LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link
Pousei a “tralha” no alpendre. As chaves, essas, há muito que permaneciam na mão direita, na indecisão de abrir, ou não, aquela porta.
Por detrás da porta, o vazio, o vazio cheio de vivências. O vazio onde imperava a saudade de todos os momentos. O vazio das traquinices dos filhos, da imponência da avó Rosa Maria e do autoritarismo do avô Álvaro. Por detrás daquela porta havia a morte já vivida.
Olhei ao redor… o jardim, outrora florido e bem cuidado pelo velho Augusto, o jardineiro que já habitava aquele espaço desde o tempo em que o avô ainda corria e brincava nele; espaço esse que era agora uma desolação onde imperavam as ervas daninhas. A fonte do anjinho, no meio do lago onde me divertia a olhar os peixes coloridos e brilhantes e me encantava ao ver reflectida a minha sombra, parecia um fantasma de verde vestido. O musgo e o verdete faziam parte da “minha” fonte.
Olhei a minha mão direita… o que fazer com aquelas chaves?! Hesitei, talvez por medo, talvez por saudade, talvez por desilusão, talvez, sei lá porquê.
A minha “tralha” não passava de uma mala velha que outrora tivera marca, a tal etiqueta que agora detesto, pela vaidade que impera ao revelar o nome da marca, mesmo que o conteúdo da marca seja apenas isso mesmo, uma “marca”. Voltando, à minha “tralha”, uma mala cheia de nada, roupa já usada e sem graça, a única que me restava num dos muitos guarda-roupa espalhados pela casa grande onde tinha vivido feliz com Miguel. Nos restantes, apenas existia agora a tristeza de um negro enlutado.
EM - GRINALDA DE EMOÇÕES - MARIA ANTONIETA OLIVEIRA - IN-FINITA
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso