Agradecemos à autora VITÓRIA BARBOSA WIDMER a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da mulher na literatura
atual?
Sinto que a mulher está em um lugar que não tem mais
volta. De se apropriar de sua escrita – como posicionamento, lugar de cura e de
fala – e levá-la adiante. Isso tem criado novas características em escritoras,
leitoras, editoras. Aberto um mercado para a autopublicação e para que a mulher
possa sentir e viver um mundo que não vai dar mais conta de silenciá-la. Nem de
assinar em seu lugar a obra que ela gerou – relegando à mulher um lugar sempre
à margem. Subalterno. Ridicularizado. Ou posto à prova. A hora é essa. De
ocupar todos os espaços, vencer todos os medos e barreiras. E escrever.
Escrever-se. Inscrever-se, de forma definitiva, na literatura.
2 – Em que medida o universo feminino influencia na
hora de escrever?
Como uma brasileira que mora na Europa, como uma
nordestina que morava no Brasil, como uma mulher em uma cultura patriarcal, eu
tenho a alegria de, a cada dia mais, sair do piloto automático e conseguir
enxergar como o meu, o universo feminino. E como tantos desafios, julgamentos,
impedimentos, humilhações somos impostas a viver por uma questão de gênero.
Entender tudo isso é como voltar a enxergar – depois de uma cegueira. É a
abertura de um espaço amplo que exige muito de nós. Mas sobretudo, revoluciona.
Liberta. Nos agiganta. Escrever a partir desse lugar é contribuir com pequenas
revoluções internas em nós e nas outras de nós.
3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita
se enquadra?
Não tenho me preocupado em encaixar minha escrita em
correntes. Talvez sinta que ainda não cheguei nesse ponto. Ou outras pessoas,
mais dedicadas profissionalmente a esse tipo de análise, façam isso por mim.
Por ora, escrevo. Com o coração. Com vigor. Com entrega. Escrevo mesmo para me
entender. Para me organizar. Para esvaziar o que me obstrui por dentro. E, o
que parece obvio, para sobreviver. Não financeiramente. Mas emocional e
psicologicamente.
4 - Que importância dá aos movimentos de integração da
mulher?
Os movimentos de integração da mulher têm gerado redes
e acontecimentos bonitos e importantes. Grandes. O Mulherio das Letras é um
exemplo. Dê um passo e não estará mais no mesmo lugar. Junte-se a outro galo
para tecer a madrugada. Para romper com processos ou vidas inteiras de
fragilidade imposta, de abusos, de baixa autoestima, de um lugar em que fomos
colocadas e que julgamos ser o único possível, estamos na ponta do abismo. O
jeito agora é nos jogar. O inevitável, portanto, é voar. Voarmos. Juntas. Como
bruxas invencíveis que sempre fomos, afinal. No lugar da vassoura, a pena de
uma caneta real ou imaginária. No lugar do vento, a palavra.
5 – O que acredita ser essencial para divulgar a
literatura?
Aqui há o perigo de nos perder em tantas opções. Os
coletivos são importantes. Juntar-nos a partir de uma perspectiva em comum para
olharmos para um mesmo horizonte, também. Os grupos de leitura, de estudos, os
clubes, enfim, espaços de encontros, mesmo que virtuais, têm sido uma boa opção
para afunilar tantas ofertas. Redes sociais como o Instagram têm me apresentado
a muita gente e a coisas que se coadunam com o que penso, procuro ou que
simplesmente, me surpreendem pelo novo que me arrebata. É importante publicar.
E hoje há muitos meios para isso. Que a gente, sem se afobar, consiga com calma
e alma, achar nossos melhores canais.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo
da escrita?
O universo da escrita não é escolhido por nós. Ele nos
escolhe. E enquanto não achamos um caminho para rumar em meio ao labirinto,
pode até haver sofrimento. É um processo de entrega inevitável e tantas vezes
doloroso. Nos leva, de forma inevitável, a nós mesmas. Ao autoconhecimento. E
nesse lugar há muita beleza. Há questões legais, de ego, de mercado, que também
podem ser massacrantes. Mas ainda não as vivencio. A escrita, por enquanto,
como falei, está restrita ao meu universo particular. E me serve como oxigênio.
7 – O que pretende alcançar enquanto autora?
Tenho me redescoberto como autora. Tirado a escrita e
a literatura de cantinhos escuros, acidentais, para uma centralidade que exige
decisão e coragem. Tenho manuscritos engavetados. Acho que chegou a hora de
assumir o risco delicioso de publicá-los. E de me dizer, enfim, “escritora”.
8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Um projeto a curto prazo é continuar escrevendo para
publicar em coletâneas ou em canais como as Redes Sociais e até mesmo me
inscrever em concursos. A longo prazo diria que é publicar os originais que
tenho na gaveta. Mas, sinceramente, espero que o prazo não seja tão longo
assim. Já me sinto pronta para romper com tudo o que tenha me paralisado até
aqui na jornada rumo à realização desse sonho. Chegou a hora de realizar. Eu
sinto.
9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).
Gosto da forma como Chimamanda constrói sua carreira
de escritora. Sempre contundente. Sempre forte. Sempre grande. Falando por si,
por seu povo, seu país. Se apropriando de um lugar que, como ela diz, costumava
ser narrado por terceiros. Ela abriu espaço para as mulheres de seu país e de
todos os outros. Eu me sinto chamada por ela. E sigo este chamado. Americanah é
um clássico que tenho o prazer de ver nascer como contemporânea dela e de seu
mundo.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E
como responderia?
Gostaria que me perguntassem: Vitória, você está
pronta para publicar seus originais? Eis aqui uma editora interessada. Chegou a
hora - aproveitei para dar a resposta também da pergunta (risos).
BIOGRAFIA
Vitoria
Maria Barbosa Widmer Nasceu em 18 de novembro de 1972 em Campina Grande, Estado
da Paraíba. Desde cedo foi apaixonada pela leitura e pela escrita. Tudo que se
chama arte enfim. Formou-se em 2006 em Psicologia e em 2003 concluiu o sue
mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual da Paraíba. Teve sua experiência profissional diversificada entre atendimento clinico, atividade
docente e gestão de serviços públicos, com enfase para a Reforma Psiquiátrica.
Em 2000 venceu o I Concurso de Poesia e Conto do SESC-PB com o conto “Asas da
Fantasia” em 2001 obteve a IV colocação no III Concurso de Contos da Faculdade
de filosofia, Ciências e Letras “Oswaldo Cruz” com o conto “Copos-de-leite” .
Em 2008 mudou-se para a Suiça, para a cidade de Basileia. Em 2009 venceu em
primeiro lugar o 6° Concurso Brasileiro em Genebra de "Contos, Crônicas e
Poesias" promovido pela Associação Raízes , com o conto “O Balanço do
tempo”.
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