sou
surpreendido com coisas boas e inesperadas, por mais pequenas que sejam (em
extensão), bem relevantes. Posso referir dez nomes ou cinquenta para mim
saber-me-á, sempre, a pouco, pois eu gosto de interagir com a poesia venha ela
donde vier. E, todos os dias, no facebook tenho encontrado muitos nomes de
valor (para alguma coisa servem estas redes sociais e no que se refere à poesia
tem sido muito profícua, sem dúvida, este compartilhar da palavra poética,
virtualmente), que vou aprendendo a ler e a conhecer. Todavia não quero deixar
de responder ao objectivo da pergunta e assim vou indicar cinco nomes
consagrados e outros cinco contemporâneos: Fernando Pessoa, um poeta de quem
gosto generalizadamente, mais em pormenor no seu heterónimo Alberto Caeiro,
Florbela Espanca, a poetisa do amor, por vezes bem sofrido, Manuel Maria
Barbosa du Bocage, que considero o “rei” dos sonetos, o brasileiro Carlos
Drummond de Andrade, que é exímio na sua forma de poetar e na abordagem que faz
dos diversos temas que nos deixou e Eugénio de Andrade, um dos maiores no
retratar poético dos sentimentos, este um poeta que continuo a conhecer e
reconhecer, pois é recente o meu conhecimento leitor da sua obra, mas tudo o
que dele me surgiu pela frente é, simplesmente, maravilhoso, mas muitos mais
haveria a referenciar. No entanto como falei em cinco, fico-me por aqui. Quanto
à nossa contemporaneidade refiro António Ramos Rosa, Gastão Cruz, Vítor Cintra,
António Paiva e Al Berto, e aqui haveria muitos mais, também, a salientar,
situando-se muitos deles no meu rol de amigos poetas, com os quais interajo
diariamente, num salutar e compensador intercâmbio de palavras.
4 - Como vê o estado actual da poesia em Portugal?
Sei que muita coisa prolifera nos
caminhos virtuais e não só. Surge muito trabalho editado de somenos
importância, para muitos, mas isso não me melindra, de forma alguma. Tudo faz
parte da criação do indivíduo, enquanto poeta, perante o seu ego. E eu gosto de
deixar sempre uma palavra de incentivo ou de carinho para quem se predispõe a
apresentar os seus poemas. Agora a poesia como produto vendável, não o é, mas isso
já todos sabemos. Apesar de tal, penso que se escreve poesia de muita qualidade
em Portugal e ainda há muitos autores a fazê-lo nessa perspectiva e nessa linha
criadora. Isso é muito bom.
5 - Como reage à proliferação de "poetas" e
grupos de poesia nas redes sociais?
Sinceramente é uma coisa que não
aprecio. Essa proliferação de grupos e se, quando criados, nos colocam
inseridos nos mesmos, sem nos questionarem sobre esse interesse, ou efeito.
Depois muita coisa passa e se repete, de forma contínua, que depois se vai
esfumando interminavelmente. Aí sou mais comedido, há três ou quatro sítios
onde publico alguns poemas e tenho o meu blogue “Poesia Avulsa”, onde,
alternadamente coloco trabalhos meus e de outros autores, e isso, sim,
fascina-me.
6 - Tendo em conta que o hábito de leitura dos
portugueses é reduzido, o que acha que deve ser feito para modificá-lo?
Nesse âmbito tem de ser feito um
trabalho de fundo para incrementar o gosto pela leitura a partir da idade em
que se aprende a ler. Esse papel deveria ser fomentado pelos pais, em primeiro
lugar, mas esta envolvência social faz com que essa possibilidade se esfume,
sem qualquer outro tipo de volta a dar a essa questão. Portanto a escola
deveria ter um papel fulcral no sentido de influenciar essa linha de conduta,
que é essencial para a educação e criação de uma sociedade mais forte e mais
válida, mas, nessa possível conjugação, vejo muitas nuvens negras, parecendo-me
que por mais que se diga sobre o percurso a encetar para essa realização, tudo
se fundamentará em meras palavras vãs, pelo menos nesta conjuntura e na
sociedade que a envolve.
7 - Projectos pessoais para o futuro!?
Os projectos não serão muitos.
Quero continuar a escrever, o que faço diariamente. Tenho cinco livros editados
“Ser Poeta”, “Quase do Feminino”, “Foz Sentida”, “Águas de Ternura” e “Máscara
da Luz”, todos sob a chancela Temas Originais e tenho cinco ou seis já prontos
para esse efeito. Se houvesse intenção e possibilidade para tal, assim
aconteceria, mas não me parece que tal vá suceder, atendendo a como as coisas
estão, no momento. Vou participando em alguns trabalhos antológicos e
publicando alguma coisa nos sítios com os quais estou, habitualmente,
envolvido, com as minhas palavras e com a de outros autores. Penso que neste
momento não tenho muito mais a adiantar sobre esse assunto.
8 - Sugira dois poetas!
Vou indicar dois poetas menos
conhecidos que gosto muito de ler. Penso que poderia referir mais nomes, mas
é-me pedido para sugerir dois e é isso que vou fazer, eles aqui vão: Raquel
Naveira (brasileira), é extraordinária a sua forma de escrever, na alusão
histórica e da memória, com um uso vocabular de sentido metafórico, por vezes,
e eloquente sobretudo, fora do comum, e Dalila Moura Baião, sempre interventiva,
fazendo-o de uma forma superior e escrevendo sobre a natureza, prioritariamente
sobre o mar e tudo o que ele encerra, de uma forma única, fazendo-o muito bem,
também.
9 - Sugira dois livros!
“Amar-te em silêncio”, de Vera
Sousa Silva, Edium Editores, 2009, porque gosto muito e, também, porque após o
seu lançamento se abriu o caminho para o surgimento do meu primeiro livro,
aliás esse livro teve o condão de permanecer largos meses na minha
mesa-de-cabeceira (e na de minha mulher), sendo, depois de lido e relido,
diversas vezes consultado. Ainda hoje pego nele e o folheio com imenso gosto.
Tudo o que se iniciou nessa época que se tornou inesquecível, para mim. Para
além de tudo isso, aprecio muito o que a Vera, habitualmente, escreve. O outro
“Horto de Incêndio”, de Al Berto, Assírio & Alvim. Mas há tantos e tantos
mais, que gostaria de registar, mas se calhar não haveria espaço suficiente
para o fazer.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E
como responderia?
Não há perguntas específicas para
responder. Às vezes a questão por ser inesperada, surpreende. Sinceramente, não
faço a mínima ideia. Nunca tive muito jeito para questionar, mas claro que
outras perguntas poderiam ter sido feitas, neste contexto. Agora como
responderia a essa suposta questão?!... Não sei. Até poderia ser que ficasse
sem resposta. Fica a incógnita.
Gostei muito amigo António!
ResponderEliminarBeijinhos e tudo de bom,
Jessica Neves *
Olá Jessica Neves!
EliminarObrigado pela visita e pelo comentário que certamente o poeta António MR Martins também agradece. Espero que continue a visitar este espaço!
Excelente iniciativa esta, amigo Emanuel.
ResponderEliminarObrigado pela amizade amigo António MR Martins.
Um abraço a ambos
Vítor
Obrigado poeta Vítor Cintra!
EliminarForte abraço.
Uma boa iniciativa, apesar de já conhecer o percurso do Poeta António Martins foi uma agradável leitura
ResponderEliminarbeijinhos aos dois Amigos e Poetas
Uma boa iniciativa, e apesar de já conhecer o percurso do Poeta António Martins foi uma agradável leitura
ResponderEliminarbeijinhos aos dois Poetas e Amigos
Ana Coelho! Obrigado pela visita e pelo comentário.
EliminarBeijocas!
Jessica,
ResponderEliminarAgradeço as tuas palavras. Um beijinho daqui, com amizade.
Obrigado amigo Vítor.
ResponderEliminarAquele abraço com admiração e amizade.
Caro amigo António,
ResponderEliminarBom conhecer um pouco do movimento poético em Portugal.
Saber que a Poesia é linguagem poderosa e comovida, que atinge o coração do leitor e, sobretudo, do leitor poeta.
Obrigada por citar o meu nome na sugestão de poetas.
Abraço fraterno,
Raquel Naveira
www.raquelnaveira.com.br
Raquel Naveira! É uma honra poder contar com a sua visita neste espaço dedicado à lusofonia. Obrigado pelo comentário.
EliminarEMANUEL LOMELINO
Obrigado Ana Coelho.
ResponderEliminarBeijinho, com amizade.
Estimada Raquel Naveira,
ResponderEliminarContente por passar por aqui. Meu abraço.
Muitos parabéns ao Emanuel pela iniciativa. Mostrar o outro lado dos poetas é muito bom, e mostrar isso, em primeiro lugar, com o António MR Martins foi muito bom. Pareceu-me uma etrevista objectiva e umas palavras simples. A mostrar este lado diferente no poeta... Um abraço aos dois... :)
ResponderEliminarPoeta Ricardo Bragança Silveira! Obrigado pelo comentário. Espero que as próximas iniciativas deste blogue mereçam mais visitas. Abraço.
EliminarÉ um orgulho para mim ter como amigo o Poeta António MR Martins. Nesta entrevista mostra mais uma vez a sua faceta humana, assim como todo o amor e entrega à poesia. Sempre tive a certeza que este Senhor iria longe e é uma honra poder acompanhar de perto o seu percurso nas letras.
ResponderEliminarGostei muito da entrevista. Perguntas bem colocadas e o Poeta António MR Martins engrandeceu imenso esta iniciativa. Parabéns a ambos!
Vera! Obrigado pelo comentário motivador. Espero que as próximas iniciativas deste blogue tenham a mesma aceitação. Beijo.
EliminarRicardo,
ResponderEliminarAgradeço as amáveis palavras.
Meu abraço.
Vera,
ResponderEliminarAgradeço as tuas palavras e a tua gentileza ímpar, no caso talvez em exagero. Mas estou-te grato, obviamente.
Beijinho, com amizade.
ResponderEliminarOs meus parabéns a dois Amigos/Poetas que tanto admiro.
O maior sucesso Emanuel Lomelino para este projecto tão interessante de divulgação de autores, de troca de ideias e espero sinceramente que as pessoas adiram. António MR Martins, gostei muito de o ler e saber um pouco mais dos seus gostos, interesses e motivações na escrita. Viva a Poesia! Um abraço forte.
Ana!Obrigado pelo comentário. As ideias são muitas e também eu espero que haja aderência por parte de quem ler o que aqui se publicar em nome da poesia escrita em português e que tanto gostamos-
EliminarBeijo.
Ana Casanova,
ResponderEliminarGrato pela sua atenção. Agora vamos incentivar este novo projecto do Emanuel que fará muito bem a todos os que mexem "nesta coisa" das palavras, autores e leitores.
Um beijinho, com amizade.