quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 10 - Emanuel Lomelino

31-08-2024

Por muito doloroso que seja admitir, não dá para negar que o universo da escrita, deste retângulo à beira-mar confinado, está órfão de valores, tanto literários como humanos.

Todo e qualquer sapateiro de vão-de-escada, com a devida vénia respeitosa aos que ainda exercem essa honrada profissão, autodenomina-se poeta e vive na ilusão de que basta espartilhar frases em versos para que as suas sentenças, vazias de conteúdo, sejam vistas como pérolas de sapiência poética.

Esses cerzidores de adjectivos avulsos fazem-se rodear de eunucos do pensamento, cujas cabeças são de mais fácil penetração por falta de hábito, para não dizer habilidade, em desenvolver raciocínios sem pontas soltas.

Entre os tecelões da preguiça intelectual há meia-dúzia que, imersos numa realidade ficcionada, tendem a abraçar os projectos que mais visibilidade lhes dão, com a mesma intensidade, e intencionalidade, com que mais tarde cospem nos pratos que os alimentam, fazendo-se passar por arautos da cultura (no primeiro caso) e damas ofendidas (no segundo), sempre com espalhafato circense para agregar os clamores dos zombies que cegamente os idolatram.

Por tudo isto prefiro os autores, de uma só cara, que laboram no silêncio das esquinas do olvido. Esses nunca serão lambe-botas nem ingratos.

EMANUEL LOMELINO

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