LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Pela estreita rua descia o rio estridente de alegria, como águas tumultuosas que voltavam a subir contra a corrente encontrando outros gritos, outras correrias e outros abraços, mais eternos do que qualquer uma daquelas crianças poderia imaginar, naquele momento.
Depois, tudo recomeçava, sem haver uma razão plausível para recomeçar. A miudagem nada percebia de lógica e o seu único fito era saborear instantes e arquivar memórias para um futuro que não fazia parte do vai-e-vem por cima do empedrado irregular que agarrava os pés e recebia os tombos de dores prontamente caladas e de lágrimas bem guardadas nas mangas das camisolas e nas costas das mãos para lavar, assim que voltassem a casa.
No entanto, por ali, havia um menino diferente, na maior parte das vezes. Descia a íngreme escada de madeira, com buracos tapados à pressa por onde os ratos, obstinados na sua faina, voltava eu a passar. Assim que a escada terminava, num pequeno patamar de pedra, logo à rua o recebia na corrente barulhenta, intrépida e agitada da rapaziada em constante movimento. Mas, em vez de seguir o rumo daquele caudal, sem azimutes definidos, aquele menino de olhar meigo, algo triste e ausente, encostado à margem esquerda de quem subia a rua, para não ser levado pela enxurrada sem freio que, sem cansaço, não se detinha nem conhecia obstáculos que a detivesse, o menino dirigia os seus passos para quatro portas acima, de postigo aberto para que a luz pudesse fazer-se presente e iluminasse as roupas que se agarravam as mãos de quem tão bem as tratado. O postigo aberto também permitia ver a vida correr fora de casa, da mesma que oferecia a visão de quem trabalhava à luz do dia a quem na rua passasse. Era assim que acontecia tantas e tantas vezes com aquele menino.
EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA
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