quarta-feira, 18 de agosto de 2021

A casa amarela - ANDREIA BORGES DA SILVA

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Geni sabia que lhe sobravam poucos anos de vida. Isso não lhe assustava ou afligia. Era o decurso natural do tempo.
Sua vida tinha sido tranquila. Poderia resumir para uma boa vida.
Trabalhara como professora. Casara-se com um amor da adolescência e tivera uma filha.
Se alguém lhe perguntasse se havia sido feliz, até poderia dizer que sim. Não que sua vida tivesse sido um mar de rosas, mas também não tinha sido ruim.
Nunca lhe faltara nada material. Seu casamento fora feliz até a morte prematura de seu marido.
Sua filha dera algum trabalho sim. Mas qual o filho que não tira um pouco da paz dos pais?
Estava preparando o almoço para receber sua filha e o genro. Tinha feito uma macarronada com molho pesto. Queria combinar detalhes burocráticos após sua partida. Conversava com naturalidade sobre isso.
– Solange, plantei aqui no quintal um pé de acerola e outro de romã.
Quando eu morrer, você pode vender o imóvel para quitar suas dívidas. E pode deixar as plantinhas para a nova moradora.
– Credo, mãe. A senhora fala de um jeito. E até parece que conhece a pessoa que irá morar aqui.
– Eu sinto que será uma boa moça. Ela cuidará de tudo muito bem.
Um mês após o almoço, Geni faleceu, dormindo.
Solange colocou o imóvel à venda. Ficou alguns meses sem aparecer comprador, por causa da crise financeira que o país atravessava.
Depois de quase um ano, apareceu uma moça muito interessada no imóvel. Ela queria sair do apartamento e morar em uma casa, com mais espaço para ela e seus animais de estimação.
Após algumas semanas, Flávia decidiu-se pela casa amarela.
Ela adorou saber dos pés de acerola e romã. Um dos seus desejos era de que sua nova casa tivesse espaço para um pomar e uma hortinha.
No dia da escritura, Solange lhe falou que Flávia era exatamente como sua mãe descrevera como a futura compradora da casa.
Então, Flávia lhe contou que certa vez uma senhora, muito parecida com a Dona Geni da foto, a abordou na rua e falou para ela cuidar bem de suas plantas.

 EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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