Prezado Mário
Mesmo que os anjos voem de cabeça para baixo, por terem asas nos rabos, não há disformidade alguma que lhes retire o ar celestial e a inocência dos rostos.
E isto porque as divindades são seres de fino humor, tão sarcásticas quanto benevolentes, que usam artifícios forasteiros ao entendimento humano, só para que as tenhamos sempre presentes nos nossos raciocínios falhos.
Elas fazem tudo com hiperbólica premeditação, na certeza de que a razão que nos assiste não é suficientemente astuta para decifrar as teias com que urdem os passos que nos impõem.
Assim, nobre poeta, limitemo-nos a confundi-las com os nossos estros, amputados pelos cornos da criação. Quem sabe, desse modo, consigamos ficar mais perto de receber as nossas próprias asas. Mesmo que colocadas nos rabos.
Impiamente
Emanuel Lomelino
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