sábado, 11 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - TECA MASCARENHAS


NESSES TEMPOS AVASSALADORES 
carrego olhos nublados de maresia
e bebo a água áspera das tempestades
para não sucumbir vencida
no imenso deserto das almas aflitas

o vento inclemente que viola minha boca
rasga-me a garganta feito brasa
e se apodera do meu corpo indócil
deixando um rastro de assombro e dor 

a humanidade padece e vê a morte rondar 
— sedutora e voraz —
a sofrida solidão dos dias sem afetos
e a alma de poeta que se estrangula 
de vazio e paúra
sente ganas de quebrantar

mas resisto feito árvore ancestral
de raízes cravadas no Tempo
que reverdece os galhos para enfrentar
intempéries e abrigar pássaros desvalidos
certa de que a calmaria não tarda
e outra vez será tempo de celebrar
o néctar dos deuses
e comungar o bálsamo da poesia

Teca Mascarenhas


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