Diário do absurdo e aleatório
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Compreendendo a metafísica como ciência que é, existem aspectos mundanos em que a dispenso, por inteiro, ou pelo menos na sua utilidade momentânea, porque nem todos os acontecimentos do dia-a-dia merecem reflexões profundas e detalhadas. Na maioria das vezes só preciso saber o facto, sem me deter nas causas, propósitos ou efeitos e consequências.
Posso sentir o aroma de um limoeiro, desfrutar da beleza natural de um pôr-do-sol ou deliciar-me com o chilrear dos pintassilgos, sem necessitar de justificativas elaboradas sobre os diferentes níveis de prazer. Basta-me o momento. O mesmo é aplicável a uma martelada no dedo, a uma picada de mosquito ou ao som de papel a rasgar.
Quem logra transpor este modo de estar (sem questionamentos) para situações consideradas mais complexas, como o relacionamento com os outros (plural porque são múltiplas as nuances) tem mais possibilidades de evitar dissabores. Mas deve-se ter em atenção que, aos olhos dos demais, este género de atitude nunca é bem-visto, antes é catalogado com os sentidos mais pejorativos dos adjectivos (soberba, altivez, frieza, orgulho, arrogância, egocentrismo…)
E raios partam a metafísica que, até num texto sobre a sua prescindibilidade, faz questão de marcar presença.
EMANUEL LOMELINO
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