De néscia a céptica
Virgínia foi sempre uma mulher discreta, simples, mas dotada de uma ingenuidade infantil que a irritava profundamente. Por mais que tentasse – e tentava com todas as forças da sua vontade – era apanhada de surpresa com muitas coisas óbvias que lhe fugiam à percepção, mesmo quando era, previamente, alertada.
Essa inocência nata era a fonte maior das suas desilusões, e a cada novo desapontamento, a cada novo dissabor, ela prometia regenerar-se e voltar outra pessoa. Mas não havia volta a dar. Uma e outra vez, sorrateiramente, lá vinha mais uma decepção, e outra, e outra, e outra…
E foram tantos os desgostos que Virgínia acabou por transformar-se numa alma descrente com o mundo e amargurada consigo própria.
O pior foi descobrir que, algumas pessoas que muito prezava, tinham-se aproveitado da sua credulidade levando-a a abdicar da única pessoa que realmente lhe foi fiel, em todos os sentidos.
Virgínia não se perdoa por ter dado crédito às intrigas de bastidores e recebido como verídicas algumas suspeitas que lhe plantaram na mente.
Hoje vive reclusa nas grades do cepticismo mais impenetrável e desconfia até das intenções da própria sombra.
EMANUEL LOMELINO
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