sexta-feira, 22 de junho de 2018

DEZ PERGUNTAS A... TECA MASCARENHAS


Agradecemos à autora TECA MASCARENHAS a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autora e  pessoa?

Sou uma pessoa que escreve; e estas duas dimensões, assim como tantas, inexistem, se dissociadas. Considero toda definição uma redução. 
Tenho um poema que diz:

NADA ME DEFINE
um número não me define
uma letra não me define

um nome não me define
uma palavra não me define
um gênero não me define

uma crença não me define
uma etnia não me define
um gesto não me define

um espaço não me define
um tempo não me define
um corpo não me define

uma alma não me define
um sonho não me define
um sentimento não me define

nada me define
ninguém me define
eu não me defino 
– não ouse me definir

Estes versos estão no meu segundo livro, Meu singular é plural. 
Quero dizer, com eles, também, que minha subjetividade está imersa na pluralidade e que sou parte pulsante do universo atemporal que me abriga. 

2 - O que a inspira?

Disse o poeta romano Terêncio, já no séc. II, a.n.e.: “Nada do que é humano me é estranho”. 
Uma das interpretações mais constantes que esta ideia sugere, é a noção da fraternidade entre a humanidade. Mas, eu ouso ir além neste significado, e certamente não estou sozinha, ao incluir todos os seres existentes em uma concepção de interdependência. 

Assim, sou uma poeta à mercê da vida, como canto nestes versos:

EU VIVO A VIDA À FLOR DA PELE
o nervo exposto
a carne viva

nada existe que não me capture o olhar
sofrimento alegria
nada existe que não me cale à fímbria
paixão nostalgia
nada existe que não me aguilhoe a alma
felicidade agonia

eu vivo a vida que me cumpre
a que eu engendro
e a que me resta
e a tua
e a deles

– eu vivo a nossa vida

3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?

Sou a favor da Liberdade!
Nada poderia expressar-me melhor que os famosos versos do poema “Liberté”, (1942), do grande poeta francês Paul Éluard (contemporâneo e amigo do nosso querido poeta Manuel Bandeira), conhecido como “O poeta da liberdade”; do qual transcrevo o segundo e o último  dos 21 célebres versos, traduzidos por Drummond e Bandeira:

LIBERDADE
(...)
Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
(...)
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade

4 - Que importância dá às antologias e às coletâneas?

Como não poderia deixar de ser, considero as obras coletivas mais uma imprescindível manifestação da pluralidade. Nelas, os autores nos encontramos no mesmo patamar, imbuídos do objetivo comum de fazer amizade com os pares, apresentar o fruto do nosso trabalho, conquistar espaço no universo literário e atrair uma maior diversidade de interessados, contribuindo para a formação de novos leitores, aparentemente cada vez mais escassos, infelizmente. 

5 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

Nos tempos atuais, com a incrível velocidade da informação, as redes sociais configuram-se como um insubstituível veículo. Capaz  de disseminar, em tempo quase real, uma produção, literária, no caso, que de outra maneira demoraria para ser divulgada, atingir um número incomensurável de  leitores e receber imediato retorno. Acrescente-se que, para muitos escritores, elas se constituem na única plataforma para publicar seu trabalho e cativar apreciadores. 
Particularmente, as redes sociais contribuem sobremaneira para a divulgação da minha poética, paralelamente aos meus e-books e aos livros físicos; é através dela que tenho feito amizade com muitos poetas, estabelecido importantes parcerias, divulgado regularmente meus poemas e recebido generosos e gratificantes feedbacks de meus leitores, os quais muito me estimulam a prosseguir nessa caminhada, tão mais feliz quanto menos solitária. 

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Quando escrever constitui-se num imperativo, não há escolha. É escrever ou escrever. 
Não creio que o universo da escrita seja diferente dos demais. Ou seja, estamos expostos às vicissitudes que envolvem esse mister, assim como envolvem a vida de todos nós e todos os misteres, para o bem ou para o mal. 
Viver é estar constantemente à procura de um equilíbrio que é sempre momentâneo, já nos ensinava Aristóteles e o fluxo da vida nos impele a um infindável processo dialético de construção-desconstrução-reconstrução. 

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Para ser exitoso, o trabalho de divulgação de um autor deve ser um processo coletivo, no qual os atores estabeleçam parcerias entre si. Uma boa obra, aliada à uma edição bem elaborada e à uma divulgação bem executado, se não forem garantia de sucesso, certamente serão um excelente prognóstico. 

8 - Quais os projetos pata o futuro?

Meus projetos para o futuro são conjugados no presente: escrevo, divulgo meus versos e, tanto quanto possível, mas ainda não tanto quanto eu gostaria, sensibilizo meus leitores  e toco suas almas. 

9 - Sugira um autor e um livro!

Este pedido foge à capacidade de um escritor. Sou incapaz de limitar-me a indicar uma única obra  e a sintetizar um universo de registro escrito que se faz há milênios. 
Posso, sim,  citar alguns autores que considero relevantes na minha constituição poética, para não mencionar os clássicos, e os filosóficos, responsáveis por minha formação acadêmica. 

Para isso, deixo um fragmento de um poema meu, intitulado 
ARRASTO MEU VÉU DE NOIVA: 
(...)
recolho estrelas-do-mar e gravo em cada uma 
Cecília, Drummond, Sylvia, Pessoa, Adélia, Bandeira, Marina, Vinicius, Bell, Leminski, Cabral, Brecht, Cora, Gullar, Baudelaire, Hilda, Quintana, Neruda, Mia, Clarice, Whitman, Rimbaud, Emily, Florbela, Virginia, Elisabeth, Marianne, Maiakovski
com as cores do arco-íris traço um círculo 
e deito-me no centro
(...)

Enfim,  tão pouca a vida, para tanta beleza... 

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem  e como a responderia?

Qual sua rotina de escrita?

NÃO SOU RIGOROSA
para escrever
nem tenho precisão
não marco encontro com a inspiração
meu verso é que clama 
em chama
me incendeia a qualquer hora
se inflama
e se escreve em mim

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

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