Senhor Zagajewski,
Para mim a miséria não está à distância de um gueto varsoviano, tampouco no exílio forçado em Montmartre às expensas de compatriotas desvalidos. A minha penúria resulta da inexistência de mecenas, da liberdade, fraternidade e igualdade, dispostos a apoiar a criação de textos, tão desgraçados quanto eu. A indigência que transporto, e me verga, advém da minha origem ocidental, sem gene áfrico, oriental ou hebreu, como se os males do mundo nascessem desta costela caucásia. E para meu infortúnio, todas as palavras que garatujo, de alma limpa, serão interpretadas como fazendo parte do discurso de um privilegiado, mal-agradecido por ter visto a primeira luz da vida nestas terras soalheiras, à beira-mar plantadas. O pior é que as tendinites nos membros – por carregar sacos de massa e gesso cartonado – os dedos inchados - pelas marteladas falhadas, em buchas e pregos – e os cortes na pele – pelo ricochete dos estilhaços de betão – não atenuam a culpa que me outorgam por acreditar que estou longe de ser beneficiado.
Com
sinceridade,
Emanuel Lomelino
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