O exilado
Licínio era um homem forte e imponente, quase um paralelepípedo maciço, que impunha medo e respeito só de olhar.
O temor que impunha fez com que todos os habitantes da sua aldeia natal fossem morar em aldeias vizinhas, só para não estarem sempre em sobressalto. Até o corcunda de Notre-Dame o superou em afecto recebido.
Perante esta circunstância, ele construiu uma gigantesca muralha em redor dos limites da aldeia, como quem aceita um exílio forçado.
As suas mãos, descomunalmente densas, assemelhavam-se a bigornas de ferreiro – alguns acreditam que eram feitas de aço temperado, outros juram que eram iguais às de Atlas.
A musculatura do seu corpo era tão definida que muitos garantem ter sido ele o modelo dos escultores renascentistas. Só que ele era duas vezes mais volumoso do que qualquer estátua conhecida.
As suas pernas pareciam troncos de sequoia milenar e os seus passos eram tão pesados que, mesmo em bicos de pés, abria crateras no chão que pisava.
Licínio era tão grande e assustador que, durante toda a sua existência, jamais alguém se aproximou dele. Talvez, por isso, o dia da sua morte seja desconhecido e ninguém consiga dizer, com propriedade e conhecimento de causa, se ele alguma vez foi feliz.
EMANUEL LOMELINO
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