Diário do absurdo e aleatório
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Estou cansado destes ares poeirentos que teimam em frequentar os espaços, sem ventilação, onde exerço o labor que me mortifica.
Não há um dia sem que essa presença fétida e mórbida fique a pairar sobre mim, como nuvem de tempestade iminente, mesmo resguardado no vazio das ideias e na leveza dos passos.
É uma fadiga crescente, ácida e pérfida que, acima de tudo, consegue perpetuar todos os desconfortos mais tempo do que o necessário, como um post-it esquecido e com lembrete desatualizado.
É inglório chegar-se à madurez da existência, apto para gerir colateralidades e administrar as doses certas de equilíbrio, e ter de inalar todos os vapores inválidos e fora de prazo, expelidos pelas chaminés do infortúnio, como um despertador que recusa silenciar-se.
Neste contexto, há muito deixei de acreditar ser possível escrever direito por linhas tortas. Por mais que as estique voltam sempre a encarquilhar.
EMANUEL LOMELINO
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