O vidente
Malaquias nasceu vidente e muito cedo na vida descobriu que era o único. Habituou-se a conviver com as imagens do futuro e nunca contou nada a ninguém, nem mesmo quando, preocupados com ele, os pais o levavam aos médicos tentando descobrir de onde vinha a tristeza do seu rosto, a timidez do seu jeito de andar e a melancolia das suas palavras.
Aprendeu a conviver com as dores, angústias e desesperos que as visões injectavam na sua mente e, sabendo que nada poderia fazer para evitar alguns eventos, decidiu moldar-se a essa circunstância com opções de vida que impedissem os seus estados de espírito de afligirem quem o rodeava.
Malaquias viveu em sofrimento constante, com esparsos laivos de felicidade, muito pontuais, mas no final, pouco antes do último suspiro, fazendo o balanço da sua vida, ele sorriu por saber que todos os seus amores foram escassos mas genuínos, e nunca ter sentido, na pele, o gosto da traição, a amargura do desapontamento, ou a acidez da dúvida.
EMANUEL LOMELINO
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