Diário do absurdo e aleatório
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Há muito deixei de ter tempo de sobra. Tampouco tenho réstias a perder. Cada segundo soma-se, e some-se, na urgência dos passos contados, e cantados, como salmos nas procissões de finados.
Entre idas e vindas laboriosas, entretenho-me a esgaçar os ponteiros dos dias, à procura de respostas para as perguntas que me assaltam e sobressaltam, sem abrandar nas encruzilhas para tentar adivinhar o melhor caminho. Sigo em frente, sem hesitar e elas (perguntas e respostas) que me acompanhem, se tiverem pernas folgadas.
Os anos acumularam-se nos ombros, o sal já escasseia, o sol ainda aquece, a chuva molha, o vento sopra, as ondas desmaiam nas areias da praia, e nada prende mais do que um par de algemas indecisas.
Não tenho tempo a perder, nem quando estou inerte, a tentar descobrir se as cigarras são mesmo preguiçosas ou se o canto que ouvimos provém dos sopradores de folhas que elas usam para limpar os galhos das árvores.
EMANUEL LOMELINO
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