quinta-feira, 20 de junho de 2024

Diário do absurdo e aleatório 345 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

345

Mirro-me nesta sensação de estar, invariavelmente, a ser sugado até ao tutano, por forças ocultas, que apenas sobrevivem porque lhes resisto, ao não lhes reconhecer mérito nem importância.

É como se o peito centrifugasse o sangue, em brasa, em espirais tresloucadas pela estreiteza das veias, ao mesmo tempo que os pulmões reprimem o ar que quer libertar-se num grito de ferocidade guerreira.

Em simultâneo, a pele enruga-se ao máximo da sua elasticidade, como estivesse a fundir todas as células num único organismo bélico, pronto para explodir sem olhar aos danos colaterais.

As mãos entrelaçam-se no estalar de cada dedo, até que uma dor câmbrica formigue imparável entre as falangetas e os cotovelos.

O suor escorre, tal qual uma enxurrada, por todo o corpo. Acordo. Espirro. Nada demais. Apenas uma constipação por ter este hábito de dormir com a janela aberta.

EMANUEL LOMELINO

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