Diário do absurdo e aleatório
304
Passa mais um dia de vento no estendal e os pombos, quais pintores alucinados, pincelam a roupa lavada de fresco com as suas incontinências tão pérfidas quanto certeiras.
Olho o resultado Van Goghiano e penso estar diante de uma metáfora pulsante e tridimensional da existência – talvez a minha, talvez a de muita outra gente.
Recolho aquelas artes abstratas sem saber se devo reciclar o asseio pós-lavagem ou emoldurar tudo para fazer uma exposição, como aquela que vi, na minha adolescência, num jardim de Óbidos, e reclamar para mim a autoria. Não são muito diferentes.
Mas a dúvida é um fragmento temporal que se extingue quando penso no que iria gastar nos caixilhos. Prefiro a exorbitância do detergente – como está caro! – e desafiar a sorte reiniciando o programa de limpeza.
EMANUEL LOMELINO
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso