Agradecemos à autora DIRCE CARNEIRO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
O que mais me choca e entristece é perceber que se o sistema não
está preparado para o cotidiano, numa pandemia o descaso é potencializado, com
atendimento precário, perdas de vidas e o não reconhecimento, por parte do
poder público, da falta de prioridade ao setor.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo
produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Afetou demais. O isolamento, em si, não. Fico bem comigo mesma.
O imperativo, a imposição, a falta de opção, isto sim incomoda. Um dos valores
a que tenho mais apreço é a Liberdade. Saber que tem um inimigo invisível no
controle, contra o qual temos que lutar é profundo. Acresce o
ambiente nacional (Brasil) - outras questões essenciais como
gravames da situação aqui. A par disso tudo, tenho procurado resistir, não
sucumbir, pensamento introjetado de esperança, de apreço à vida, de somar forças
principalmente através da internet, que tudo vai passar, a crença na palavra
como fator de resistência, cura, bálsamo, transformação e na busca da paz.
Contudo, estou menos inspirada, mas sigamos...Paradoxalmente, estou organizando
um livro autoral, talvez um movimento de resistência maior...
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
Que buscar o essencial, desapegar do supérfluo, é preciso. Em
todos os sentidos: material, emocional, social, espiritual, político.
4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu
cotidiano?
Sim. Principalmente na internet, tem dado grande suporte, a
interação com coletivos literários. Do ponto de vista social e político,
conforta e dá esperança ver cada vez mais mulheres conscientes do seu papel, da
sua força e buscando maior evolução.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra?
Percebe retorno nas suas ações?
Divulgo principalmente nas redes sociais, sites de Literatura,
atuo em grupos, participo de coletâneas, antologias, revistas eletrônicas.
Retorno é principalmente através de comentários de leitores dos textos
publicados. Ainda precisamos crescer muito nesse aspecto.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita
para a mulher?
Este é um aspecto que precisa de uma reflexão profunda. O ponto
positivo é o leque de oportunidades que se abre para a publicação feminina,
principalmente por meio de movimentos como o Mulherio das Letras, que foca a
mulher como ente produtor de Literatura. O ponto, não digo negativo, mas para
reflexão, é no âmbito dos temas abordados. Talvez por causa da atávica falta de
oportunidade, há uma tendência para enfatizar as questões femininas intimistas
e afetivas. Outra questão que me ocorre é discutir se uma cultura universal
teria menos amplitude no mundo feminino.
Penso que os temas universais chegarão com o tempo, passado esse
estágio de ocupação do espaço com temas há muito represados.
7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a
curto prazo e um a longo prazo.
Com a escrita, busco aquietar o espírito. A curto prazo,
participo de uma coletiva de poemas curtos, o Poetrix e estou
compondo para outra Antologia da mesma natureza, cujo tema é a reflexão da
r-existência, em todos os sentidos. Continuo a escrever nos veículos do cotidiano,
já mencionados. A longo prazo, organizarei uma obra autoral, com publicação
prevista até o final do ano, com o selo do Mulherio das Letras.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos
Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Sugiro o tema da pergunta e resposta número 6, como importante
matéria para discussão e reflexão.
Outro ponto interessante que pode ser discutido é o tratado na
pergunta número 5, concernente ao retorno das ações de divulgação e publicação.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia
na escrita.
Gosto muito de Lygia Fagundes Telles e ultimamente fiquei
encantada com Conceição Evaristo.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como
responderia?
Como reagir aos períodos de falta de inspiração? Por que existe
a preferência por temas mais “softs” na literatura feminina?
À falta de inspiração deve-se reagir com determinação e
disciplina, lançando mão de talentos, técnicas e vontade, tendo em vista que
“escrever é preciso”.
Quanto aos temas preferidos no universo da escrita feminina
(posso estar enganada) talvez a Literatura seja vista como fuga de
uma realidade que agride, bate, então a leitura é refúgio e maneira
de não refletir e discutir sobre o que está acontecendo ao redor.
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