sábado, 14 de agosto de 2021

Guardiã do Cerrado - AMANDA PEREIRA SANTOS

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Jaci era filha da natureza. Cria da mãe terra, nasceu em um rio de águas cristalinas, da mesma cor de seus olhos. Era noite de lua cheia.
Enquanto as crianças da sua idade entediavam-se com as brincadeiras tradicionais, contentava-se em admirar a paisagem ao seu redor e entreter-se com os animais.
Vivia em um chalé no meio do Cerrado, cercado por morros e quedas d'água. Era simples, mas não precisava de mais.
Os adeptos a um estilo alternativo diriam que sua vida era perfeita, fora dos padrões sociais. Até que tudo mudou quando finalmente completou dezoito anos.
Era noite novamente quando uma luz invadiu as janelas da residência. Então, ouviu uma batida na porta. Abriu-a e viu uma forma feminina que irradiava as mais diversas cores.
A figura estendeu-lhe a mão e ela não pensou duas vezes antes de segui-la até o exterior da propriedade. Não sabia como nem o porquê, mas sentia uma energia que a atraía, como se as duas estivessem conectadas.
Lá fora, o frio penetrava o tecido fino de suas vestes e fazia com que seu corpo tremesse dos pés à cabeça. O escuro prevalecia, contrastando com o brilho das estrelas. Mas foi a lua que tirou o fôlego de Jaci. Uma lua cheia, completamente deslumbrante.
Por alguns instantes, esqueceu da companhia sobrenatural ao seu lado e manteve os olhos erguidos em direção ao céu. Então, uma voz doce e serena interrompeu o silêncio.
– A sua hora chegou. Junte-se a mim. Torne-se um só com o universo. Somente assim a paz reinará.
– Diga-me o que fazer e farei.
As palavras saíam de sua boca como se tivessem autonomia.
– Prometa à lua que assumirá seu papel como protetora da região.
E assim Jaci fez. Quando sua vida terrena findou-se, seu espírito permaneceu.
Tornou-se guardiã do planeta, protetora dos seres vivos e de bom coração.
Há quem acredite que, ainda hoje, é possível vê-la. Está sorrindo lá do alto, nas noites de lua cheia.

 EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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