segunda-feira, 30 de junho de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 35 - Emanuel Lomelino

15-06-2024

Não me soprem fábulas aos ouvidos. Não sou vasilhame para guardar o sangue que escorre das vossas línguas bifurcadas. Tampouco serei tanque para lavar roupa suja nem cúmplice para noticiário de pasquins de esquina.

Não me cantem fados do coitadinho. Não sou depósito de letras divorciadas para armazenar os vossos arrufos de vaidade. Tampouco serei prateleira de ninharias frustradas nem varina do diz-que-disse.

Não me recitem sentenças avulsas. Não sou confessionário dos vossos linchamentos de damas ofendidas. Tampouco serei cárcere de lugares-comuns e frases-feitas nem pedra de amolar o veneno dessas facas.

Não me vendam banha-da-cobra. Não sou alguidar para escamar a beligerância fátua pescada no vosso mar de imodéstia. Tampouco serei projector de películas ficcionadas nem amplificador de cortinados virtuais.

Sou apenas um dos alvos da vossa triste existência.

EMANUEL LOMELINO

De todo mal (excerto 4) - Rose Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Marta não se deu conta de que esquecera de seus próprios remédios. Havia tempo que a gastrite se tornara a menor das dores. O controle que fazia da tireoide perdeu-se no tempo. Sofria com esses distúrbios há muitos anos, mas, para ela, nada mais tinha importância. A vida da filha era sua responsabilidade, e pensou merecer todos os castigos pelo que deixara acontecer com Geórgia.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

domingo, 29 de junho de 2025

Epístolas sem retorno 34 - Emanuel Lomelino

John Steinbeck
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John,

Como podemos justificar que a moral consiga sobrepor-se à revolta interior? Acaso nós, que nos chamamos humanos, temos réstia de santidade suficiente para nos darmos a gestos, atitudes e comportamentos beatíficos, sem que o futuro nos outorgue o remorso? Sinto dificuldade em crer nessa hipótese!

Compreendo que a ambição nascida da responsabilidade possa transformar-se em algo hercúleo, majestoso e superior, no entanto, não consigo entender que, num momento de dor extrema, o sentido ético permaneça inviolável e alguém, com o peito dilacerado pela negritude da perda, consiga resistir à tentação – termo discutível – de mandar as convenções à fava e agir no impulso da raiva; da descrença; do inconformismo; da indignação; da morte espiritual.

Não existem neste tempo – teu, meu, e que virá – os Kinos predispostos a devolver o fruto de incontáveis sacrifícios, de ânimo leve, por mais amarga que tenha sido; seja e venha a ser; a perda. Já não há valores que se sobreponham ao ímpeto da morte.

Talvez paradoxal

Emanuel Lomelino

Hoje não! (excerto 2) - Daniele Rangel

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Queria mesmo era reclamar do sol quente, do chefe que só exigia, do trânsito que não saía do lugar, do dia que não acabava, dos filhos que não ficavam quietos, do marido que não colaborava, do dinheiro que nunca sobrava e do despertador que tocava insanamente. Resolveu acordar e, no piscar dos olhos, ainda despertando, pensou: “hoje, eu não quero. Não tô a fim de nada”.

EM - TUDO SOB CONTROLE - DANIELE RANGEL - IN-FINITA

sábado, 28 de junho de 2025

Epístolas sem retorno 33 - Emanuel Lomelino

Ernest Hemingway
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Ernest,

A obsessão é uma armadilha inodora! Nenhum obcecado lhe sente o cheiro nem as manhas. E são tantos os momentos da vida conduzidos ao sabor das obsessões, que fica difícil negar a sua existência, e o quanto nos aprisiona, em qualquer uma das batalhas que travamos dia-a-dia.

Somos obcecados por seguir apenas um caminho, mas dizemos que somos teimosos. Somos obcecados por agir de uma forma específica, mas dizemos que somos perseverantes. Somos obcecados com alguns procedimentos, mas garantimos que somos coerentes. Somos obcecados por atingir determinados objectivos, mas juramos que somos obstinados. Somos obcecados por manter metas fixas, mas dizemos que somos insistentes. Somos obcecados com o sucesso, mas dizemos que somos ambiciosos.

No final, somadas todas as obsessões e medidas as espinhas que trazemos até ao cais da razão, acabamos por descobrir que, por mais adjectivos que usemos para explicá-las, elas nunca deixarão de ser engodos carcerários.

Obcecadamente

Emanuel Lomelino

A biblioteca da Sofia (excerto 6) - Fátima Santos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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O Unicórnio iria distribuir os bilhetes por todos os meninos do Mundo, sem ser visto, como se fosse o Pai Natal, quando deixa os presentes, na chaminé.
Os bonecos aplaudiram, deram umas cambalhotas, felizes por participarem neste projeto genial. O Unicórnio deu mais uma voltinha pelo céu e regressou a mastigar um pedacinho de nuvem, satisfeito por ter um papel muito importante nesta missão.

EM - A BIBLIOTECA DA SOFIA - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Prosas de tédio e fastio 67 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

67

Há muito deixei de ter tempo de sobra. Tampouco tenho réstias a perder. Cada segundo soma-se, e some-se, na urgência dos passos contados, e cantados, como salmos nas procissões de finados.

Entre idas e vindas laboriosas, entretenho-me a esgaçar os ponteiros dos dias, à procura de respostas para as perguntas que me assaltam e sobressaltam, sem abrandar nas encruzilhas para tentar adivinhar o melhor caminho.  Sigo em frente, sem hesitar e elas (perguntas e respostas) que me acompanhem, se tiverem pernas folgadas.

Os anos acumularam-se nos ombros, o sal já escasseia, o sol ainda aquece, a chuva molha, o vento sopra, as ondas desmaiam nas areias da praia, e nada prende mais do que um par de algemas indecisas.

Não tenho tempo a perder, nem quando estou inerte, a tentar descobrir se as cigarras são mesmo preguiçosas ou se o canto que ouvimos provém dos sopradores de folhas que elas usam para limpar os galhos das árvores.

EMANUEL LOMELINO

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Prosas de tédio e fastio 66 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

66

Acho graça aos amoques que determinadas personagens, com a mania das grandezas e acreditando serem detentoras das verdades absolutas, têm amiúde, por dá cá aquela palha, porque sim e porque não, como se a histeria dos seus gritos mudos e absurdos atemorizassem os demais, fazendo-os enfileirar como carneirinhos conduzidos por pastores caninos.

Dá-me graça, e vontade de rir, quando vejo essas matrafonas carnavalescas, trasvestidas de autoridade suprema, a arrotarem postas de pescada, com vozes estridentes, feito varinas a depilarem-se com lâminas rombas, como se a razão as assistisse e sem perceberem o quão ridículos são os motivos da peixeirada.

Dá-me graça, mas sinto pena, dessas vedetas mediáticas que andam sob holofotes, como quem usa chapéu-de-chuva em todas as condições climatéricas, na esperança de serem notadas para não serem esquecidas, conduzidas por egos tão inflados como provincianos barrocos.

Dá-me graça, sobretudo por saber, de cor e salteado, os reais propósitos desses falsos achaques, que nada mais são do que chamarizes para papalvos, distraídos e pombos-correio.

Dá-me graça a vulgaridade de quem se vende excepcional.

EMANUEL LOMELINO

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Prosas de tédio e fastio 65 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

65

Carl Jung alertou para as características viciantes do silêncio e para as consequências que essa adição provoca naqueles que enferma. Concordo que o silêncio vicia e que há efeitos visíveis nos que usam o silêncio como uma forma de estar e entender a vida. No entanto, no desenvolvimento da ideia, tenho de manifestar opinião contrária à tese de Jung.

Para começo de conversa, a minha primeira discordância com o psiquiatra suíço está na catalogação deste estado como sendo uma doença. Talvez por não ser psiquiatra, creio ser abusivo classificar todo e qualquer comportamento, lateral aos convencionalismos, como doença. Chamem-lhe desvio, excentricidade, rebeldia, bizarria, mania, exotismo, capricho, ou qualquer outro substantivo, mas não doença.

Na explicação de Jung, os viciados em silêncio ficam tão deslumbrados com a sensação de paz que tendem a perder interesse na interação com os humanos. Neste ponto creio que a análise foi feita em contramão. Os amantes do silêncio não perdem interesse nas interações por sentirem paz, mas sim, sentem paz, quando estão em silêncio, por terem interagido em demasia. O silêncio acaba por transformar-se no único remédio eficaz para alcançar paz e reverter a toxidade das relações com os outros.

EMANUEL LOMELINO

De todo mal (excerto 3) - Rose Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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No outro dia, Geórgia amanheceu bem pior, febre alta, calafrios, e, para surpresa de Marta, precisou ficar internada daquela vez. Não eram mais novidades as fragilidades na saúde da filha, contudo estava ficando cada vez pior.
Por causa da reincidente pneumonia, ficou mais dias no hospital, sem que houvesse uma regressão considerável de seu quadro.
As febres, fraqueza e a anemia persistentes de Geórgia começaram a intrigar os pediatras que acompanhavam o caso.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

terça-feira, 24 de junho de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 34 - Emanuel Lomelino

12-06-2024

Por estes dias li um texto sobre a “teoria da regressão” (belíssima dissertação sobre a hipocrisia consciente da humanidade) e dei por mim a pensar nos passos atrás que se dão, quando o intuito seria continuar a evoluir.

O domínio do fogo foi evolução. A invenção da roda foi evolução. A sedentarização foi evolução. A escrita foi evolução. Todas as civilizações foram evolução. A revolução industrial foi evolução. A revolução tecnológica é evolução.

O problema, de todos os acontecimentos que permitiram evoluir, é o seu denominador comum – o homem. Um ser que, apesar de ser fruto de um longo processo evolutivo e ter toda a experiência outorgada pela evolução, não só da espécie, mas, sobretudo, do seu próprio mundo, consegue chegar a este momento da existência e permitir-se regredir na essência.

Uns por ganância. Outros por comodismo. Todos por já não poderem ser chamados humanos porque perderam a razão e a humanidade.

EMANUEL LOMELINO

Hoje não! (excerto 1) - Daniele Rangel

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Amanheceu. A luz delicada do sol entrou no quarto quase pedindo licença para aquecer os sonhos daquela mãe que despertava cheia de vitalidade e gratidão. A magia deste começo, no entanto, para por aqui. A mãe desejava um pouco de poesia na vida dela? Férias? Sol na praia? Claro que sim. Quem não? Mas, já que não havia isso para hoje, desejou pelo menos sair do automático.

EM - TUDO SOB CONTROLE - DANIELE RANGEL - IN-FINITA

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Prosas de tédio e fastio 64 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

64

Mirro-me nesta sensação de estar, invariavelmente, a ser sugado até ao tutano, por forças ocultas, que apenas sobrevivem porque lhes resisto, ao não lhes reconhecer mérito nem importância.

É como se o peito centrifugasse o sangue, em brasa, em espirais tresloucadas pela estreiteza das veias, ao mesmo tempo que os pulmões reprimem o ar que quer libertar-se num grito de ferocidade guerreira.

Em simultâneo, a pele enruga-se ao máximo da sua elasticidade, como estivesse a fundir todas as células num único organismo bélico, pronto para explodir sem olhar aos danos colaterais.

As mãos entrelaçam-se no estalar de cada dedo, até que uma dor câmbrica formigue imparável entre as falangetas e os cotovelos.

O suor escorre, tal qual uma enxurrada, por todo o corpo. Acordo. Espirro. Nada demais. Apenas uma constipação por ter este hábito de dormir com a janela aberta.

EMANUEL LOMELINO

A biblioteca da Sofia (excerto 5) - Fátima Santos

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Sentou-se de pernas cruzadas e começou por explicar aos seus ouvintes que a bibliotecária lhe tinha ensinado que os unicórnios são seres imaginários, que já faziam parte de outras histórias muito antigas e mostrou a capa do livro onde estava um bonito cavalo branco que, no centro da cabeça, tinha um pequeno chifre.

EM - A BIBLIOTECA DA SOFIA - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA

domingo, 22 de junho de 2025

Pensamentos literários 34 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

34

Ser adicto à leitura só se revela problemático se não existir a disciplina comportamental necessária, principalmente quando, após um livro, sentimos aquele impulso compulsivo de aprofundar uma temática ou contrapor ideias.

Nesses momentos de euforia literária, é preciso usar toda a força da resolução, e autocontrolo, para impedir-nos de correr à primeira livraria e comprar uma montanha de tomos relacionados com o original.

O mesmo acontece quando ficamos deslumbrados com a escrita de determinado autor e somos impelidos a adquirir, de supetão, todas as suas obras.

Aqueles que sofrem desta enfermidade cultural sabem o quão difícil é resistir aos ímpetos insaciáveis do conhecimento. A melhor forma de combater os sintomas é reler cada obra, pois a releitura sempre nos mostra algo que nos passou despercebido e pode responder a algumas questões, sem ser preciso ler outras abordagens. Outra forma de antídoto consumista é, sempre que possível, procurar antologias, colectâneas ou resumos biográficos, onde possamos estar em contacto com as obras de modo mais superficial, contudo, mais abrangente, porque, no final das contas, não precisamos saber todas as respostas. Muitas vezes basta conhecermos alguns fragmentos para alcançarmos, por nós mesmos, a ideia global.

Tirando isto, a leitura só traz benefícios.

EMANUEL LOMELINO

sábado, 21 de junho de 2025

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 33 - Emanuel Lomelino

10-06-2024

Os abutres não deixam de pairar sobre as cabeças insufladas de modernismo. Fazem voos rasantes, com a desenvoltura de quem confia no anonimato que as suas sombras protegem, e não temem as vozes esclarecidas porque, essas, são minoria.

As ideias passaram a ser raros oásis num deserto, de areias ociosas, cada vez mais extenso e repleto de tendas ocupadas por neodepressivos que ficaram enfermos por escutarem demasiados nãos, e pensam que os pixéis dos ecrãs táteis são ingredientes de medicina alternativa probiótica.

Por este andar, ainda um dia, haveremos de encontrar embalagens de alucinogénios e pachorra-diet nas prateleiras dos supermercados, ao preço de uva-mijona e com a possibilidade de ser paga em suaves prestações de bitcoins, via transferência telepática e sem prescrição médica.

Valha-nos a Santa Imaculada Paciência de origem mandarim. Digo deste modo porque especificar a nacionalidade seria propalar um estereótipo (sentimento que apenas um caucasiano privilegiado, como eu, é capaz de expressar).

EMANUEL LOMELINO

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Epístolas sem retorno 32 - Emanuel Lomelino


Malditas são estas noites brancas onde sobressaem os sonhos interrompidos e impropérios, porque no raiar do dia tudo será exponenciado numa frustração inigualável por viver nesta época em que já não há fugas revoltosas.

Quem dera poder, sem problemas de consciência e isento de responsabilidade, recriar os teus passos de adolescente despreocupado e pegar a estrada rumo a qualquer lugar, que não este.

Ao contrário de ti, não posso simplesmente preparar um farnel com fruta, pão e enchidos, e fazer-me ao caminho, por dias e dias, deixando a vida para trás das costas. Tenho de honrar contratos, pagar contas e amparar uns quantos.

Por conta desta nobreza de carácter, tão inoportuna como castradora, sobra-me a resignação e razões de sobra para lançar, entre dentes (por ser madrugada), mais umas quantas obscenidades. Cada um no seu tempo e com o seu fado.

Tua semente

Emanuel Lomelino

De todo mal (excerto 2) - Rose Pereira

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Puderam, assim, compartilhar de momentos marcantes, felizes, e outros doloridos, como a cirurgia que Geórgia precisou fazer, aos seis anos, para retirada de um nódulo na perna direita. Uma recuperação traumática, devido às lesões no rosto, nas costas e um dente quebrado, decorrentes da queda da maca durante os procedimentos cirúrgicos — segundo informaram os médicos.

EM - ESTAVA ESCRITO - ROSE PEREIRA - IN-FINITA

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Prosas de tédio e fastio 63 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 

63

Mais uma tarde pardacenta a atravessar-se no meu caminho, como se a minha percepção das coisas fosse uma contínua divergência. O sol e a lua nunca deixaram de revezar-se e as nuvens são transição.

Os espelhos não refletem novidades, além de uma ou outra ruga mais acentuada, fruto dos carinhos do tempo e da labuta, e os pintarroxos insistem em ser tema de conversa, tantas vezes quantas eu escrevi sobre a perfeita sensibilidade do nenúfar preferido.

O pão não deixa de ser vida, os iogurtes de frutos vermelhos têm pedaços de morango e amoras, os golfinhos sempre serão mamíferos e a Rosa é mãe de três, avó de quatro, trisavó de outra tripla (por ora), e tem um gato oportunista como um político em campanha eleitoral (depois de satisfeito o seu pedido, vira costas e não quer saber de ninguém).

As horas correm, as tarefas executam-se, as refeições confortam, os cigarros matam, as dores sentem-se, os pensamentos fluem, a mente viaja, e a campainha toca (devem ser os dois livros, da Graça Pires, que encomendei).

Volto já!

EMANUEL LOMELINO

Protesto por cinco minutos (excerto 2) - Daniele Rangel

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Ah, as mães! Como estas desejam, com toda a força de sua alma, cinco minutos no banho. Cinco minutos de silêncio. Cinco minutos fingindo que não existe nada para ser resolvido. Por isso, sugiro: saiam às ruas, levantem cartazes, pintem os rostos e protestem por cinco minutos a favor das mães.

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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Pensamentos literários 33 - Emanuel Lomelino

Pensamentos literários 

33

Olho pela janela aberta ao mundo. Deixo-me seduzir pelos voos intermitentes dos piscos e procuro, entre as gaivotas, alguma que se assemelhe a Fernão Capelo.

Há um desejo de ver piruetas infames e cambalhotas irreverentes, como quem só consegue sentir-se quando deambula entre os precipícios da esquizofrenia e o jazigo frio.

Reduzo o horizonte ao solo espraiado diante de mim e surpreendo-me com um gato sem botas nem florete que usa o seu crédito pessoal de vidas ao desafiar, com mortais cabriolados, dois rafeiros parcos de senso e língua salivante.

Detecto no felino essa fome de liberdade criativa e adrenalina presunçosa que é a ascensão de um espírito aventureiro e vagabundo, como um qualquer Tom Sawyer cansado dos Sid desta vida, sempre prontos a demonstrar a sua originalidade formatada, em palcos carmins sob iluminação lilás.

Regresso ao interior da casa com o intuito de transformar os meus devaneios oculares em algo ligeiramente parecido com literatura, no entanto, fica reforçada a ideia de que, por mais voltas e reviravoltas que dê, as minhas palavras nunca terão a elasticidade das fábulas e serão sempre a representação por extenso da minha inaptidão gímnica.

EMANUEL LOMELINO

A biblioteca da Sofia (excerto 4) - Fátima Santos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A menina achou que a mãe tivera uma ideia fantástica e começou a organizar o espaço com as almofadas e o puf para sentar os seus ouvintes: o bebé que a tia Raquel lhe tinha oferecido, o ursinho que o primo lhe trouxera de Londres, a chinesinha de qipao amarelo com flores azuis, que a avó lhe tinha trazido de Pequim, a boneca angolana de vestido vermelho, que a madrinha lhe tinha oferecido no aniversário, e o Pinóquio, que o pai lhe tinha trazido de Itália.

EM - A BIBLIOTECA DA SOFIA - FÁTIMA SANTOS - IN-FINITA