Papaguear
cultura
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Há um aqueduto de frases por escrever entre as
areias do Hudson e as praias vicentinas.
Os verbos correm ferventes desde as encostas
do Corno dos Romanos até à mais recôndita ilhota do Pacífico.
Os adjectivos viajam desde as grutas que nunca
foram de Salomão até às cidades perdidas na tropical Amazónia.
Cada substantivo percorre as planícies
subsaarianas rumo aos planaltos Tártaros.
Existem estepes de versos inovadores, entre as
tundras escandinavas e os pomares nipónicos, com ânsia de nascerem virados para
as águas santas do Ganges, mas idolatrando as correntes de Yangtzé.
Há complementos empalados nas calotas polares,
em ambos os hemisférios, só a aguardar o degelo para irem em busca de Everestes
sujeitos e predicados.
Existem virgulas a bolinar ventos alísios
(algumas de pontos às costas), com o mesmo ímpeto que as reticências cavalgam
as dunas do Saara, em busca de dois pontos, parágrafos e travessões.
As ondas do Índico são tiles disfarçados, por
não quererem ser vistos na companhia dos apreensivos circunflexos. Assim como
os graves só querem ver os agudos pelas costas.
As interrogações não são mais do que
exclamações vergadas ao peso de múltiplas dúvidas sugeridas pelas irrequietas
marés lunares.
E assim se juntam dois mundos numa chuva
descritiva cheia de figuras de estilo e com o epílogo esperado (ponto final).
EMANUEL LOMELINO