Prezado Luís,
Cinco séculos de voltas ao sol e a melhor forma que os lusófonos encontraram para homenagear quinhentos anos de legado foi discutir tudo menos a importância e originalidade da tua obra.
No meio de tantas vénias literárias (quase todas sem sentido e deslocadas no propósito) só faltou dissertar-se sobre a localização exacta da pala que cobria um dos teus olhos.
Escreveram-se overdoses de fascínio e celebração, sem critério nem estética - pasma-te se não o sabes ainda - ignorando a maestria lírica que desenvolveste.
Lamento informar, mas esta exultação camoniana não é sinal de adoração ao vate, tampouco é sintoma de espírito unitário lusófono. Tudo isto é uma representação fiel das transformações sofridas pela língua e, sobretudo, pela radical mudança de hábitos, costumes e comportamentos, ao longo de quinhentos anos.
Acho que a única característica que sobreviveu à passagem do tempo é esta apetência para a criação consciente de Adamastores, para explicar a dureza das jornadas. Mas é só. A bravura de carácter e a ambição de outrora deixaram de existir a partir do momento em que se extinguiram os mares nunca antes navegados e nasceu o verso livre.
Simplesmente
Emanuel Lomelino
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