quarta-feira, 31 de julho de 2024

A filha do rio (excerto) - Wanda Monteiro

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Depois veio a chuva na memória de tenra idade, lá onde habita a música, a chuva no frêmito das folhas, na palha das palmeiras de buriti, no barro do chão e no barro da telha e no prateado das lanças crivando o rio. A chuva, nas ruas, desenhando seus caminhos de volta ao rio. Meu destino é sempre o rio de escamas, suspenso no ar, a chorar pra molhar a quimera, a garganta liquefeita que murmura sobre essa manhã. A manhã que chega coada nos cílios de paisagem pretérita, de limo aveludado nos igarapés que brotam da terra. Na pele d’água há sempre a face da mãe e seus olhos de vigília, e suas mãos de Penélope tecendo luz em meus cabelos. A mãe, sua imagem a mover-se no espelho da corredeira, onde o antes será sempre o depois, pois que tudo corre ao avesso dessa tarde mim, esse outro modo de espera a fluir por dentro. E tudo que não flui, fica dito no intento do tempo em desinventar-me.

EM - ESSAS MULHERES - COLETÂNIA - IN-FINITA

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