Lomelinices
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Nasce-se para se morrer, independentemente daquilo que se fizer no intervalo.
Já nasci e morri tantas vezes que a cronologia natural desses feitos deixou de fazer sentido.
Todas as mortes foram diferentes, enquanto os nascimentos foram tremendamente dolorosos para mim, com excepção do primeiro, cujas dores nem recordo.
Nasci e morri de tantas formas distintas que, em algumas delas, senti-me um personagem de Lovecraft.
Foram tantos os partos que nem deu tempo para fazer certidões de nascimento, porque as mortes estavam ao virar da esquina.
Foram tantos os óbitos que nem a necrologia conseguiu acompanhar e ninguém foi notificado.
Morri e renasci tantas vezes que já nem gato sou.
Com tantas parições e falecimentos foi-me permitido confirmar que, por mais que se faça tudo certinho em cada vida, de múltiplas e diferentes formas possíveis, nunca seremos capazes de impedir o desfecho final. E essa circunstância implica que no final das contas, o número de nascimentos será sempre igual ao de mortes.
EMANUEL LOMELINO
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