Diário do absurdo e aleatório
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Ei-los, os prisioneiros do infortúnio que deixaram de ver quando colocaram as vendas costuradas pelas próprias mãos e insistem na inocência, outorgando todos os delitos a terceiros.
Ei-los a marchar altivos nas suas algemas de sofrimento reptiliano, com lágrimas insonsas e esgares lamuriosos copiados de folhetins radiofónicos.
Vejam quão intensas são as improvisações cénicas, com gestos eloquentemente fátuos de exagero, gritos estridentes de vergonha alguma e prantos de vexame enlameado.
Vejam como se amontoam nos muros da choradeira e alardeiam em danças uníssonas os seus pesares comuns, como insectos a comunicar novos lugares de colheita.
Ah, essas vítimas de culpa alheia que sofrem nos labirintos da comiseração enquanto apontam o indicador em todas as direcções esquecendo-se de observar os outros dedos.
EMANUEL LOMELINO
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