Doutor Miguel,
Para começo de conversa, presto-lhe a minha homenagem revelando-lhe nestas linhas (já o fiz em outras circunstâncias, para outra gente) que o primeiro livro que comprei (tinha doze anos) foi o seu “Bichos” e, por causa dele, andei enganado muitos anos, por pensar que o Doutor era, apenas e só, um contista. Rectifiquei a minha assumpção quando, nas minhas deambulações por uma livraria (já não lembro qual), encontrei a caixa com a sua poesia completa, que absorvi como paliativo.
Feito o introito, avancemos para o assunto desta missiva, que é outro.
Quero parabenizá-lo pelo altruísmo e abnegação demonstrados em prol das letras lusófonas, quando convenceu Aleixo a deixar-nos tamanho acervo. Não fosse essa sua atitude e perseverança, a poesia popular do nosso burgo estaria ainda mais pobre do que está.
Por muito simples que lhe pareça, esse seu gesto revelou-se, com o tempo, de uma generosidade sem precedentes que dificilmente alguém poderá igualar. Menos ainda porque, neste tempo em que existo, os analfabetos são de outra estirpe – mais presunçosos e menos assertivos ao nível do pensamento.
Por outro lado, já não é necessária a intervenção de clínicos porque qualquer um, desde que saiba juntar letras, imprime depressões, fobias e transtornos, mesmo que tudo seja expresso em extensas salganhadas de palavras e emoções, cheias de contradições e falta de concordância.
Resignadamente,
Emanuel Lomelino
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