quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
24 Setembro 2018 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Filha Selvagem – ISA PATRÍCIO
Minha voz honra a elevação firme, é cantada ao luar e
em cada renascer se esquece da noite anterior para poder cantar
continuadamente. Jamais esta voz se rebaixa ao negrume da opressão, à castração
soberba porque ela nasceu para ser elegante, por vezes feroz, para se erguer
diante vil tirana.
Oh, viva voz que se afirma, que fala de poesia profana
e sagrada, bom uso nos métodos de esclarecimento curando silêncios.
Nas labaredas do fogo santo dança a filha selvagem,
descalça, com o peito meio descoberto, a saia contornando os joelhos e
acompanhando o movimento do corpo numa alegria extasiada. Índia indomada,
coração livre, espírito infindo, donzela, maga, mestra do seu ritmo que ora às
sete luas e aos nove sóis para que a natureza se resgaste no íntimo e regenere.
É a filha selvagem que sente o caminho da alma,
bússola encantada, escoltada de beleza verdadeira faz quanto pode para ser
intrínseco seu valor.
Melhor pedra de toque para experimentar o verso do
poeta, seguindo métrica transparente no fluxo essencial. Ela beija a alma do poeta como uma
chancela lacrada nas iniciais do seu cancioneiro, que vislumbre acarreta doce
ocasião.
Somos filhas selvagens que dão bem a conhecer a sua
expressão, compreendendo especial graça, quão certa prosa de estilo.
Filhas selvagens isentas de nomes... Sabem quem são!
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
Bem Vinda - Karibu (excerto) - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Memória de um objeto – INÁCIA GIRÃO
Eu me chamo Elgin. Uma máquina de
costura inventada há mais de 150 anos para transformar o modo das pessoas se
vestirem, melhorar o tempo e a qualidade na confecção das roupas.
Nos anos de 1940, vivia na casa da Vó
Neá. Depois fui ofertada de presente para a Dona Neíse. Uma jovem senhora que
começava a aprender a costurar. Eu era formada de madeira e ferro. Pesada e resistente
ao tempo. Na minha vestimenta havia dois bolsos em cada lado do corpo, onde guardava
linhas, botões, agulhas, colchetes, zíper e tesoura.
Dona Neíse tinha muito zelo por mim. Costumava
me limpar da cabeça aos pés, antes e depois de me utilizar. E ainda colocava
óleo lubrificante nas minhas articulações, para facilitar meu bom funcionamento.
Se eu não recebesse a devida manutenção poderia travar, quebrar linhas e
agulhas durante as minhas horas de trabalho. Jamais queria me tornar um ser
desagradável a ela. Por muitos anos fui de grande utilidade para ela e sua
família.
Anos se passaram e fui me tornando
fraca. Minhas pernas criaram crostas e as minhas roupas se desgastaram, ao
ponto de não mais ter como consertar. Então fiquei despida, mas não me
intimidei. Os membros superiores do meu corpo ficaram separados das minhas
pernas. Foram colocados em cima de uma bancada de madeira com um motor acoplado,
para que eu pudesse voltar a funcionar normalmente e em qualquer lugar. Passei
a ser um objeto portátil. Minhas pernas receberam um tratamento anticorrosivo e
uma leve pintura. Foram cobiçadas por Anastácia, a filha de Dona Neíse.
Anastácia tornou minhas pernas mais atraentes. Foram pintadas na cor de ouro envelhecido. Em cima delas pôs uma base de vidro com bordas lapidadas, onde eram colocados enfeites e plantas naturais. Há mais 20 anos estou em sua companhia e faço parte da sua decoração. É lá onde me sinto feliz.
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
domingo, 23 de janeiro de 2022
Idas e vindas – IDÊ FERREIRA
Minha tia estava se lembrando de seu irmão mais velho “que
morreu daquela doença ruim que não gosto de falar o nome”. Contou que, na
segunda guerra mundial, por volta dos anos quarenta, o exército brasileiro
convocou todos os jovens a partir dos dezoito anos para se alistarem. Com o
olhar perdido no horizonte, disse que o presidente Getúlio Vargas, era um homem
bom e gostava dos pobres. Ele havia falado pelo rádio que os moços iriam de
avião para um lugar distante chamado Itália e iam lutar por lá.
Limpou os
olhos na manga do vestido e continuou: esse meu irmão, seu tio, foi
chamado para a guerra, só que não entrou no avião; ficou mais de um
ano no quartel, esperando ser convocado para viajar.
Sua avó
chorava e rezava, continuou ela. Colocou um retrato do filho vestido de farda
no vidro da cristaleira da sala de visita e todos dias, ela rezava frente ao
retrato como se rezasse diante de um santo.
Dois meses
depois que seu tio foi embora, sua avó descobriu que estava grávida. Foi uma
alegria com gosto de tristeza. Teve uma menina, a Ritinha, que nasceu forte, gorduchinha, cabelos loiros e
era a alegria da casa.
Sua avó sentia
que seu coração ficava a cada vez mais espaçoso de tanto amor e ao mesmo tempo,
sentia um vazio enorme pela ausência do filho.
Ritinha
crescia toda sorrateira. Porém, às vésperas de completar um ano, faleceu. Sem
mais nem menos. Pediu a mamadeira e pouco tempo depois deu um suspiro e não
acordou mais. Ninguém entendeu a razão de sua morte. Foi muito sofrimento. Segundo a avó, perder um filho é como arrancar o coração de
um corpo sem uso de anestesia.
Poucos meses
depois, seu tio volta pra casa. A avó, ficou parada, olhando pra ele. Ela
sorria só com os lábios, porém, seus olhos, além de amor, carregavam uma grande
dor. Soluçando, dizia baixinho: –
A Ritinha veio ficar comigo até você voltar, só que, o
que eu queria era os dois juntos !
Minha tia limpou o nariz na gola do vestido e ficou em silêncio.
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
sábado, 22 de janeiro de 2022
24 Setembro 1995 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA
sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
A origem da vida: Teoria de um apaixonado - GIGEDO DA SILVA CRUZ
Há milênios o homem tenta descobrir qual a origem da vida, porém sem nenhuma evidência científica, o máximo que conseguimos até agora foram algumas teorias.
Na Grécia antiga, por exemplo, Aristóteles disse, sem muitos detalhes, que alguns animais surgem espontaneamente e não a partir de outros animais de sua espécie. Outros, usando a Bíblia como uma fonte de evidência, alegam que Deus havia criou o homem a partir do pó.
Não tenho como questionar estas e outras teorias. Mas deixo aqui a teoria, um relato quase científico, de um homem apaixonado sobre a origem da vida.
A aproximadamente 15 anos, aos vinte e um dias do sétimo mês do ano 2006 em torno das 22h, tendo como testemunhas as estrelas do firmamento, um sol de grandeza incalculável chamado Rainha Dagmar atraiu com corpo celestial nômade conhecido por Gigedo, que transitava friamente pelo espaço. Neste encontro uma grande explosão aconteceu conhecida como Big Bang.
O sol Rainha Dagmar, com toda a sua força e beleza emanou raios com seus olhos penetrantes, ondas sonoras com sua voz de sereia e perfume carregados de feromônios que exalavam de sua pele.
Os raios e as ondas sonoras associadas ao perfume acertaram a alma e coração do astro Gigedo, destruindo as barreiras conscienciais que prendiam o astro frio fazendo com que ele despertasse e acendeu uma fogueira do amor em seu coração.
Instantaneamente a vida surgiu no astro Gigedo causando uma verdadeira transformação em todo o seu ser, pois redescobriu sentimentos como alegria e felicidade por estar ao lado de um sol que o iluminava e o fez sair da escuridão. O astro, antes classificado como um astro errante, passou a ser classificado como astro Abençoado.
A atração entre os astros Dagmar e Gigedo é tão forte que até hoje é impossível distanciá-los. Não é possível também definir quem orbita quem, apesar da obvia percepção que é o astro Gigedo que orbita o astro Rainha Dagmar, que entre outras características emite luz que aquece o coração do astro Gigedo.
Transformações também foram percebidas nas vidas em torno dos mesmo, provocadas pela grande emanação de amor que se dissipa desta relação e já chegou até a criar uma nova vida.
Passados 15 anos, nenhum estudos se atreve a tentar definir o limite desta atração que se solidifica cada vez mais.
Bem Vinda - Karibu (excerto) - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
Alta Rotação – GABRIELA LUÍS
Podia estar confortável, mas não
estava. A tensão bloqueava-me as pernas, as costas e aquele som fino que fazia
perto do meu ouvido deixava-me os pêlos eriçados.
Já não podia sair dali, não havia volta
a dar. A cada movimento que acontecia fora e dentro de mim eu agarrava com mais
força a mão que me amparava, confiando que tudo iria correr bem.
Fechei os olhos e tentei perceber onde
estava o meu coração, se já tinha descido da garganta para o peito. Conseguia
ouvir o seu bater num ritmo mais controlado, constante, semelhante ao som da
velocidade cíclica do motor.
A minha cabeça estava a ficar pesada,
os sentidos adormecidos, a boca seca… Nesse estado, viajei pelos recantos da
minha memória tentando encontrar cenários semelhantes, onde tudo tinha corrido
bem. Estava a imaginar a minha história naquele momento, como ela se poderia desenrolar,
os planos que a mente me apresentava para eu escolher, entre o medo e a
aceitação de que embora quisesse controlar aquela parte de mim, nada poderia
fazer! Por breves instantes deixei-me ali estar, consciente do medo que sentia.
As gotículas de água e saliva projectadas
na minha face, faziam-me passar da consciência exterior para o meu mundo
interior, observando a língua pálida e mole que deixava cada gotícula de água
escorrer, lentamente, até ser engolida ou removida por aquele objecto que
entrava pelos meus lábios abertos.
Em desamparo, doei-me àquele momento,
confiando as minhas entranhas ao que sentia lá tocar, não pensando em mais
nada, deixei os meus sentidos embalarem-se novamente pela velocidade rasgada e
penetrante do instrumento que a mão dele possuía. Sem me dar conta, adormeci.
Quando abri os olhos, ofuscada pela luz que vinha da lâmpada da cadeira do Dentista e sentindo que aquele som desaparecera, percebi que a consulta tinha terminado!
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
A doente celíaca – FRANCISCO LUÍS SILVA
Ainda
deitada em cima daquele colchão rijo que mal protegia os meus ossos da dureza
do metal da maca, e já refeita das dores a minha paz interior regressou bem
como a alegria. Mentalmente revia a minha alimentação das últimas horas e por mais
que pensasse não encontrava nada que me pudesse ter feito mal, mas algures
certamente alguma contaminação cruzada deveria ter ocorrido.
- Então
como se sente?
- Agora
estou bem. Já não tenho dores nem vómitos.
- A
menina vinha bem aflita.
- São
dores bem horríveis, doutora.
-
Imagino que sim. Agradeça a si mesma o facto de saber que é intolerante ao
glúten. Ajudou muito. Dado que as suas análises estão normais, e a menina está
bem não vejo motivo para continuar cá connosco. Vou dar-lhe alta, mas antes vamos
retirar esse acesso venoso.
-
Obrigado, doutora.
Minutos
depois transpus a porta de saída e lá estava ele pacientemente á minha espera.
E… Nada como um reconfortante abraço para me animar.
- Está
tudo bem? Passaram as dores?
- Sim.
Ainda estava tudo muito no princípio.
-
Pregaste-me cá um susto quando me ligaste para o trabalho, e pior fiquei quando
cheguei a casa e vi o teu sofrimento.
- Nem tinha
forças para e vestir.
- E
agora?
- Agora
é continuar a ter sempre muito cuidado.
- E
temos. Tu sabes que limpo sempre as migalhas que faço. E a tua comida é toda
sem glúten
- Pois,
mas o perigo não está em tocar nas migalhas, isso não me faz mal. O perigo está
em levar depois a mão á boca.
- Só
isso?
- Sim.
Sabes que ao princípio e antes de saber o que tinha as crises eram menores bem
como as dores, mas agora como o meu organismo não recebe glúten, tornou-se mais
sensível e reage a quantidades mínimas. Agora quando isto me sucede tenho dores
de barriga maiores e passei a ter vómitos como viste e falta de ar, e ainda tu
não viste uma crise a sério.
-
Imagino.
- Não
imaginas não. Os sintomas são muito mais intensos e graves.
- O
importante agora é que estás boa. Para te animar um pouco vamos jantar fora.
- Onde?
- Num
restaurante certificado pela APC. (Associação Portuguesa de Celíacos)
- Assim
aceito. Sabes o que sinto falta?
- Do
quê?
- De
comer a vontade pastéis de nata e donuts.
- Pois…
Temos de descobrir uma pastelaria que faça.
- Há
pouca divulgação.
-
Infelizmente.
- As pessoas
e as marcas ainda não pensaram que os alimentos sem glúten podem ser consumidos
por todos e não se nota diferença nos sabores.
- Vá lá
que os supermercados vão tendo cada vez mais variedade de produtos sem glúten.
-
Felizmente sim. Já posso fazer um prato de massa ou uma boa torrada carregada
de manteiga em casa.
- Vá lá
que o teu organismo tolera a lactose.
-
Perfeitamente. Quem paga é o castrol! (colesterol)
- Ui.
- Uma
coisa engraçada, mas que não tem piada nenhuma é que quando pergunto por exemplo
se tem alguma sobremesa sem glúten, ficam com cara de parvos a olhar para mim e
depois respondem que não sabem. Mas será que as pessoas acham que ser celíaco e
consumir produtos, sem glúten é uma moda?
- Se
calhar…
- Ainda há muita ignorância e intolerância para com o doente celíaco. Pode ser uma opção de vida não consumir glúten tal ser vegan ou vegetariano. Mas boa parte não pode mesmo consumir glúten por serem doentes celíacos.
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
24 de Setembro de 1995 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA
domingo, 16 de janeiro de 2022
Bem Vinda - Karibu (excerto) - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD
quarta-feira, 12 de janeiro de 2022
24 de Setembro de 2018 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
Crónica de um fim talvez anunciado - FÁTIMA D'OLIVEIRA
Finito.
E foi assim, com uma simples palavra, que sentenciaste a nossa ainda breve história, que nos sentenciaste. De repente, sem mais nem menos e sem dizer água vai, simplesmente chegaste ao pé de mim e disseste-me… aquilo… e ala moço que se faz tarde: nunca mais te pus a vista em cima. Foste embora e saíste da minha vida. Fugiste. De mim, de ti, de nós.
Confesso que na altura me apanhaste completamente de surpresa e que fiquei sem pinga de sangue quando me disseste aquilo friamente, que tinha acabado, numa voz tão gélida que tiveste o condão de arrefecer até abaixo de zero o ambiente à nossa volta e, em consequência disso, o meu sangue enregelar nas veias.
Mas para ser completamente sincera, tenho que aqui esclarecer que a minha surpresa já anunciada, não deveria ser assim tão… surpreendente. Tu não só já me tinhas deixado pistas, como até já me tinhas tentado dizer que a nossa suposta perfeição não era assim tão… perfeita. Era até muito falível… Eu é que escolhi não ver. Preferi enterrar a cabeça na areia e continuar a acreditar em arcos-íris e unicórnios e a tentar convencer-me de, do que eu já sabia bem no mais fundo de mim ser verdade, não ser bem assim. Pode-se dizer que tive medo. Tive medo e deixei-me dominar pelo mesmo. Recusei-me a ver o que estava mesmo à frente do meu nariz e optei antes por uma alegre e abençoada cegueira. Mais do que isso, uma voluntária ignorância. Na altura não percebi, mas eu estava a fazer uma escolha, a MINHA escolha. E com isso, também estava a escolher as minhas consequências: tudo o que daí pudesse advir. Para o bem e para o mal.
Quer dizer, quando eu fiz a minha escolha, é claro que eu não estava a escolher este fim. Mas estava a acolher essa possibilidade, não sei se me faço entender… Não é o que eu queria, longe disso – conscientemente, quem, no seu mais perfeito juízo, escolheria a tristeza e o sofrimento?... E eu digo: ninguém. Mas eu sabia, mesmo sem querer saber, que isso podia acontecer. Pois bem, aconteceu.
E eu não posso culpar ninguém por isso. Ou melhor, poder, até posso: eu. Afinal, fui eu quem não viu, ou melhor dizendo, não quis ver. E agora?... Agora, olha, agora só me resta carpir as minhas mágoas e esperar pela bonança, depois da tempestade. Sempre ouvi dizer «Quem está mal, muda-se». Tu decidiste que estavas mal, mudaste e mudaste-te. E contra factos, não há argumentos. É como disseste: finito.
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA
A viagem - Safari (excerto) - ISABEL SOFIA DOS REIS-FLOOD
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
Quanto vale a felicidade? – ETIANI GARCIA
Eu sempre soube que a felicidade é um querer sem fim
Que triste para aqueles que a vida passa e a saga pela felicidade não chega ao seu destino
Talvez se leve mais que uma vida, para entender que a felicidade somos nós que permitimos ter e fazer.
A maioria não vive a vida ofertada, a maioria busca insanamente pela felicidade, que muitas vezes muda de roupa e endereço facilmente.
A maioria incansavelmente corre atrás do próprio rabo, como um cachorro que persegue si próprio, sem perceber que aquilo que é perseguido está consigo.
A maioria vê a felicidade muito além do horizonte, um horizonte distante quase que proibido aos olhos dos que se veem pequenos diante da felicidade.
A maioria sente a felicidade plena como algo intocável, que não pode ser tocada ou sentida na vivência real da vida de dores e desprazeres.
Para os sujeitos de posse, a felicidade parece ser uma coleção sem fim
Quereres invencíveis, poço sem fundo
Preenchem os desejos de sempre quererem mais, ter mais pode significar estar pleno com a felicidade, pobre tolos da busca da felicidade!
A felicidade vale muito mais que isso, os buracos de uma vida plena vão além das posses
A felicidade vive dentro de cada um, se ela não é vista ela ganha aparência de insatisfação.
Ter menos é um convite a alma incontrolável de desejos por ser feliz
Ser feliz depende de como você leva o fluxo da vida
Para ser feliz você não depende nem de um terceiro e nem de grandes ofertas
Para ser feliz é preciso ter e sentir a vida como ela é, do balanço da brisa à intensidade de uma tempestade.
A felicidade não custa muito, o que custa muito é saber que a felicidade é a sua percepção.
Se engana aquele que almeja uma felicidade sem viver a felicidade do momento.
Se a felicidade é água do mar, que quanto mais se bebe mais tem sede,
A felicidade pode ser o silêncio que vive escondido no meio das pequenas coisas.
sábado, 8 de janeiro de 2022
Perdida de mim – DULCÍ FERREIRA
Perco-me
nos sonhos, no sono que me abraça e ainda nem anoitece… Perco-me entre os
lençóis de linho, na carícia envolvente da camisa de cetim, nas histórias de
encantar, nos contos de arrepiar, no pio do mocho que se abriga no telhado do
velho moinho. Ouço o cavalgar dos cavalos a passar sobre a ponte que atravessa
o rio, onde me espreitas a banhar nos dias que o sol aquece. Há casas de xisto
com telhados de ardósia que me avivam um mar de memórias de menina. Nelas me perco e encontro sempre que as marés sobem ou
vagam, permitindo os vazios da Alma.
Sabes... Não adianta procurares o mar nos meus olhos
ou sorrisos nos lábios que já não te reconhecem...
Sentei-me na pedra fria
À espera que regressasses
A mesa posta
A cama feita
O coração preparado
Para aguentar a emoção
Dos dias em que te não via.
Há uma lua que espreita
Um luar que ilumina
As ruas por onde vou
Sigo procurando sonhos
Que perdi quando te foste
E a paz que me levaste
E que a mim não regressou
Presa a ti sempre fiquei
Todo o meu ser amarraste
À lágrima
À triste sina
Que contigo arrastaste
Deixando na minha alma
Uma profunda ferida.
Agora,
o sol, as ondas a rebentar na nudez do meu corpo, o colorido da esperança a
florir no meu peito, presunção do arco-íris a refletir no teu rosto.
Levantei o olhar… Fiz de nós dois aquela prece e gostei de te ver, ainda que a mim não viesses.
EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA