06-08-2023
Levantou-se um vento autoritário que varre tudo, inclusive a firmeza de ideias, qual censor desgaseificado.
Com a força do seu sopro, voam crenças, fés, certezas e uma ou outra resolução, que nem teve tempo para se vestir de gala porque, quando se perde a convicção, não vale a pena coser o bolso das calças.
Dizem que é tudo alteração climática, mas eu acho que é muito mais que isso. Sinto, na pele, que esta brisa desconfortável – que pica mais do que arame farpado ou agulhas de costureira – é uma onda de ar idiota e destemperado cuja missão é apenas instalar a discórdia.
Noutros tempos, talvez não tão humanos, mas com certeza mais, saudavelmente, filosóficos, haveria espaço para debate produtivo sobre a matéria e, entre os vários argumentos, encontraríamos alguma solução pacífica para combater este fenómeno.
No entanto, as sociedades modernas abraçaram o sedentarismo extremo e a preguiça não permite o pensamento livre. Os conceitos válidos são os básicos, que não demandam raciocínio e vigora a lei de quem gritar mais alto tem razão.
O único ponto positivo de tudo isto é que já existem por aí muitos moinhos de vento e a produção de energia eólica pode vir a ficar mais em conta e assim vai ficar mais barato comprar calças e sapatos novos.
EMANUEL LOMELINO