segunda-feira, 11 de março de 2019

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... LINDEVANIA MARTINS


Agradecemos à autora LINDEVANIA MARTINS a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 – Como você vê o papel da mulher na literatura atual?

As mulheres estão “movendo as estruturas”. Estão questionando a ausência de representação na literatura, questionando os cânones e um  sistema cultural que desqualifica sua produção, lutando por visibilidade e construindo novas narrativas. Isto implica em grande renovação e abertura não só para nós mulheres, mas para todo o corpo social.

2 – Em que medida o universo feminino influencia na hora de escrever?

Só posso falar pela minha experiência pessoal. Creio que o meu ponto de vista é “contaminado” pelo meu gênero e pelo lugar que ocupo no mundo. Só consigo afastar, na minha escrita, o fato de que sou mulher, mediante um esforço que considero não valer a pena. Considero não valer a pena porque esse tem sido o procedimento padrão. O ponto de vista que a literatura adota, o ponto de vista dito  “universal” ou “neutro”, é um ponto de vista masculino. Então, assumir essa voz feminina é marcar minha existência e minha diferença enquanto mulher que escreve.

3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?

Meu mais recente livro de contos, “Zona de Desconforto”, possui contos cujo registro é mais realista. Mas em geral, tento não preocupar com essa questão. Quero atingir algum tipo de liberdade com a minha escrita que a preocupação com esse tema poderia tolher. E quero poder transitar mais, mesclar mais, estar em deslocamento.

4 - Que importância dá aos movimentos de integração da mulher?

Acredito que não existe “a mulher”, mas “muitas mulheres”, com grande diversidade entre si. Por isso os movimentos de integração de mulheres são muito importantes. Há uma diversidade entre as mulheres que é necessário conhecer e respeitar, construindo ao mesmo tempo liberdade e solidariedade. Esses movimentos permitem isso. Mas permitem, principalmente, que se possa construir formas de reação às tentativas de confinar nossa subjetividade, nossa força e nossa produção artística aos espaços estreitos.

5 – O que acredita ser essencial para divulgar a literatura?

Compreender em que mundo estamos e como esse mundo se comunica. Isso implica em fazer uso das tecnologias disponíveis, estabelecer aquilo que se deseja e qual o nosso público, ter parcerias confiáveis, entre outros.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Creio que a escrita nos salva da loucura do mundo. Em um mundo que cada vez mais nos objetifica, creio que a escrita nos devolve um certo tipo de identidade: amparada na liberdade que se exercita na ficção e que nos impede o mergulho em mundo maquinal. O negativo, é que ela também pode nos conduzir a essa mesma loucura. Então, é preciso ter equilíbrio e cuidado.

7 – O que pretende alcançar enquanto autora?

Essa é uma pergunta que já me fiz. Ainda não tenho uma resposta definitiva ou satisfatória. Talvez a minha ambição seja a mesma do menino de Drummond: “soltar a coisa oculta no seu peito”.

8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Um projeto a curto prazo: publicar um livro de poesias reunindo o material que já publiquei em revistas e antologias. Um projeto de longo prazo: publicar um graphic novel. Esse, em especial, é um projeto que me desafia e me anima muito.

9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).

Mariam Pessah é um autora argentina radicada no Brasil. Dona de uma escrita muito singular, ela tem cinco livros publicados e está em processo de finalização de sua nova obra chamada “Grito de Mar”. Estou ansiosa para ler! Sugiro que fiquemos de olho porque vai valer muito a pena!

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

A pergunta eu já me fiz: “E como termina essa história?”.
Já respondi de forma diferente, mas hoje diria que “não sei”. E que estou contente por aceitar certas impossibilidades e incompletudes.


BIOGRAFIA
Lindevania Martins é graduada em Direito com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA). Defensora pública atuando no Núcleo Especializado de Defesa da Mulher e População LGBT. Poeta e contista. Primeiro lugar por duas vezes consecutivas no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, categoria contos. Possui contos e poemas publicados em antologias nacionais e internacionais, bem como revistas. Autora dos livros de contos “Anônimos” (Prefeitura de São Luís, 2003), “Zona de Desconforto” (Ed. Benfazeja, 2018) e “A Outra” (inédito). Escreve nos blogs Catálogo de Indisciplinas e Bookfilia.




1 comentário:

Toca a falar disso