sábado, 6 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 107 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

107

Converti as mãos em peneiras e deixei tombar, pelos caminhos trilhados, todos os grãos de ânimo que, misturados com o cimento da vontade, serviriam para fortificar os meus passos calculados e de rumo certo.

Os objectivos lúcidos amoleceram com o impacto das tempestades sem senso e, aos poucos, de forma camuflada e impiedosa, evaporaram-se sem deixar rasto.

A caminhada não terminou, mas os propósitos abraçaram a caducidade não deixando terra suficientemente fértil para que outras raízes germinem nem para que a determinação ganhe fôlego renovado.

A velha máxima “nada se perde, tudo se transforma” nunca foi tão pungente e, apesar da miopia destes meus olhos falhos, dei por mim a enxergar tudo com uma clareza tão pura quanto reveladora. Há quem lhe chame epifania. Eu prefiro dizer que despertei.

EMANUEL LOMELINO

Constelando minha vida (excerto) - Kátia Cilene

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Agradeço aos ancestrais da Família Ferreira e da Família Cardoso pela vida dos meus pais Maria e Lombardo e, também, pela minha vida. Uma curiosidade sobre a minha família é que minhas avós são irmãs, então meus pais são primos. A Constelação nesse capítulo vai acontecer como desafios que foram importantes na minha trajetória.

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Epístolas sem retorno 41 - Emanuel Lomelino

Ernest Hemingway
Imagem pinterest

Caro Ernest,

Dizem os sábios mais velhos que a verdadeira honestidade é exclusiva do mar. Segundo a experiência destes anciãos sem idade, não há elemento da natureza mais fiel a si mesmo, em todos os seus estados, formas e geometrias, independentemente de meridianos ou paralelos; latitudes ou longitudes; pontos cardeais ou hemisférios.

A sua essência mantém-se inalterada quer se evapore, solidifique ou liquefaça. Manifesta-se sem artimanhas nem engodos, tampouco escangalha de véspera nem reclama o que não lhe pertence porque é força dominante que responde apenas por si, nos seus domínios.

Mas, apesar de todas estas características íntegras, é no cheiro que a honestidade é mais flagrante. Ao contrário de outros elementos (fogo, terra e ar) que exibem odores emprestados, o mar exala somente o seu perfume de encanto (maresia) com que nos enfeitiça, sem truques ou ultrajes.

Ao sabor da maré

Emanuel Lomelino

Ondas de paz e contentamento (excerto 7) - Maria Helena J. Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Vieram especialistas em mergulho norte-americanos, exploradores profissionais de grutas do Reino Unido, da Bélgica, da Austrália, da Escandinávia e de muitos outros países que se reuniram à entrada da gruta na tentativa de encontrarem alguma forma de salvar os jovens. 
Uma semana após o desaparecimento dos jovens, ou seja a 1 de Julho, as equipas de resgate conseguiram chegar a uma parte larga da gruta onde os mergulhadores teriam espaço de manobra.

EM - ONDAS DE PAZ E CONTENTAMENTO - MARIA HELENA J. PEREIRA - IN-FINITA

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 106 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

106

A vida reinventa-se a cada alvorada. Os dias correm lentos ou céleres, dependendo dos humores, ócios e tédios que devoram as horas. Todos os instantes, por mais díspares que se apresentem, rumam no mesmo sentido, como fossem de via única.

Os pensamentos sucedem-se em turbilhões, ou a conta gotas, sempre sujeitos às dispersões, ou falta delas, para que o marasmo se ausente. Cada momento é único, por mais repetitivo que possa parecer.

A labuta diária é executada a diversos níveis e com múltiplos desafios que levantam ou derrubam o ânimo. Há expedientes e artimanhas que ajudam a ultrapassar tempos mortos que perturbam as ânsias e originam inquietações.

Só o crepúsculo carrega sossego nos ombros e a paz de um sono justo e contínuo, porque até os Espartanos merecem repousar das batalhas diárias, mesmo sabendo que as forças restituídas nos poços de todas as noites esfumam-se nos sufocos que a luminosidade transporta.

Por tudo isto, logo pela manhã, há um obtuso, febril, mas sincero, desejo de fechar os olhos e transformar cada minuto em descanso noturno, porque os sonhos são mais gentis do que a realidade.

EMANUEL LOMELINO

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Pensamentos literários 43 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

43

Olho o passado de relance, mas não deixo de moldar o barro do presente com a experiência adquirida, sabendo, de antemão, que as construções futuras serão, também elas, edificadas de modo distinto.

Por mais que nos instruamos na arte da concepção, o tempo, na sua maestria incontestável, arranja sempre forma de condicionar cada momento, provando, assim, que a vida, embora pareça uma sucessão de círculos, é uma espiral contínua e as linhas que separam os tempos (passado, presente e futuro) são mais ténues do que uma célula hexagonal.

É por isso que o acto de escrever é o próprio passado a acontecer.

EMANUEL LOMELINO

O branco e a preta (excerto 13) - Pedro Sequeira de Carvalho

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Despedimo-nos. O dono do quintal que só estava lá por minha causa, saiu, enquanto eu ainda permaneci por lá. Má Dêçu trouxe o tal vinho de palma prometido, o chamado vinho original. Ela preocupou-se em colocá-lo numa vasilha de um litro, a mais limpa de que dispunha.

EM - A BRANCO E A PRETA - PEDRO SEQUEIRA DE CARVALHO - IN-FINITA

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Prosas de tédio e fastio 105 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

105

Não preciso molhar-me na fúria desta chuva madrugadora para conseguir dissertar sobre a impermeabilidade que me escasseia.

Cada gota que desliza da nebulosidade do céu negro para abater-se sobre mim, com a ferocidade tropical de todas as tempestades, apenas cumpre o seu destino - e o meu.

Gotícula a gotícula, de mãos dadas com a liquidez desconfortável, transformo-me num leito de rio cujas correntezas percorrem de nascente à foz, sem resistência de dique ou barragem.

Inundo-me desde as margens até ao âmago em cascatas incessantes de rebeldia, qual desfiladeiro íngreme com protuberâncias escorregadias.

No centro do dilúvio, sou como um navio sem leme nem rumo, e o vento – irregular como só ele – não me permite mais do que andar, trémulo, à deriva.

Depois, como uma criança inocente, mas travessa, o céu afasta as nuvens e sorri um arco-íris, sem remorso por ter lançado toneladas de água sobre este pobre coitado que apenas saiu à rua para ir trabalhar, num sábado, e agora vai gastar os ganhos de um dia em paracetamol.

EMANUEL LOMELINO

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Papaguear cultura 14 - Emanuel Lomelino

Imagem 123rf

Papaguear cultura 

14

Há um aqueduto de frases por escrever entre as areias do Hudson e as praias vicentinas.

Os verbos correm ferventes desde as encostas do Corno dos Romanos até à mais recôndita ilhota do Pacífico.

Os adjectivos viajam desde as grutas que nunca foram de Salomão até às cidades perdidas na tropical Amazónia.

Cada substantivo percorre as planícies subsaarianas rumo aos planaltos Tártaros.

Existem estepes de versos inovadores, entre as tundras escandinavas e os pomares nipónicos, com ânsia de nascerem virados para as águas santas do Ganges, mas idolatrando as correntes de Yangtzé. 

Há complementos empalados nas calotas polares, em ambos os hemisférios, só a aguardar o degelo para irem em busca de Everestes sujeitos e predicados.

Existem virgulas a bolinar ventos alísios (algumas de pontos às costas), com o mesmo ímpeto que as reticências cavalgam as dunas do Saara, em busca de dois pontos, parágrafos e travessões.

As ondas do Índico são tiles disfarçados, por não quererem ser vistos na companhia dos apreensivos circunflexos. Assim como os graves só querem ver os agudos pelas costas.

As interrogações não são mais do que exclamações vergadas ao peso de múltiplas dúvidas sugeridas pelas irrequietas marés lunares.

E assim se juntam dois mundos numa chuva descritiva cheia de figuras de estilo e com o epílogo esperado (ponto final).

EMANUEL LOMELINO

O mar... (excerto 2) - Gláucia Souza Freitas

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Na travessia mais recente conheci a nascente do rio Mondego, o Mondeguinho, vê-lo tão pequenino me fez pensar em nossos sonhos, como começam pequenos e ganham volume, assim como as águas dos rios que percorrem caminhos, por vezes tortuosos, mas nunca param. Seguem adiante até desaguarem na imensidão do mar - assim como as nossas vidas, sempre em movimento.

EM - MULHERES QUE CRUZARAM OCEANOS - COLETÂNEA - IN-FINITA