Diário do absurdo e aleatório
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Não sei dizer quantas vezes na vida deixei que a comoção tomasse conta dos meus olhos porque só consigo identificar três momentos, sendo que o último foi tão recente que ainda está pintado de fresco.
Um dia, assistindo ao noticiário, comovi-me com a imagem da criança a segurar o choro de dor, após cair num buraco, à noite, na selva, para não alertar os milicianos que andavam a exterminar o povo timorense.
Uma vez por ano, por saudades particulares, deixo-me comover pela música “Te voglio bene assai”, seja na voz de Pavarotti ou Lucio Dalla.
Há algumas semanas comovi-me ao pegar na recém-nascida sobrinha-neta e ter regressado quarenta e seis anos no tempo, quando tive nos braços a recém-nascida avó dela.
Em tudo o resto sou frio, gélido, glacial, uma pedra de gelo, um verdadeiro icebergue. Acho que sou assim porque nunca fecho a janela do quarto, nem mesmo no inverno mais rigoroso.
EMANUEL LOMELINO
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