quarta-feira, 10 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - DIRCE CARNEIRO


Agradecemos à autora DIRCE CARNEIRO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

O que mais me choca e entristece é perceber que se o sistema não está preparado para o cotidiano, numa pandemia o descaso é potencializado, com atendimento precário, perdas de vidas e o não reconhecimento, por parte do poder público, da falta de prioridade ao setor.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu  processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Afetou demais. O isolamento, em si, não. Fico bem comigo mesma. O imperativo, a imposição, a falta de opção, isto sim incomoda. Um dos valores a que tenho mais apreço é a Liberdade. Saber que tem um inimigo invisível no controle, contra o qual temos que lutar é profundo. Acresce  o ambiente nacional (Brasil) -  outras questões essenciais como gravames da situação aqui. A par disso tudo, tenho procurado resistir, não sucumbir, pensamento introjetado de esperança, de apreço à vida, de somar forças principalmente através da internet, que tudo vai passar, a crença na palavra como fator de resistência, cura, bálsamo, transformação e na busca da paz. Contudo, estou menos inspirada, mas sigamos...Paradoxalmente, estou organizando um livro autoral, talvez um movimento de resistência maior...

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

Que buscar o essencial, desapegar do supérfluo, é preciso. Em todos os sentidos: material, emocional, social, espiritual, político.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Sim. Principalmente na internet, tem dado grande suporte, a interação com coletivos literários. Do ponto de vista social e político, conforta e dá esperança ver cada vez mais mulheres conscientes do seu papel, da sua força e buscando maior evolução.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Divulgo principalmente nas redes sociais, sites de Literatura, atuo em grupos, participo de coletâneas, antologias, revistas eletrônicas. Retorno é principalmente através de comentários de leitores dos textos publicados. Ainda precisamos crescer muito nesse aspecto.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Este é um aspecto que precisa de uma reflexão profunda. O ponto positivo é o leque de oportunidades que se abre para a publicação feminina, principalmente por meio de movimentos como o Mulherio das Letras, que foca a mulher como ente produtor de Literatura. O ponto, não digo negativo, mas para reflexão, é no âmbito dos temas abordados. Talvez por causa da atávica falta de oportunidade, há uma tendência para enfatizar as questões femininas intimistas e afetivas. Outra questão que me ocorre é discutir se uma cultura universal teria menos amplitude no mundo feminino.
Penso que os temas universais chegarão com o tempo, passado esse estágio de ocupação do espaço com temas há muito represados.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Com a escrita, busco aquietar o espírito. A curto prazo, participo de uma coletiva de  poemas curtos, o Poetrix e estou compondo para outra Antologia da mesma natureza, cujo tema é a reflexão da r-existência, em todos os sentidos. Continuo a escrever nos veículos do cotidiano, já mencionados. A longo prazo, organizarei uma obra autoral, com publicação prevista até o final do ano, com o selo do Mulherio das Letras.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das  Letras em Portugal?

Sugiro o tema da pergunta e resposta número 6, como importante matéria para discussão e reflexão.
Outro ponto interessante que pode ser discutido é o tratado na pergunta número 5, concernente ao retorno das ações de divulgação e publicação.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Gosto muito de Lygia Fagundes Telles e ultimamente fiquei encantada com Conceição Evaristo.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Como reagir aos períodos de falta de inspiração? Por que existe a preferência por temas mais “softs” na literatura feminina?
À falta de inspiração deve-se reagir com determinação e disciplina, lançando mão de talentos, técnicas e vontade, tendo em vista que “escrever é preciso”.
Quanto aos temas preferidos no universo da escrita feminina (posso estar enganada) talvez a  Literatura seja vista como fuga de uma realidade que agride, bate, então a leitura é refúgio e maneira de  não refletir e discutir sobre o que está acontecendo ao redor.

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